Em mais um episódio de sua retórica inflamada, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou nesta tarde (9) uma carta em que ameaça impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para o mercado norte-americano. A medida, segundo ele, seria uma resposta ao que classificou como “práticas desleais de comércio” e à suposta “censura” imposta a redes sociais americanas pelo Supremo Tribunal Federal.
O tom da carta beira o confronto diplomático. Trump fez declarações agressivas ao classificar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro como uma “vergonha internacional” e uma “caça às bruxas”. Ele também acusou o STF de promover censura a plataformas dos Estados Unidos, mas não apresentou provas ou reconheceu as decisões judiciais que miram a disseminação de desinformação.
No campo econômico, as alegações de Trump também se mostram inconsistentes. Ele afirmou que os Estados Unidos mantêm um “déficit comercial insustentável” com o Brasil, alegando que o país sul-americano impõe tarifas e barreiras injustas. No entanto, os dados oficiais do U.S. Census Bureau mostram que os EUA mantêm superavit com o Brasil em vários anos da última década. Em 2023, por exemplo, os Estados Unidos exportaram cerca de US$ 44 bilhões ao Brasil, enquanto importaram US$ 38 bilhões — o que representa superávit americano de US$ 6 bilhões.
Além disso, é equivocado afirmar que o Brasil impõe barreiras incomuns ao comércio com os Estados Unidos. A relação comercial entre os dois países é marcada por acordos bilaterais, regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e participação em diversos fóruns internacionais que prezam pela reciprocidade. O Brasil, inclusive, abriu setores importantes ao capital americano, como o de petróleo, gás e infraestrutura, especialmente após a Reforma da Previdência e as privatizações dos últimos anos.
Outro ponto controverso da carta de Trump é a tentativa de vincular decisões jurídicas brasileiras, como ações contra fake news, a ataques à “liberdade de expressão dos americanos”. Essa retórica repete argumentos usados por grupos extremistas, ignorando o fato de que a Justiça brasileira age com base em leis locais para preservar a integridade das eleições e combater a desinformação — inclusive ataques golpistas e redes organizadas de fake news, muitas delas com ramificações internacionais.
Por fim, Trump ainda ameaça empresas brasileiras ao dizer que qualquer aumento de tarifas do Brasil será somado aos 50% que pretende impor. A postura é uma clara tentativa de chantagem comercial, que ignora os canais diplomáticos e os instrumentos legais previstos na relação bilateral entre os países.
A carta, mais do que um posicionamento de política externa, parece ter como objetivo inflamar sua base política e alinhar-se a aliados da extrema-direita global, como Bolsonaro. No entanto, ao misturar interesses pessoais, fake news e ataques institucionais, Trump agride não só a diplomacia brasileira, mas também a própria credibilidade das relações internacionais dos Estados Unidos.
Mas, apesar de toda força econômica e muito barulho, a tentativa de chantagear os poderes brasileiros para socorrer Jair Bolsonaro não deverá trazer vantagem alguma. Ao contrário. suas loucuras já levaram políticos alinhados com ele a derrotas, com Pierre Poilievre, que perdeu a eleição, considerada certa, no Canadá após falas de Trump. No caso do ex-Presidente do Brasil, a única ajuda que a carta americana deve levar é a um julgamento ainda mais rápido que pode acabar na prisão do seu aliado.
CONFIRA A CARTA NA ÍNTEGRA
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
Muito obrigado por sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos, sou,
Atenciosamente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA