A Polícia Federal concluiu o inquérito sobre o caso conhecido como “Abin paralela”, apresentando um relatório final ao STF que solicita o indiciamento de 35 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro, e o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, além do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa.
Segundo as investigações, uma espécie de organização criminosa foi estruturada dentro da Abin durante o governo Bolsonaro: servidores, policiais e agentes secretos monitoravam adversários políticos, autoridades públicas e jornalistas, utilizando o software israelense FirstMile para rastrear localização de celulares sem ordem judicial — eram feitos cerca de 60 mil acessos entre 2019 e 2023, com picos em 2020, ano de eleições municipais.
De acordo com o relatório, Ramagem conduziu a estrutura paralela ilegal, Carlos Bolsonaro agia como articulador do “gabinete do ódio”, disseminando publicamente informações obtidas irregularmente, e Bolsonaro estava ciente e se beneficiava da espionagem. Ainda consta que integrantes da atual gestão da Abin, como Corrêa e seus diretores, tentaram obstruir a investigação, ocultando computadores e manipulando provas.
ntre os alvos das investigações estão o ministro Alexandre de Moraes, os ministros Barroso, Fux e Toffoli, além dos ex-presidentes da Câmara Arthur Lira e Rodrigo Maia, o senador Renan Calheiros, o ex-deputado Jean Wyllys e o jornalista Glenn Greenwald.
Um dos pontos centrais do caso veio à tona na Operação Última Milha, que flagrou cerca de 30 mil acessos ao FirstMile, sinalizando ampla difusão da prática ilegal ao longo dos governos Bolsonaro e Lula. Outra prova significativa foi o registro de uma reunião, em agosto de 2020, entre Bolsonaro, Ramagem e advogadas de Flávio Bolsonaro, onde se discutia o monitoramento de auditores da Receita e proteção jurídica para o filho do presidente.
A PF classifica o grupo como organização criminosa, apontando crimes como interceptação ilegal de comunicações, espionagem, invasão de dispositivos eletrônicos e obstrução de Justiça painelpolitico.com. Agora, o relatório segue para a PGR, que pode oferecer denúncia ao STF — ação que pode finalizar em processos com graves consequências políticas e legais para os envolvidos.
Investigação em tópicos
1. Organização criminosa na Abin
Ao menos 35 pessoas foram indiciadas, incluindo servidores, policiais, delegados e o atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, por integrar uma rede clandestina dentro da agência
Utilizavam o software FirstMile, adquirido por aproximadamente R$ 5,7 milhões, para monitorar localização de celulares via antenas, sem autorização judicial, entre 2019 e 2023
2. Alvos monitorados
Entre os espionados estavam ministros do STF: Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux
No Legislativo: Arthur Lira, Rodrigo Maia, Kim Kataguiri, Joice Hasselmann, Alessandro Vieira, Omar Aziz, Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues
Também foram alvos: João Doria, servidores do Ibama, auditores da Receita e jornalistas como Mônica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista
3. Papel dos investigados
Jair Bolsonaro sabia do esquema e se beneficiava dele, segundo a PF
Carlos Bolsonaro é apontado como parte do "gabinete do ódio", responsável por divulgar informações colhidas ilegalmente nas redes
Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, teria liderado a implantação do sistema ilegal de espionagem
A atual gestão da Abin, sob Luiz Fernando Corrêa, teria tentado obstruir as investigações, ocultando provas e dificultando diligências .
4. O uso político das informações
O monitoramento visava obter vantagens políticas: foram feitas tentativas de associar ministros a suspeitos de corrupção e produzir dossiês contra auditores da Receita e alvos investigados, para influenciar decisões
A PF classificou a ação como "organização criminosa", cobrindo crimes como espionagem, invasão de sistema, interceptação ilegal e obstrução de Justiça .
5. Avanço da Operação Última Milha
Os mandados contra integrantes do esquema foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito das fake news
Cerca de 30 mil acessos via FirstMile foram identificados em servidores da Abin, sobretudo entre 2019 e 2021
O que vem a seguir
A PF entregou o relatório final à PGR, que decide se oferece denúncia ao STF. A expectativa é que, caso siga em frente, os acusados respondam criminalmente, e o Judiciário avalie a responsabilização penal e civil.