Cada vez mais os autônomos ganham espaço no mercado de trabalho. Conhecidos também como PJs (Pessoa Jurídica), esses trabalhadores atuam como empresas que prestam serviços a outras firmas mediante contratos de prestação de serviços.
Esse tipo de contrato é comum em diversos setores, como representação comercial, corretagem de imóveis, advocacia associada, saúde, artes, tecnologia da informação, entregas por motoboys, entre outros.
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Recentemente, o tema ganhou repercussão, após o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspender todos os processos que tratam da licitude da contratação de trabalhador autônomo ou pessoa jurídica para a prestação de serviços, a chamada “pejotização”.
Entre as diferenças com o regime de trabalho registrado pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) estão os benefícios como férias remuneradas, 13º salário e FGTS, previstos para quem tem carteira assinada. Mas cada modalidade tem suas vantagens e desvantagens.
Antônio Sanches, analista de research da Rico, fez uma simulação que mostra quanto um trabalhador PJ precisaria receber para ter uma base financeira equivalente à de um trabalhador CLT. Veja a análise abaixo:
Quais os benefícios de um CLT
- Férias remuneradas: a pausa anual, além do salário mensal, também prevê 30% a mais.
- 13º salário: o abono natalino equivale a um salário extra que ajuda no final do ano.
- FGTS: Um depósito de 8% do salário mensal, que funciona como uma poupança obrigatória, que pode ser um grande alívio em momentos de necessidade.
Valor anual desses benefícios
O cálculo mostra o impacto desses benefícios em um salário mensal bruto de R$ 2.000. A partir daí, o cálculo mostra o valor anual de cada um:
- Férias Remuneradas: R$ 2.000 * 33% = 660
- 13º Salário: R$ 2.000
- Salário Base anual = 24.000
- FGTS: 12 x R$ 2.000 x 8% = R$ 1.920
- Total de benefícios anuais chega a R$ 4.580,00.
Resultado
Somando esses valores ao salário anual, um trabalhador CLT teria um total de R$ 28.580,00 em recebimentos no ano, resultando em um valor médio mensal de R$ 2.381,67.
Conclusão
Assim, podemos concluir que um trabalhador PJ precisaria receber cerca de 19% a mais para se equiparar a um CLT, considerando apenas esses três benefícios nessa faixa salarial.
Muitos contratos CLT incluem ainda vale-refeição, vale-alimentação, plano de saúde e odontológico, seguro de vida, previdência privada, entre outros. Esses adicionais podem ampliar ainda mais a diferença entre o que seria necessário para um PJ alcançar o mesmo nível de proteção financeira.
No entanto, os impostos podem impactar esse cálculo. Quanto maior a faixa salarial, maior é o imposto retido na fonte do salário do CLT.
Veja abaixo a tabela para a base de cálculo mensal a partir de fevereiro de 2024:
Ao fazer o mesmo cálculo considerando a remuneração média do brasileiro, segundo a Pnad/IBGE de fevereiro de 2025, um CLT que recebe R$ 3.378,00 — com os benefícios mencionados — precisaria receber cerca de 15% a mais como MEI para se equiparar financeiramente.
“Assim, quanto maior o salário mensal, melhor tende a ser o resultado líquido para o trabalhador MEI, que contribui com um valor fixo aproximado de R$ 72,00 de imposto até o limite de R$ 81.000,00 de faturamento anual. Ultrapassando esse valor, a empresa precisa migrar para o regime Simples Nacional, onde a tributação é consideravelmente mais alta”, avalia Sanches.
Planejamento para o PJ
- Optar pelo regime PJ pode oferecer maior flexibilidade e, potencialmente, uma remuneração líquida mais alta. Mas é fundamental ter um planejamento financeiro rigoroso para compensar a ausência dos benefícios garantidos pela CLT.
- Uma maneira de construir uma base sólida é investir de forma consciente e disciplinada: diversificando seus investimentos, reservando uma parte dos rendimentos para imprevistos e até planejando por conta própria suas férias e “13º salário”.
“A liberdade financeira não vem apenas da capacidade de ganhar mais, mas da habilidade de planejar e gerir bem o que se ganha”, conclui o analista da Rico.