A delegada Adília Klein, titular da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), explicou à TV Antena 10 que os procedimentos ilegais feitos por falsos veterinários em clínicas clandestinas causavam muito sofrimento aos animais. Os bichos eram submetidos a cirurgias de castração com relaxantes musculares, sem os devidos anestésicos. Por conta disso ficavam imobilizados, mas lidavam com as dores durante todo o processo. Os falsos profissionais foram presos hoje (12) durante a Operação Falso Vet, deflagrada pela Polícia Civil do Piauí.
Maria Ligia, protetora de animais e Denivaldo, funcionário do Centro de Zoonoses de Teresina, foram presos. O policial militar Alexandre Julia Fonseca Santos está foragido. Durante a investigação foi comprovado que os falsos profissionais utilizavam relaxantes musculares potentes para imobilizar os animais, mas sem anestesia, o que fazia com que os bichos passassem pelos procedimentos sentindo dor.
Tortura
Os relaxantes, segundo a delegada, tinham custo mais baixo, comparados aos analgésicos. Além disso, as intervenções eram feitas com materiais não esterilizados e em superfícies improvisadas, como telhas. As cirurgias eram feitas na casa dos falsos veterinários.
"Essas pessoas se passavam por profissionais de medicina veterinária e usavam suas residências para fazer cirurgias e procedimentos cirúrgicos principalmente castrações de animais sem nenhuma regulamentação. Eles utilizavam relaxantes musculares de alta potência onde o animal ficava imobilizado, não conseguia esboçar nenhuma reação, nenhum movimento diante desse medicamento forte. Contudo a dor existia. Então eles eram cirurgiados muitas vezes só com relaxantes musculares e sentiam dor. Esses relaxantes musculares têm um custo mais baixo do que a anestesia. Ou seja maus-tratos e tortura comprovados", destacou.
A10+
Foram resgatados 14 animais em situação de maus-tratos, sendo que dois deles eram recém-operados. Em alguns locais foram encontrados vestígios de procedimentos recentes, como restos biológicos, como testículos e ovários de felinos, e instrumentos cirúrgicos, como fios de nylon usados no lugar de fios absorvíveis. Ampolas, luvas e remédios também foram apreendidos.
Baixo-custo
De acordo com a perita Nhirneyla Marques, a prática atraía tutores de animais por oferecer preços acessíveis, mas após os procedimentos, muitos apresentavam infecções graves. Um deles não resistiu e morreu.
"Eles faziam compra desse material, vacinas, tinha muita seringa, muito material perfurocortante, que eles utilizavam para fazer procedimentos cirúrgicos de forma clandestina. Pelo tanto de material e o tanto de frasco que a gente encontrou lá, tem muita procura", disse.
Locais inadequados
O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Piauí (CRMV-PI), Miguel Cavalcanti, afirmou à reportagem que o conselho acompanha a operação e que vai agir em parceria com o Ministério Público do Público.
"A sociedade pode e deve denunciar. Temos nosso site, o Fala.BR e outros meios para receber essas informações. Quando a denúncia envolve um profissional registrado, tratamos internamente. Se for um falso profissional, repassamos para os órgãos competentes", afirmou.
Presos
Dois indivíduos, identificados por Maria Ligia, protetora de animais e Denivaldo, funcionário do Centro de Zoonoses de Teresina, foram presos até o momento. Um terceiro investigado, Alexandre Julia Fonseca Santos, é policial militar do Maranhão e estudante de medicina veterinária. A casa dele também foi alvo da operação, onde foi encontrado um animal que passa por perícia, além de materiais médicos e cirúrgicos. O suspeito, porém, não estava no local no momento da ação e ainda não foi detido.