Nas eleições proporcionais de 2022, os partidos não poderão mais construir as famosas coligações partidárias proporcionais, um modelo que permitia a aliança entre dois ou mais partidos para ampliar suas chances na disputa eleitoral. Este modelo de aliança foi extinto em 2017, após a aprovação das regras da Emenda Constitucional nº 97/2017, que proibiu a formação de coligações para as eleições de vereadores e deputados. Na prática, esta mudança eleitoral tem alterado a dinâmica das eleições estaduais, interferindo diretamente nas estratégias que comumente os partidos adotavam. No caso do Piauí, as lideranças políticas estão se vendo obrigadas a se reorganizarem no jogo político local.Este é o caso do Partido Social Democrático (PSD) e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Atualmente, o PSD possui uma cadeira na Assembleia Legislativa do Piauí (ALEPI), ocupada pelo deputado Georgiano Neto, além deter uma cadeira na Câmara Federal, ocupada pelo deputado Julio César. O MDB, por sua vez, tem cinco representantes na ALEPI: Henrique Pires, João Madison, Pablo Santos, Severo Eulálio e Themístocles Filho (atual presidente da Casa). Já na bancada federal, conta com a representação do emedebista Marco Aurélio Sampaio.
Assim como o PSD alega enfrentar dificuldades para montar uma chapa estadual para a disputa eleitoral de 2022, o MDB, igualmente, estaria com dificuldades para viabilizar sua chapa federal. Com o fim das coligações proporcionais essas dificuldades tornaram-se comuns. Por isso, ambas as siglas estão construindo um novo tipo de aliança, de caráter experimental, na qual os postulantes à Câmara Federal concorrerão pelo PSD e todos aqueles que disputarem vagas na Assembleia Legislativa do Piauí serão filiados ao MDB. Ou seja, de um lado o PSD organizará a chapa federal; do outro, o MDB lançará a chapa estadual.
Foram atribuídos nomes diversos para este acordo experimental: “coligação cruzada”, “fusão cruzada”, “federação Piauí”, “chapão”, dentre outros. Apesar de não haver um nome específico, o fato é que a aliança PSD e MDB está mais adiantada do que nunca. Resta apenas a abertura da janela partidária (de 3 de março a 1 de abril) para iniciarem as migrações dos filiados.
Os articuladores dessa estratégia apostam na criação de um grupo político forte cuja consequência prevista é a construção de uma “super bancada”. Tanto o PSD como o MDB fazem parte da base de apoio do atual governador Wellington Dias (PT). No campo majoritário, os partidos chegarão à seguinte definição: como Wellington Dias disputará uma vaga ao Senado, a vaga da primeira suplência será escolhida pelo PSD. Como sabemos, o partido optou pelo nome de Jussara Lima, esposa do líder pessedista Júlio César. No caso do MDB, o partido ficará com a vaga de vice na chapa majoritária ao governo do Estado que será liderada por Rafael Fonteles (PT). A vaga será então ocupada pelo líder emedebista,Themístocles Filho (MDB).
Confiantes na vitória da chapa majoritária do grupo, a coligação cruzada PSD e MDB tem como objetivos ampliar a representação política das siglas e facilitar a governabilidade do seu possível governador. Mas este casamento de conveniência eleitoral irá, de fato, dar certo? Após as eleições, os políticos que migraram de sigla, permanecerão ou retornarão aos seus partidos de origem? Até que ponto a “coligação cruzada” evidencia a desproporcionalidade entre pequenas e grandes legendas partidárias? Como o diretório nacional do MDB avaliará a possibilidade de o partido ficar sem representação federal no Piauí? Veremos, após as eleições, se esse experimento “made in Piauí” dará certo ou não.