Mães empreendedoras: histórias inspiradoras de dedicação aos filhos e trabalho no Piauí - Geral
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Mães empreendedoras: histórias inspiradoras de dedicação aos filhos e trabalho no Piauí

O A10+ conheceu Luzinete Rocha e Raimunda Teixeira, mulheres que se destacam como mães e empreendedoras


No dia 12 de maio é celebrado no Brasil o Dia das Mães. No Piauí, o A10+ mergulhou nas historias de Luzinete Rocha e Raimunda Teixeira. Ambas têm em comum o empreendedorismo como meio de vida e forma de criar os filhos. O amor e a dedicação a vida profissional e pessoal também entrelaçam a jornada de duas mulheres que atuam diariamente nas zonas Sul e Norte de Teresina. 

Luzinete Rocha e Raimunda Teixeira
arquivo pessoal

   

Mãe e feirante: empreendedorismo e a maternidade 

Luzinete Rocha, 61 anos, é permissionária há 28 anos na Nova Ceasa, mas já acumula longos 50 anos de trabalho no ramo do Hortifrúti. Mãe de Northon e Luma, ela afirma que o tino empreendedor se aflorou ainda na infância quando ajudava os pais em uma banquinha localizada no mesmo lugar do Mercado do Mafuá, atualmente.

 

Luzinete Rocha e os dois filhos
arquivo pessoal

   

"Comecei a ajudar na feira quando criança,  no ano de 1974, vendo meus pais na banquinha deles. Quando me casei, fui montar minha própria barraca para tocar a minha vida. Nós tínhamos barracas onde é hoje o Mercado do Mafuá. Em todo esse tempo, cheguei a trabalhar também com confecção. Eu sempre tive o tino empreendedor, é isso que me motiva, que me dá vida", descreve. 

Segundo dona Luzinete, conciliar a maternidade com o olhar visionário para o empreendedorismo, foi desafiador. Os dois papéis exigiam dedicações e empenhos diferentes para garantir o crescimento do próprio negócio, bem como a formação dos filhos. 

"Foi com a ajuda de Deus mesmo. Tinha que voltar aos trabalhos com menos de 20 dias depois do parto e ia contando com ajudas até que eles passaram a se cuidar sozinhos, e me ajudar também no trabalho", explica.

Nesse processo, ela ressalta que o amor se sobressaiu. Com cautela, ela afirma que explicava aos filhos sobre sua dinâmica de trabalho, as necessidades, e que muitas dessas vivências refletiram na educação deles. "Eles adquiriram muita independência, são autossuficientes e muito trabalhadores. Quando eles falavam da ausência eu sempre dizia que era para garantir o futuro deles, para que eu pudesse dar o sustento a eles. Hoje somos muito mais próximos, nunca é tarde para recomeçar, pois tudo era baseado principalmente no amor por eles", destaca.

Luzinete Rocha em trabalho na Nova Ceasa
arquivo pessoal

   

Em meio a tantos anos de esforço para o trabalho e à maternidade, dona Luzinete revela alguns sonhos, e obtém reconhecimento no empreendedorismo feminino, sendo referência no abastecimento de cidades do Piauí e do Maranhão. Seu filho Northon acompanhou os passos da mãe e ajuda no estabelecimento e Luma, que dentre suas formações, é advogada, também continua contribuindo com as atividades do lugar. 

"São muitos anos de trabalho,  hoje formei família, tenho minhas casas, e minha equipe conta com quatro pessoas, fora outras que nos dão suporte. Eu sonho em digitalizar minha empresa para que ela fique mais organizada. E que eu possa diminuir o ritmo e aproveitar mais minha família, que me ajuda a mantê-la funcionando", conclui. 

Luzinete Rocha recebendo homenagem no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios
arquivo pessoal

   

Mãe e artesã: empreendedorismo no Polo Cerâmico

O ano era 1985. Dona Raimunda Teixeira chegava a região do Polo Cerâmico de Teresina com Ronaldo, seu primeiro filho, na época com 2 anos de idade. O desafio seria guiar a vida carregando tijolos para sustentar a família. Dez anos após chegar a região, o filho Ronaldo cresceu e começava a acompanhar a mãe no que seria futuramente a profissão dos dois.

“A gente tinha alguns barracões, que era tudo coberto de palha, chão batido, onde os artesãos moravam e produziam. Vim morar com o meu filho, meu filho muito pequeno, menos de dois anos. Só que eu trabalhava carregando tijolo. Comecei e passei um bom tempo morando aqui e carregando tijolo. Com o tempo percebi que tinham duas mulheres que pintavam e chamei uma delas para que me desse aulas de pintura. Ela me deu aula em uma tarde e foi ai que comecei no artesanato”, narra.  

Raimunda Teixeira e o filho Ronaldo
arquivo pessoal

   

A mudança de carreira traria a dona Raimunda uma nova perspectiva de vida e presença na vida dos filhos. Cinco anos após o nascimento de Ronaldo, ela deu à luz a Crislene. A nova vida de artesã deu a Raimunda a oportunidade de conciliar a criação e sustento dos dois filhos.

Comecei comprando peças na mão dos artesãos, pintando e vendendo. Com o passar do tempo eu vi que era bem melhor do que carregar tijolo. Consegui conciliar porque a produção era dentro de casa. Então eu dividia meu tempo em deixar filho no colégio, fazer comida. Eu era mãe solteira e depois nasceu a minha segunda filha. Com os dois eu precisava ter uma atividade onde eu pudesse cuidar deles em casa. Então eu entrei no artesanato por causa da renda e outro emprego fora de casa seria difícil porque eu não tinha quem cuidasse dos meninos”, lembra.

Com o crescimento do seu negócio, Raimunda precisou se qualificar. Nos cursos em que participava, os filhos eram presença cativa devido a necessidade. Ela lembra que os dois costumavam ser comportados. Com o tempo, Ronaldo se interessou pela profissão e Raimunda lembra o processo de formação do filho.

“O Ronaldo se identificou com o artesanato desde criança. Ele tinha um expediente que ia para o barracão do compadre Valdir e lá mexia com barro. Naquele período tinha um filme muito famoso, que era o Baby, e as primeiras peças dele foi fazendo o Baby. Ele foi pegando gosto e se identificou muito. Já minha menina mais nova nunca gostou muito. Ela sabe pintar e tudo, mas não se identificou. Hoje ela trabalha em outra área”, narra.

Raimunda Teixeira em entrega de certificados
arquivo pessoal

   

Ainda em 1998 foi criada a Associação dos Artesãos e junto a isso, começaram a vir treinamentos que deram a dona Raimunda e a comunidade uma visão mais profissional do empreendimento. Com o barracão se transformando em loja, Raimunda tinha descoberto um novo amor: a profissão de artesã.

“Eu fui me capacitando. Passei a fazer parte da diretoria da associação, meus colegas conseguiram ver em mim um perfil de liderança e foi uma jornada maior para conciliar o empreender, cuidar de filho e da associação. Mas eu consegui tirar de letra (sorrisos). Porque eu me apaixonei pelo que eu fazia, não foi algo difícil para mim. Quando você consegue gostar do que você faz tudo fica mais fácil. Foi assim como eu me descobri com empreendedora”, conta.

Com perfil de liderança, Raimunda Teixeira esteve à frente da associação por oito anos, somando aprendizado dentro da sua área. Hoje ela é sócia da associação e tem um projeto voltado para o fortalecimento de mulheres dentro do artesanato. Em um desses caminhos, Raimunda conseguiu capacitação, por meio da Fundação Wall Ferraz e do Sebrae, e mobilizou cerca de 28 mulheres da região que não viviam do artesanato e não possuíam renda fixa para adentrarem na profissão de artesã.

Na sua vida pessoal, Raimundo conseguiu criar os filhos e hoje tem três netos. Além de amar a profissão que escolheu, ela lembra o quanto o amor materno a motivou a trilhar o caminho de mãe empreendedora.

Raimunda Teixeira
arquivo pessoal

   

“Hoje meus dois filhos já estão criados, são pai e mãe, hoje eu já sou avó, minha neta mais nova eu cuido porque minha filha trabalha. Como minha casa é em frente ao empreendimento isso não me atrapalha. Foi assim que eu fui reconhecida. Com meu trabalho de artesã e de liderança dentro da associação. Acho que a maioria das artesãs acabam indo para essa área pela questão da maternidade. Você é mãe, você não tem como deixar seu filho, então o melhor é colocar seu empreendimento onde você pode conciliar as duas coisas. Pode dar o carinho de mãe sem se afastar. Busquem uma profissão para conciliar as duas coisas. Cuidar dos filhos, empreender e principalmente fazer aquilo que a gente gosta. Não é porque somos mãe que não podemos trabalhar. Podemos sim. A gente sabe se virar nos 30 [sorrisos] e com certeza a gente concilia muito bem. Me descobri e nunca deixei de dar o amor e cuidado que meus filhos precisavam. Eu consegui. Tanto que hoje meus filhos estão lindos e maravilhosos construindo a família deles”, encerra.

Mais de 55% das empreendedoras são chefes de família no Piauí

A realidade de Luzinete e Raimunda se repete em outros lares: mulheres que também são chefes de domicílio por meio do empreendedorismo.

No ano passado, o Sebrae Piauí divulgou uma pesquisa sobre o perfil dessas mulheres com base nas informações disponibilizadas nos micro dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE.

  

Mais de 55% das mulheres empreendedoras são chefes de família, aponta Sebrae
A10+

   

O Piauí ocupa o 14º lugar no Brasil e o 5º no Nordeste com relação à participação feminina no setor. No 4º trimestre de 2023, o estado contava com 130.240 mil mulheres, o que representa 33,5% do total de empreendedores (incluindo homens).

Desse dado, 55,6% são chefes de domicílio. Os números revelam ainda que 41,9% dessas mulheres dedicam de 14 até 40 horas por semana aos próprios negócios.

  

Horas dedicadas aos negócios se alinham à rotina familiar dessas mulheres empreendedoras
A10+

   

Para atender as demandas do setor no Piauí, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) lança uma série de programações e cursos durante o ano voltada para capacitação do público feminino.

“No Sebrae temos um projeto chamado Sebrae Delas. Ele é aderido pelos estados e no Sebrae Piauí temos diversas ações relacionadas a esse programa. Dentre essas ações, vão surgir palestras e oficinas todas voltadas para o público feminino. Esse ano tivemos o Delas Tech. Que foi um talking falando sobre inteligência artificial para empreendedoras.  A gente também tem um programa que acontece todos os anos que é o Delas Day. É um evento que réune palestrantes nacionais, case de vendedoras aqui da região também com assuntos de finanças, empreendedorismo, entre outras demandas”, explica Maisa Santos, analista do Sebrae Piauí.

Com o avanço do empreendedorismo feminino no estado, mulheres como Luzinete e Raimunda também sentem a necessidade de acompanhar o movimento digital ocorrido nos últimos anos. De acordo com o Sebrae, os curso mais procurados são os da área de marketing, inteligência artificial, tecnologia, e redes sociais. Consultorias gratuitas podem ser acessadas por meio do site do Sebrae Piauí. (clique aqui).

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Fonte: Portal A10+


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