Juliana Franklin trabalhava em uma academia em Teresina, mas foi demitida quando deu à luz o segundo filho em 2020, durante a pandemia da Covid-19. Desempregada e com duas crianças para cuidar, a jovem recorreu ao empreendedorismo como mecanismo de sustento.
"Eu comecei a fazer bolos caseiros para vender no condomínio onde moro. Montei meu negócio porque não tinha oferta de emprego e porque não tinha com quem deixar meus filhos", afirmou a jovem ao A10+.
A expansão do empreendedorismo durante esta crise sanitária impressiona. Conforme levantamento da plataforma Yooga, o número de novas empresas cresceu 25,3% entre 2020 e 2022, se comparados aos três anos que antecedem esse período.
Com isso, também despontaram iniciativas para fortalecer os pequenos negócios e fomentar a economia, como as feiras de empreendedorismo. Na capital do Piauí, uma das mais recentes é a Oxente Feirinha, realizada sempre aos domingos pela manhã, na Praça Vilmary, zona leste da cidade.
Lay Mota, uma das idealizadoras do evento, também começou a empreender com fabricação e venda de acessórios durante a pandemia. A jovem de 23 anos destaca que o objetivo é incentivar o trabalho artesanal dos feirantes.
"É uma oportunidade para mostrar ao povo teresinense a beleza e variedade do nosso artesanato, pois praticamente tudo que é vendido aqui é produzido pelos feirantes. Queremos dar visibilidade a essas pessoas", frisou.
Juliana é uma das empreendedoras contempladas com este objetivo da Oxente Feirinha. Em uma pequena mesa, ela coloca os bolos para servir à clientela e divulgar seu negócio.
"Sempre que eu participo da Oxente Feirinha, aumenta o número de seguidores nas redes sociais da empresa e meu trabalho fica mais conhecido. Consigo ganhar dinheiro aqui na feirinha e, por mostrar meus produtos aqui, muita gente encomenda bolos", pontuou.
HISTÓRIA DA FEIRINHA
A primeira edição da Oxente Feirinha aconteceu em setembro de 2023, no bairro São Cristóvão. Trinta empreendedores dos mais diversos setores se inscreveram para participar do evento. A necessidade de impulsionar o empreendedorismo e dar visibilidade às novas pequenas empresas motivou a criação desta empreitada.
"Existem algumas feiras para empreendedores em Teresina que já não estavam mais dando conta de dar chances a outras pessoas. A Oxente é mais uma alternativa para quem quer vender e popularizar seus produtos", disse Lay Mota.
Após sete edições, o evento já conta com a presença de noventa feirantes e está sempre com inscrições abertas para novos participantes. "Nosso objetivo é alcançar a marca de 100 inscritos e expandir cada vez mais esse evento", destacou.
Para se cadastrar, basta preencher o formulário disponível no Instagram @oxentefeirinhathe.
REGIONALISMO, DIVERSIDADE E INCLUSÃO
O regionalismo é a principal marca da Oxente Feirinha. Nas diversas estandes, o visitante encontra referências a características típicas do povo piauiense, como a religiosidade expressa pelas imagens da artesã Wirlanny Virgínia.
Há mais de 20 anos trabalhando com artesanato, a estudante de Arquitetura exerce o ofício com grande satisfação. "Trabalho com arte santeira desde que minha mãe fez uma promessa de presentear pessoas com treze imagens de Nossa Senhora de Fátima. É um negócio movido pela fé", afirmou.
A valorização da cultura piauiense divide espaço com a diversidade, não somente de trabalhos, como também de pessoas. A feira abraça todos os participantes e preza pelo respeito às diferenças.
O empreendedor Lucas Rubim faz parte da comunidade LGBTQIAPN+. Após trabalhar em lojas de confecções durante 18 anos, ele lançou a própria marca de camisas estampadas.
Para o empresário de 42 anos, a representatividade desta população é essencial na Oxente Feirinha.
"Em Teresina, não é tão fácil achar empreendedores que representem essa pluralidade. E a feirinha abre espaço para nós, LGBT's, divulgarmos nossos trabalhos. Não há discriminação aqui", revelou.
POR NECESSIDADE OU OPORTUNIDADE, O IMPORTANTE É EMPREENDER
A diversidade também faz parte das características de cada empreendedor da feirinha. Há jovens, idosos, feirantes com curso superior e diferentes motivações para abrir o próprio negócio.
Assim como Juliana Franklin, André Pereira também deu início ao empreendimento durante a pandemia da Covid-19. O assessor jurídico faz pinturas em cerâmicas e outras telas.
Enquanto ela começou por necessidade, o empreendedor de 33 anos encontrou a oportunidade de exercer uma segunda profissão.
"Sou assessor jurídico durante a semana e aos fins de semana vendo meus produtos nas feirinhas em Teresina.Tudo começou quando pintando telas no período de isolamento social e fui aprimorando as técnicas", destacou.
ACOLHIMENTO AO PÚBLICO E AOS FEIRANTES
A Oxente Feirinha é conhecida por proporcionar entretenimento ao povo teresinense. Pais e mães podem levar os filhos à Praça Vilmary para tomar um sorvete, passear no trenzinho ou apenas contemplar o talento e a criatividade dos artesãos.
Quem é pai ou mãe pet também se sente à vontade no ambiente. É o caso de Nonato Reis, que nunca perdeu uma edição da feirinha junto Gordim, seu cãozinho de estimação. O auxiliar administrativo se tornou o amigo de muitos feirantes e reforça a importância desta iniciativa ao empreendedorismo.
"Eu me sinto à vontade porque aqui é pet friendly e sempre trago o Gordim para passear. A Oxente Feirinha é um dos meus locais favoritos, pois eu faço amizades e apoio o trabalho dessas pessoas. Precisamos dar oportunidades aos pequenos negócios", relatou.
A coordenadora ressalta que acolher bem feirantes e visitantes é o maior diferencial da Oxente Feirinha.
"Nós acolhemos e escutamos cada membro dessa iniciativa. Temos todo o cuidado de encaixar os feirantes para que possam vender os produtos e a gente oferece todo o suporte para se sentirem bem. É um serviço muito humanizado", finalizou.