Mercosul e União Europeia anunciam conclusão do acordo comercial entre os blocos

Negociado há mais de 20 anos, tratado vai formar uma das maiores áreas de livre comércio do planeta, com 720 milhões de pessoas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os demais chefes de Estado do Mercosul anunciaram, nesta sexta-feira (6), a conclusão das negociações do acordo comercial entre o bloco e a União Europeia. Negociado há mais de 20 anos, o tratado vai formar uma das maiores áreas de livre comércio do planeta, com quase 720 milhões de pessoas, 20% da economia global e 31% das exportações mundiais de bens. Agora, começa a fase do processo de preparação da assinatura.

O anúncio da conclusão do acordo ocorreu pouco antes da 65ª Cúpula dos Chefes de Estados do Mercosul e Estados Associados, em Montevidéu, no Uruguai. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, havia desembarcado na América Latina durante a semana, o que elevou a expectativa de finalização das negociações comerciais.

  
Tratado vai formar uma das maiores áreas de livre comércio do planeta
Ricardo Stuckert/PR/Arquivo
 
 
 

A presidente da Comissão Europeia usou as redes sociais para afirmar que o acordo é uma vitória para a Europa. “30 mil empresas europeias já exportam para o Mercosul. Muitas mais vão seguir [esse caminho]. [O acordo] União Europeia-Mercosul reflete os nossos valores e o nosso compromisso com a ação climática. E nossos padrões de saúde e alimentação permanecem intocáveis”, disse.

Durante coletiva de imprensa, na capital uruguaia, von der Leyen afirmou que os negociadores permitiram tornar a visão comercial “em uma realidade”. “Esse acordo não é apenas uma oportunidade econômica, é uma necessidade política. A União Europeia e o Mercosul criaram uma das maiores alianças de comércio e investimentos que o mundo tenha visto.”

Do lado do Mercosul, o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, ressaltou a importância da unidade. “É muito visível que no Mercosul nem todos tenham a mesma ideologia. É muito visível também que se colocarmos alguns temas na mesa certamente haverá nuances e diferenças. Todos sabemos quão fácil é destruir e quão difícil é construir. A nossa responsabilidade, enquanto presidentes dos nossos países, é justamente deixar de lado o que não une, os desacordos e ficarmos firmes naquilo que nos une”, afirmou.

Além da Bolívia, compõem o Mercosul Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. A Venezuela está suspensa do grupo desde agosto de 2017, em reação ao regime ditatorial de Nicolás Maduro. Com a entrada boliviana, o bloco passa a representar 73% do território da América do Sul (13 milhões de km²), 65% da população do continente, cerca de 300 milhões de pessoas, e 70% do PIB regional (US$ 3,5 trilhões).

O tratado propõe zerar as tarifas para 91% dos produtos exportados pelo Mercosul para a União Europeia e para 95% das exportações do bloco europeu para os sul-americanos. As mudanças seriam feitas ao longo de um período de transição, de 10 a 15 anos, a depender do setor. Também estão previstas a redução de tarifas alfandegárias e o aumento de exportações, especialmente no setor agrícola, no qual o Mercosul tem vantagens competitivas.

A expectativa é que a parceria gere crescimento econômico, investimentos e ampliação de mercado para os países envolvidos, com destaque para o Brasil. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o acordo pode impulsionar o PIB brasileiro em 0,46% até 2040 — equivalente a US$ 9,3 bilhões. Além disso, traria ganhos em investimentos, com aumento de 1,49% no Brasil, superior aos lucros esperados para a União Europeia (0,12%) e outros países do Mercosul (0,41%).

Em nota, o governo brasileiro celebrou o acordo. “Tomando em conta o progresso realizado nas últimas décadas até junho de 2019, o MERCOSUL e a União Europeia engajaram-se, desde 2023, em intenso processo de negociações para ajustar o acordo aos desafios atuais enfrentados nos níveis nacionais, regionais e global. Nos últimos dois anos, as duas partes realizaram sete rodadas de negociações, entre outras reuniões, e comprometeram-se a revisar as matérias relevantes. À luz do progresso alcançado desde 2023, o Acordo de Parceria entre o MERCOSUL e a União Europeia está agora pronto para revisão legal e tradução. Ambos os blocos estão determinados para conduzir tais atividades nos próximos meses, com vistas à futura assinatura do acordo”, afirmou.