A Diretoria de Vigilância em Saúde, da Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina, registrou um caso de encefalite por vírus Oropouche, nessa quinta-feira (08).
De acordo com a FMS, trata-se de um senhor da cidade de Hugo Napoleão, que deu entrada no Hospital de Urgência de Teresina em maio desse ano, com quadro de febre alta, dor de cabeça, desorientação, tremores e movimentos involuntários.
"Mediante a suspeição de encefalite viral, o paciente foi transferido para o Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella (IDTNP), onde foram realizadas as coletas de amostras biológicas para investigação viral. Amostras de sangue, líquido cefalorraquidiano, urina e swab nasal foram encaminhadas pelo IDTNP ao Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Costa Alvarenga que, após análises preliminares, encaminhou-as ao Instituto Evandro Chagas – laboratório de referência nacional do Ministério da Saúde para investigação de arboviroses. Em sequência, o paciente foi transferido para o Hospital Universitário da UFPI para seguimento do comprometimento neurológico observado, de onde recebeu alta com melhora parcial", descreveu a FMS.
O exame confirmatório detectou a presença de anticorpos da classe IgM contra o vírus Oropouche no sangue e no líquido cefalorraquidiano do paciente, por meio do teste ELISA. "Como anticorpos da classe IgM não atravessam a barreira entre o sangue e o tecido nervoso, o exame demonstra que o vírus invadiu o encéfalo e as meninges do indivíduo e lá promoveu a síntese desses anticorpos.", detalhou.
Sobre os estudos
O programa de vigilância das encefalites virais em Teresina tem sido pioneiro em identificar eventos importantes em saúde pública, desde sua implantação, como foi o exemplo do diagnóstico do primeiro caso de encefalite pelo vírus do Nilo Ocidental do Brasil, em 2024. Em 2021, o programa foi capaz de sinalizar precocemente a circulação do vírus Oropouche em região extra-amazônica, por meio da detecção do genoma do vírus no sangue de um paciente com encefalite.
De 2021 até o presente, anticorpos IgM ou o genoma do vírus Oropouche haviam sido detectados no sangue de outros 12 casos de síndromes neurológicas assistidos em Teresina, nas formas de encefalite, mielite, neurite óptica e síndrome de Guillain-Barré. Entretanto, a detecção de anticorpos ou do genoma apenas em sangue, sem detecção no líquido cefalorraquidiano, não consiste em evidência confirmatória e inquestionável de que foi especificamente o vírus Oropouche que comprometeu o sistema nervoso dos pacientes, ao contrário do que ocorre, agora, com o caso em questão.
A partir de estudos realizados durante surtos e epidemias na região amazônica na década de 1980, observou-se que até 4% dos pacientes com febre Oropouche podem sofrer complicações neurológicas caracterizadas como meningite ou encefalite. Entretanto, é inusitada a detecção desse tipo de complicação na região extra-amazônica, em especial ao se considerar que nas últimas décadas são raríssimas as descrições de complicações neurológicas graves ocasionadas pela doença e que estudos recentes apontarem para a possibilidade da infecção levar à morte de adultos por síndrome hemorrágica, bem como à morte fetal, abortamento e anomalias congênitas do sistema nervoso central.