O mercado formal brasileiro apresentou saldo positivo de 148.992 vagas com carteira assinada em maio.
Desse total, 98.003 oportunidades foram preenchidas por jovens entre 18 e 24 anos, enquanto adolescentes com até 17 anos ocuparam outras 26.312, totalizando mais de 83% do saldo do mês.
Os dados são do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e foram divulgados nesta semana pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
O levantamento leva em conta exclusivamente vínculos formais regidos pela CLT e declarados por meio do eSocial.
Durante coletiva à imprensa, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, destacou o avanço nas contratações de jovens no mercado formal. “Isso derruba a ideia de que os jovens não querem ingressar no mercado de trabalho formal”, afirmou.
Apesar do crescimento na participação dessa faixa etária, especialistas alertam para a complexidade do cenário, marcado por sinais de precarização.
Grande parte das vagas abertas está concentrada em ocupações com baixa exigência educacional — o ensino médio completo respondeu por 76% das admissões — e salários próximos ao piso nacional. Em maio, o valor médio de admissão foi de R$ 2.248,71, com recuo real de 0,49% em relação ao mês anterior.
Inserção precoce e vínculos frágeis
Para Hugo Garbe, doutor em economia e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, os dados não representam, necessariamente, uma renovação saudável no perfil do mercado de trabalho.
“Embora esse número possa ser interpretado, de forma superficial, como sinal de rejuvenescimento, uma análise mais aprofundada revela implicações complexas, marcadas por precarização, descompasso entre formação e ocupação, além de segmentação estrutural do emprego”, avalia.
Segundo ele, trabalhadores mais jovens costumam ser priorizados por motivos econômicos: aceitam remunerações inferiores, apresentam menor capacidade de negociação e, frequentemente, são alocados em atividades de alta rotatividade e baixa complexidade técnica.
“A prevalência desse padrão não representa uma inserção qualificada da juventude no mercado, mas sim uma alocação sistemática em funções de baixo valor agregado, com pouca proteção social e escassas oportunidades de crescimento profissional”, acrescenta.
Os dados de maio também revelam predominância de contratações em faixas salariais mais baixas: entre 1 e 1,5 salário mínimo, foram registradas 116.231 admissões. O salário médio de entrada, de R$ 2.248,71, sofreu redução real de 0,49% frente a abril, conforme o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
Outro ponto destacado por Garbe é a motivação por trás dessa entrada precoce no mundo do trabalho. Muitos jovens ingressam não por planejamento estratégico, mas por necessidade financeira.
A recente atualização metodológica da Pnad Contínua, realizada pelo IBGE, trouxe maior clareza sobre o impacto de fatores como a queda na renda das famílias, o crescimento do endividamento e a falta de políticas públicas que promovam uma transição estruturada entre escola e trabalho.
“A juventude tem acessado o mercado não por escolha, mas por urgência econômica, o que frequentemente compromete sua trajetória educacional em nome da subsistência”, ressalta o economista.
Setor de serviços lidera geração de vagas
O setor de serviços foi o principal motor na criação de empregos com carteira assinada em maio, com 70.139 novas posições. Em seguida, vieram comércio (+23.258) e indústria geral (+21.569).
Na análise regional, o Sudeste aparece à frente, com saldo de 74.536 vagas, sendo São Paulo o estado com maior número absoluto de contratações: 33.313 postos.
No acumulado de 2025, o país soma mais de 1 milhão de empregos formais gerados, mantendo trajetória de recuperação, apesar da desaceleração da atividade econômica.
Ausência de políticas estruturadas para jovens
Garbe também alerta para a falta de iniciativas consistentes voltadas à qualificação profissional dos mais jovens. Segundo ele, programas como o Jovem Aprendiz têm alcance limitado e, em muitos casos, são utilizados pelas empresas como alternativa para redução de custos, sem foco efetivo em formação.
“Falta ao Brasil um modelo integrado de educação e trabalho, como o sistema dual praticado na Alemanha, onde há articulação entre empresas, escolas técnicas e universidades. Essa coordenação garante ao jovem uma formação sólida, com base teórica e experiência prática”, explica.
Mesmo quando conseguem ingressar no mercado formal, muitos jovens acabam em setores de baixa produtividade e com poucas perspectivas de desenvolvimento.
“São funções que não proporcionam acúmulo significativo de capital humano e dificultam a construção de trajetórias profissionais sustentáveis”, conclui.