O delegado Charles Pessoa, coordenador do Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), deu mais detalhes sobre as prisões de 28 mulheres que integravam uma espécie de “Recursos Humanos do Crime”, responsável por cadastrar novos integrantes, definir regras e gerenciar informações da facção criminosa PCC. À TV Antena 10, ele destacou que a principal figura do grupo é uma mulher conhecida apenas como “Felina” e um casal que se autodenomina “Monarquia do Crime”. As investigadas foram alvos da Operação Sintonia Feminina, desencadeada pelo Draco na manhã desta quarta-feira (16), no Piauí.
“Mais uma ação em que a gente se depara, infelizmente, com mulheres integrando essa organização criminosa. Ao todo, foram 74 medidas judiciais cumpridas. O processo de investigação iniciou ainda em fevereiro de 2024, aproximadamente um ano e meio. Deflagramos uma operação em Teresina, na zona Sudeste, efetuamos algumas prisões e conseguimos apreender algum conteúdo, materiais que foram analisados e transformados em relatório técnico. Quando analisamos essas informações, identificamos pelo menos 29 pessoas nesse núcleo, conhecido como Sintonia Feminina. Um departamento interno composto, em grande maioria, por mulheres dentro da estrutura do PCC", disse.
As mulheres presas desempenhavam um papel estratégico na organização criminosa. Elas controlavam listas atualizadas de integrantes, gerenciavam as contribuições financeiras mensais dos faccionados e supervisionavam quem estava em dia ou inadimplente com o chamado “caixa” da facção. O delegado Charles Pessoa detalhou que “Felina” estava diretamente envolvida nas atividades do “Tribunal do Crime”. Ela já havia sido presa em outra operação, junto com seu companheiro “Visionário”, por suspeita de envolvimento em homicídios na região de São Raimundo Nonato. Ao sair da prisão, monitorada por tornozeleira eletrônica, transferiu sua atuação para Canto do Buriti, onde voltou a exercer papel de liderança.
“Prisões importantes como a da Felina. Presa em Canto do Buriti. Essa Felina é companheira de um indivíduo de vulgo ‘Visionário’. Esse casal já tinha sido preso em operação deflagrada pela Polícia Civil, por meio do Draco, na cidade de São Raimundo Nonato, envolvendo alguns homicídios, o esquartejamento de uma pessoa. Ela saiu do sistema penitenciário e ficou sendo monitorada por tornozeleira eletrônica, mas não se desvinculou da facção. Pelo contrário, aprimorou as ações delituosas e migrou de cidade, saiu de São Raimundo Nonato e foi para Canto do Buriti”, detalhou.
O casal Felina e Visionário veio do estado de São Paulo para gerenciar uma célula da facção na cidade. Outro alvo da operação foi o chamado “Casal Monarquia do Crime”, de Altos. Os dois controlavam o tráfico de drogas e eram responsáveis por ações de extrema violência, incluindo punições internas do Tribunal do Crime.
“Outro casal preso, conhecido como Casal do Crime, em Altos. A própria companheira se apresentou pra gente como ‘Monarquia do Crime’, um relato trazido por ela mesma. Um casal extremamente violento. O companheiro... a gente teve dificuldade na abordagem, ele tentou fugir e resistiu à prisão, mas conseguimos contê-lo e trazê-lo para a sede do Departamento. Foi até apreendida uma arma de fogo, uma pistola, com esse indivíduo”, disse.
Ainda segundo o delegado, o homem é extremamente violento e suspeito de envolvimento em diversos roubos e no tráfico de drogas na cidade de Altos.
Destaques na facção
Em entrevista, o delegado Charles Pessoa destacou que as mulheres tinham autoridade dentro da facção, sendo responsáveis inclusive por indicar pessoas para cargos de liderança. Elas também orientavam outros membros e verificavam o cumprimento do “código” da organização criminosa.
“A grande maioria dos alvos são mulheres que escolheram trilhar o caminho do crime e começaram a assumir lugares estratégicos dentro desse departamento interno. Inclusive, com poder decisório de indicar outras pessoas para assumir determinadas funções dentro do Tribunal do Crime […] Uma, no decorrer do interrogatório, disse que a função dela era orientar as outras mulheres para ver se elas estavam cumprindo com os códigos da facção […] A maioria delas tinha a função de cooptar outras mulheres e jovens para ingressar no caminho da criminalidade”, detalhou.
Como funcionava os "Recursos Humanos"?
O núcleo era bem estruturado e organizado. Para cumprir as funções designadas, as mulheres realizavam reuniões por videoconferência para alinhar ações. Também utilizavam aplicativos de mensagens e redes sociais para divulgar a ideologia da facção, conforme explicou o delegado.
“Eles faziam reuniões por meio de conferências, utilizando também aplicativos de mensagens, mas interagiam entre eles. Pessoas que tinham relação territorial com Teresina e também com outras regiões como Luís Correia, Parnaíba, Piripiri, Oeiras, Picos, São Raimundo Nonato e Canto do Buriti”, contou. “As redes sociais também eram usadas para divulgar a ideologia da facção”, finalizou Charles Pessoa.