O Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI), administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), realizou uma cirurgia inédita na instituição: a implantação de uma prótese total da articulação temporomandibular (ATM) e parte da mandíbula. A paciente, uma mulher de 30 anos, precisou passar por esse procedimento após a retirada de um tumor benigno raro, mas de comportamento agressivo, conhecido comoameloblastoma, que comprometeu tanto o corpo da mandíbula quanto a articulação com o crânio.
As duas estruturas ósseas são fundamentais para os movimentos relacionados à boca. A ATM conecta a mandíbula ao osso temporal do crânio, permitindo abrir e fechar a boca. Já a mandíbula, o maior osso da face, é essencial para funções como mastigação, fala e sustentação da parte inferior do rosto.
De acordo com o cirurgião bucomaxilofacial do HU-UFPI/Ebserh, Carlos Eduardo Batista, que conduziu o procedimento com sua equipe, a cirurgia representa um marco para a saúde pública no Piauí. “É um procedimento que aconteceu pela primeira vez aqui no HU. A prótese substituiu a articulação temporomandibular e parte da mandíbula para restabelecer de forma definitiva a função mastigatória da paciente”, explicou.
A cirurgia, realizada sob anestesia geral, envolveu a remoção da articulação comprometida e a reconstrução com uma prótese customizada, feita sob medida para a paciente. O material foi produzido fora e adquirido especialmente para esse caso. “Esse tipo de prótese é de difícil aquisição e exige alto nível de experiência da equipe cirúrgica. Nem todos os hospitais universitários do Brasil têm condições de oferecer esse serviço”, explicou o especialista.
A paciente já havia passado por uma cirurgia inicial de remoção do tumor há cerca de cinco anos e, desde então, utilizava um material provisório de fixação. O HU-UFPI foi consultado sobre a possibilidade de realizar a intervenção definitiva e colocou à disposição sua estrutura, equipe especializada e suporte técnico após a prótese ter sido fornecida pelo Estado, União e município por decisão judicial.
“O impacto esperado não é apenas funcional, mas também de qualidade de vida. Com a prótese, a paciente terá um melhor desenvolvimento do sistema estomatognático — conjunto formado por ossos, músculos, nervos e articulações que possibilitam funções vitais como mastigação, deglutição, fala e respiração”, reforça o cirurgião.
Carlos Eduardo Batista destacou, ainda, que o HU-UFPI/Ebserh é referência regional em procedimentos de alta complexidade e que o tratamento de tumores benignos da face, especialmente os de origem odontogênica (derivados dos tecidos que formam os dentes), é feito por cirurgiões bucomaxilofaciais. “Apenas quando se trata de tumores malignos, o atendimento passa a ser integrado com as equipes de cirurgia de cabeça e pescoço e oncologia”.
Além do impacto clínico, o procedimento também reforça o papel do HU-UFPI/Ebserh como centro de formação profissional. O Programa de Residência em Cirurgia Bucomaxilofacial, ativo há quase 15 anos, possibilita que residentes acompanhem cirurgias complexas e raras como essa, ampliando sua experiência prática. “Esse procedimento complementa a formação dos residentes, porque é algo que não se vê com frequência. É um avanço tanto para a paciente quanto para a área de ensino”, destacou o cirurgião.
Sobre o HU-UFPI
O HU-UFPI faz parte da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) desde novembro de 2012. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.