Da modéstia ao luxo milionário: Operação Sem Desconto da Polícia Federal expõe a farra dos carrões comprados com o dinheiro dos aposentados

O salto patrimonial de empresários expõe como o dinheiro de aposentados e pensionistas foi drenado por associações ligadas às fraudes no INSS

A Polícia Federal desvendou um dos capítulos mais escandalosos da Operação Sem Desconto, que investiga o desvio de até R$ 6,3 bilhões em descontos indevidos nos contracheques de aposentados e pensionistas do INSS. O dinheiro, que deveria ir para associações de apoio aos idosos, acabou financiando o luxo de um grupo de jovens empresários e seus familiares — donos de uma frota milionária de carros esportivos.

Na última fase da operação, deflagrada no dia 9 de outubro, o ministro André Mendonça, do STF, autorizou a busca e apreensão de 29 veículos de luxo na Grande São Paulo. Avaliada em R$ 27,7 milhões, a coleção chama atenção não apenas pelo valor, mas pelo contraste com a origem dos recursos.

  

Carros comprados com o dinheiro dos aposentados Divulgação
   

Carros apreendidos pela PF

As entidades apontadas como base do esquema são:

  1. Amar Brasil Clube de Benefícios (Amar Brasil)

  2. Master Prev

  3. Associação Nacional de Defesa dos Direitos dos Aposentados e Pensionistas (ANDAPP)

  4. Associação de Amparo Social ao Aposentado e Pensionista (Asaap)

Juntas, essas quatro associações arrecadaram cerca de R$ 700 milhões apenas com mensalidades descontadas diretamente da aposentadoria de idosos, segundo a PF.

O esquema e os nomes por trás

O grupo era comandado por Américo Monte Junior, Anderson Cordeiro, Felipe Macedo Gomes e Igor Dias Delecrode. Eles contrataram a empresa Soluções Power BI, de Delecrode, para fraudar biometria e assinaturas eletrônicas e assim cadastrar falsos associados sem o consentimento das vítimas.

A Polícia Federal descreve Felipe Gomes como “o principal operador financeiro do grupo”. Antes da ascensão meteórica, ele vivia com patrimônio modesto — possuía apenas um Gol GTS 1993 e um Fiat Linea 2013. Em poucos anos, passou a ostentar roupas de grife, relógios caríssimos e supercarros.

Luxo, fé e política

Em um “testemunho” em uma igreja evangélica de Alphaville, Felipe chegou a atribuir sua fortuna à “mão de Deus”. Doou uma BMW a um pastor — e depois pediu o carro de volta. Além disso, ele manteve relações próximas com dois ex-ministros da Previdência do governo Jair Bolsonaro: José Carlos Oliveira (atual Ahmed Mohamad Oliveira) e Onyx Lorenzoni (PP). Felipe chegou a doar R$ 60 mil à campanha de Onyx ao governo do Rio Grande do Sul, em 2022 — doação legal, segundo a PF, mas que revela suas ambições políticas.