A coordenadora da Associação de Familiares e Amigos de Pessoas Autistas (Prismas), Elisangela de Oliveira, foi a convidada deste domingo (11) do A10cast. Na entrevista, ela compartilhou sua trajetória como mãe atípica e abordou os inúmeros desafios enfrentados por crianças autistas nas escolas, além de sua luta e de outras mães para garantir direitos e inclusão no estado do Piauí.
Elisangela é mãe de dois filhos autistas e sua história é marcada por superações desde o início. Ela contou que descobriu a gravidez aos cinco meses, após ouvir dos médicos que não poderia ter filhos. Com o diagnóstico do filho, ela encontrou forças para lutar, não apenas por ele, mas por tantas outras mães que enfrentam os mesmos desafios.
“Fui do diagnóstico à luta. Eu fui atrás de todo o arcabouço jurídico para que eu pudesse lutar pelo meu filho e, dentro desse arcabouço jurídico, construí a associação Prismas. Chamei várias famílias, amigas minhas que também tinham filhos com deficiência. Hoje, a Prismas é feita não só por mães de filhos autistas, mas também por pais e mães que são atípicos”, contou.
Ela também relatou o processo de luto que muitas mães vivem ao receber o diagnóstico dos filhos. No seu caso, a dor veio acompanhada da esperança e de pequenas conquistas. “O meu filho não gostava de toque. Quando eu recebi o primeiro abraço dele foi maravilhoso. Ele tinha quatro anos. Ele só disse ‘mãe, eu te amo’ aos oito. A maioria das crianças que a gente acompanha não é oralizada, e o maior sonho dessas mães é ouvir a voz do filho ou da filha”, disse.
A realidade de muitas dessas mães, segundo Elisangela, é ainda mais dura. Segundo ela, 67% são mães solo, e não podem contar com o apoio do pai da criança ou mesmo da própria família. “A grande maioria dessas mães não está sendo acolhida, nem pelas famílias nem pelas políticas públicas. Em 2021, em plena pandemia, quase 80% dos casais romperam relações e houve abandono da pensão alimentícia. Homens deixando suas famílias, principalmente, as crianças”, afirmou.
O abandono paterno, somado à ausência de apoio do Estado, agrava uma situação já delicada, ressaltou a coordenadora. “Muitas mães não podem trabalhar porque precisam estar 100% do tempo voltadas aos filhos. E as medicações necessárias muitas vezes não são ofertadas pelas políticas públicas. O acesso ao LOAS está cada vez mais difícil. E esses pais, muitas vezes, nem se fazem presentes para ajudar com medicação ou alimentação”, desabafou.
Elisangela também apontou que, apesar de o Piauí ter algumas leis pioneiras para pessoas com transtorno do espectro autista, como a Lei do Abafador, pleiteada pela Prismas em 2017, a aplicação desses direitos ainda encontra resistência das pessoas. “Meu filho tem hipersensibilidade auditiva e já escutei que isso era frescura. Uma vez, ao usar a carteira de prioridade dele para acessar um parque, um senhor comentou: ‘É muito bonito, essas pessoas com privilégios, só porque autismo virou moda’. Perguntei se era privilégio ver seu filho se bater, morder-se, entrar em crise convulsiva.”
O A10Cast, com Lídia Brito, vai ao ar todo domingo às 9h da manhã na TV Antena 10.