Para tentar conter os danos causados pelo escândalo que atingiu a Caixa Econômica Federal, o governo se apressou em nomear uma mulher à presidência do banco. A até então secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniella Marques, assumirá o cargo com a saída, ontem, de Pedro Guimarães, acusado por funcionárias de assédio sexual. O caso, porém, deve ter novos desdobramentos com a investigação aberta pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) para apurar se a cúpula da instituição acobertou crimes.
O procurador do trabalho Rafael Mondego Figueiredo estabeleceu prazo de 10 dias corridos para que a Caixa se manifeste sobre relatos de que tinha conhecimento da prática de abusos sexuais desde 2019, mas "teria acobertado os fatos", e encaminhe a lista de denúncias "eventualmente apresentadas" contra Guimarães e Celso Leonardo Barbosa, número 2 na hierarquia e vice-presidente de Negócios de Atacado do banco. O MPT requer, ainda, esclarecimentos sobre o desfecho de cada uma das denúncias. O Ministério Público Federal (MPF) também abriu uma apuração sobre o caso.
Em nota divulgada ontem à noite, a Caixa disse repudiar qualquer tipo de assédio e informou que recebeu, por meio de seu canal de denúncias, "relato de casos dessa natureza na instituição". "A investigação corre em sigilo, no âmbito da Corregedoria, motivo pelo qual não era de conhecimento das outras áreas do banco", argumenta.
O comunicado destaca que o canal de denúncias é administrado por órgão externo à instituição, "que garante a transparência, segurança e proteção para denunciantes". "No âmbito da investigação interna que está em andamento, instaurada em maio de 2022, foram realizados contatos com o/a denunciante, que permanece anônimo/a. Foram, ainda, realizadas diligências internas que redundaram em material preliminar, que está em avaliação", destaca. "Portanto, a Corregedoria admitiu a denúncia e deu notícia ao/à denunciante, se colocando à inteira disposição para colher o seu depoimento, mantendo seu anonimato."
As denúncias contra Guimarães foram reveladas na terça-feira. Entre as acusações feitas pelas funcionárias estão insinuações sexuais, toques em partes íntimas delas e até convites para entrar em quarto de hotel com ele.
Defesa
Pouco antes de sua exoneração ser publicada em edição extra do Diário Oficial da União, Guimarães divulgou uma carta na qual se disse inocente. Reclamou que a "avalanche de notícias e informações equivocadas" atingiram a esposa, os dois filhos e o casamento de 18 anos.
Ele enfatizou que "sempre" se empenhou no combate "a toda forma de assédio". "As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal", frisou. "Tenho certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta."
O executivo disse que decidiu pedir demissão para não prejudicar "a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral".
O presidente Jair Bolsonaro (PL) não se manifestou sobre o assunto, mas, segundo o filho 01 dele, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o chefe do Executivo conversou com Guimarães no seguintes termos: "Olha, Pedro, não dá; tão acusando você aí". "E Pedro, de pronto, entendeu, já foi conversar sabendo que isso deveria acontecer", frisou o senador.