Começam a valer nesta sexta-feira (1º) as tarifas de 50% impostas pelos EUA (Estados Unidos da América) sobre produtos brasileiros. A medida ameaça setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio, a indústria farmacêutica e a de dispositivos médicos. Desde o anúncio do presidente Donald Trump, em 9 de julho, o governo federal, junto ao setor privado, iniciou uma mobilização diplomática para tentar reverter a imposição.
Uma comitiva de oito senadores embarcou nesse sábado para tentar dialogar com empresários e políticos norte-americanos. Carlos Viana (Podemos-MG), um dos parlamentares que compõe o grupo, afirma que uma das estratégias será voltada para o adiamento das tarifas. A viagem ficará restrita a conversas, sem entrar no campo de negociações, conforme ficou acordado entre políticos e o Itamaraty.
Ricardo Stuckert/PR/Reprodução/Instagram/@realdonaldtrump
Desde a criação do comitê pelo governo para discutir sobre os impactos das tarifas, o vice-presidente Geraldo Alckmin — presidente do grupo — se reuniu com mais de 120 líderes empresariais.
Ao todo, foram realizadas 12 reuniões em quatro dias de rodadas oficiais com a presença de executivos de grandes companhias, presidentes de entidades setoriais e dirigentes de federações da indústria. O objetivo dos encontros é colher dados técnicos, alinhar posições e preparar uma reação coordenada do Brasil às medidas protecionistas do governo de Donald Trump.
Alckmin afirmou que diálogos com os Estados Unidos ocorrem “de forma reservada”. Contudo, não informou quem tem comandado as conversas do lado norte-americano. O vice-presidente também não revelou se o governo dos EUA respondeu às tentativas de contato feitas pelo Brasil em busca de negociação.
Guerra tarifária seria arriscada, avaliam especialistas
Para o economista Fabio Ongaro, o Brasil não pode entrar em disputa ideológica e pessoal. O ideal, neste momento, é investir no diálogo.
“O Brasil precisa adotar uma postura de firmeza pragmática: mostrar que tem canais diplomáticos ativos e capacidade de negociação, mas sem escalar retoricamente o conflito”, afirma.
O especialista ressalta que Trump usa tarifas como “parte de sua narrativa política doméstica” e que apresenta baixa disposição para negociação, mas já recuou em ocasiões em que percebeu danos colaterais à indústria.
A economista Carla Beni, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), destaca que o Brasil é internacionalmente reconhecido pela postura aberta ao diálogo.
“Essa é a primeira questão. Mesmo quando falamos da Lei da Reciprocidade, o primeiro patamar da lei é o diálogo. O segundo é acionar os organismos internacionais. Só o terceiro é definir, com o comitê, quais seriam as medidas comerciais — e aí, sim, as retaliações a serem aplicadas”, explicou.