Setut demonstra preocupação com Passe Livre e diz que custos podem chegar a R$ 15 milhões

Em coletiva, sindicato detalha as dificuldades para implementar o projeto em Teresina

O Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (Setut) informou nesta quinta-feira (12), durante coletiva, que foi pego de surpresa com a decisão da prefeitura de implantar o Passe Livre que vai garantir gratuidade para pessoas desempregadas e em situação de vulnerabilidade social. A direção do sindicato demonstrou preocupação acerca dos repasses que a prefeitura ainda tem que fazer.

O vice-presidente do Setut, Marcelino Lopes, afirmou que atualmente a prefeitura tem um déficit de R$ 5 milhões com os consórcios e com a implementação de uma tarifa zero o valor a ser repassado seria quase o dobro, o que preocupa os empresários por falta do repasse inicial. 

De acordo com dados da Strans, o custo mensal para manter o transporte público na capital hoje é de R$ 10 milhões. O sindicato estima que os custos, caso seja aprovado o projeto, podem chegar a R$ 15 milhões. 

  

Marcelino Lopes, vice-presidente do Setut
Jade Araujo/ Portal A10+

   

"A gente recebeu a notícia [da tarifa zero] de forma surpresa, mas a gente entende que é uma notícia importante, que é um passo importante pra tentar-se melhorar o transporte público da capital. A questão maior vocês têm acompanhado nesses últimos dois anos, o sistema de transporte de Teresina tem um déficit mensal em torno de 5 milhões de reais que contratualmente isso precisa ser repassado pela prefeitura para que possa se gerir o sistema, o que não está acontecendo", explicou.

Ele também adiantou que na próxima semana, a prefeitura e os consórcios vão se reunir para definir e acertar as questão sobre como vai funcionar a gratuidade no transporte, que segundo o vice-presidente do Setut deve ser em torno de 15 milhões para garantir o funcionamento do projeto. Marcelino Lopes também detalhou que o aumento da frota de ônibus seria necessário para atender toda a população e que mesmo com a eliminação dos cobradores os custos ainda são altos.

Setut defende aumento da frota de ônibus, se projeto for aprovado

"A nossa preocupação neste momento é de que forma as empresas concessionárias vão ter garantia de que se hoje, com o contrato que foi licitado a gente não consegue receber R$ 5 milhões, a gente estima que o custo do sistema com a tarifa zero, ele vai passar de R$ 15 milhões, porque hoje o custo é R$ 10 milhões, se tirar o cobrador cai para 8,5 milhões, quando cai para R$ 8,5 milhões como a prefeitura tá dizendo, ele esqueceu só de dizer que quando a tarifa do ônibus for zero, todo mundo sabe que hoje devemos tem 12 mil carros piratas, que é o ligeirinho, taxi-lotação, o pirata do moto-taxi, culpa do déficit do transporte coletivo que gerou essa avalanche, então todo esse povo vão deixar de existir, porque ninguém vai deixar de andar de graça para andar pagando e vão migrar tudo para o ônibus, quando migrar essa frota de 220 carros que a gente tá rodando, ela sai para 300, 320 carros. Então o custo de R$ 8,5 vai para R$ 17 milhões", detalhou.

Marcelino Lopes contou que a preocupação, no momento, é como o transporte público vai suportar uma grande demanda se a população tiver o benefício da gratuidade. Ele criticou que a situação é 'caótica'. "A nossa preocupação é como vai ser gerido o transporte nesse formato que o custo vai ser todo da prefeitura. Hoje se sabe que precisa colocar mais carros para atender melhor a população, só não tem é dinheiro. Se hoje a situação está caótica, precisando colocar R$ 5 milhões, como vai ser se a gente tá falando de mais de R$ 10 milhões? [orçamento do projeto]", desabafou.

  

Transporte público em Teresina
Jade Araujo/ Portal A10+

   

O vice-presidente da Setut também questionou o tempo em que a proposta em tese deveria ser implementada e pediu calma para execução do projeto. "Vamos analisar, o prefeito de fortaleza deu entrevista semana passada dizendo que vai passar o ano de 2023 fazendo um  estudo para tentar implantar a partir de janeiro de 2024 a tarifa zero. Como é que Teresina que tem um sistema inferior em tudo ao de Fortal consegue em 20 dias. Nós não somos contra é uma ideia muito boa, agora para se fazer isso é preciso ter carinho, ações, analisar o melhor caminho para todo mundo, a prefeitura, os usuários e nós, os operadores", completou.

Retirada dos cobradores é analisada

De acordo com o vice-presidente da Setut, Marcelino Lopes, existe a proposta da retirada dos cobradores dos ônibus que, segundo ele, deve acontecer ainda em fevereiro. "Vai retirar o cobrador do dia para noite. Precisa ser discutido, é preciso que a gente trate isso com carinho. Tipo assim, será que dá pra aproveitar 20% da mão de obra? Nos terminais como fiscal, alguma coisa. A gente precisa fazer alguma coisa. Eles estão muito preocupados com essa ideia de tirar os cobradores agora em fevereiro", disse.

  

O representante do Consórcio THE, Julio de Sousa Pereira
Jade Araujo/ Portal A10+

  

O líder do Consórcio de empresas de Teresina, Júlio Pereira, relatou que essa retirada dos cobradores, além de afetar os trabalhadores, também traria prejuízos para os empresários por conta das rescisões.

"Tem a parte operacional, porque eu tenho vencimentos praticamente todos os dias. Eu vou tirar o cobrador, para mim, isso dá em torno de R$ 1,7 milhão, só uma empresa. Eu não sei como eu vou pagar o dia 20, cai o passageiro, mas o serviço não diminui, eu ainda estou com a mesma quantidade de funcionários. Imagina como a gente fica preocupado que de uma hora para outra eu vou ter receita zero, então tenho funcionários que tenho que pagar, fornecedores de combustíveis que tenho que pagar antecipado, ou seja, eu preciso de uma garantia", destacou.

Entenda o projeto

A Prefeitura de Teresina confirmou nesta quarta-feira (11), durante coletiva, que irá ampliar o número de pessoas contempladas com a gratuidade no transporte coletivo da capital. A medida, de acordo com o secretário de governo, André Lopes, será feita através da instituição de um “Programa Municipal de Passe Livre” e que, inicialmente, será voltado apenas para pessoas desempregadas e em situação de vulnerabilidade social.

  

André Lopes, secretário de governo
Rayanna Mousinho / TV Antena 10

   

A princípio, o cartão será destinado à quem comprovar situação de vulnerabilidade social. O programa ainda está sendo finalizado e a expectativa é que seja lançado neste primeiro semestre. O secretário de governo André Lopes relatou em entrevista à imprensa que as empresas de ônibus, após o acordo aprovado, serão pagas não mais por passageiro, mas sim por quilômetro rodado.

"A grande mudança é que os contratos sejam por quilômetro rodado, pra empresa que bota o ônibus pra rodar e entra uma ou duas pessoas é irrelevante, agora a gente elimina o problema da empresa de não ter usuários [nos feriados]", explicou Lopes.

O secretário confirmou que os contratos com as empresas de ônibus serão respeitados, mas que haverá mudanças. Ele citou que já houve contato com os empresários sobre a proposta, mas tudo ainda está sendo alinhado. Ainda em coletiva, foi descartado, neste momento, a exclusão de cobradores nos ônibus.