(Atualizada às 14h27)
‘Bombinha’, ‘Cawa’, ‘Mata Rindo’, ‘Parronca’ e ‘Lobo Mau’. Estes são alguns nomes entre os 17 presos apontados pela polícia, como pilares das facções Bonde dos 40 e PCC em Teresina. Cada um deles desenvolvia um trabalho organizado dentro do submundo do crime e, de forma orquestrada, faziam parte de toda uma cadeia criminosa envolvendo tráfico, roubo e outros crimes. O A10+ mostra agora quem são e de que forma eles agiam na capital piauiense.
Pelo cronograma da Polícia Civil obtido pela reportagem (veja abaixo), o empresário Valdeci da Silva Lima, conhecido como Brizola, é considerado como líder do Bonde dos 40 na capital. Ele já havia sido preso em junho de 2020 e sofreu duas tentativas de homicídio, uma delas dentro de um hospital em agosto de 2022.
Dentro da estrutura do B40, aparecem mais três nomes como membros: Lobo Mau, Parronca e ‘Leleu’, todos tidos como “disciplina” dentro da facção. Um quarto membro é apontado na organização, tratando-se de Cawa 77. Segundo as investigações, ele é suspeito de fornecer armas tanto para o PCC quanto para o Bonde dos 40, não integrando nenhuma das organizações.
Já na estrutura do PCC, Bombinha, que tem passagens majoritariamente por tráfico de drogas, é um dos membros da diretoria, ao lado de ‘Mama’, tendo como pilares outros 5 indivíduos ‘disciplinas’. Tratam-se de Mateus (disciplina tráfico), ‘Léo Pezão’ (disciplina tráfico), ‘Nego Fernandu’ (disciplina roubo), Ivan (disciplina tráfico) e ‘Mata Rindo’ (disciplina tráfico). Outros 9 investigados aparecem abaixo como ‘soldados’, integrantes do PCC. De acordo com o delegado Samuel Silveira, da 3ª Delegacia Seccional de Teresina, os presos respondem em suma por tráfico de drogas, homicídios e roubo. Foram 26 investigados e 17 já se encontram presos.
“Todos pelo delito de tráfico de drogas, receptação criminosa, roubo. Um detalhe, dos 17 presos, três deles com uma importância muito forte no mundo do crime. O líder de uma facção de origem no estado do Maranhão, o líder de uma facção de origem no estado de São Paulo e um terceiro que linkava as duas por meio do fornecimento de armas artesanais. Então uma pancada forte na criminalidade", afirma o delegado.
As prisões ocorreram na manhã de hoje durante a “Operação 25”, deflagrada na região da Santa Maria da Codipi, zona norte de Teresina. Participaram a 3ª Delegacia Seccional de Teresina, de forma integrada com os policiais do DRACO, FEISP, Polícia Militar e Guarda Municipal.
Especialista em Segurança analisa crescimento das facções e de que forma o governo pode combatê-las
O doutor em Antropologia e especialista em Segurança Pública, Arnaldo Eugênio, conversou com o A10+ sobre o funcionamento das organizações criminosas e como os jovens se inserem nesse contexto. Ele contou que tudo começou como uma forma de proteção dentro dos presídios, mas que o modelo acabou passando para as ruas com outro viés.
“No Brasil, as organizações criminosas surgiram nos presídios, como forma de "proteção" aos presidiários, devido ao abuso de autoridade e negligência com os direitos humanos, fazendo com que grupos de presidiários se reunissem para "lutar" contra as injustiças no cárcere. A partir do momento em que tais grupos passaram a se reunir fora dos presídios, a lógica de "proteção" foi substituída pela conspiração entre pessoas (não necessariamente ex-presidiários), que passaram a se unir com a finalidade de praticar crimes de maneira organizada e hierarquizada”, disse
Eugênio comentou que a maioria dos jovens são atraídos para essas organizações por conta do sentimento de poder e de lucro que elas transparecem em um primeiro momento.
“Muitas pessoas são atraídas pelas facções criminosas através da ilusão de poder e de lucro fácil, estimulando em seus membros a vontade de poder para participarem de disputas por territórios, bem como alimentarem as rivalidades entres membros de outras facções. Estabelecendo uma "guerra de todos contra todos”, explicou.
O especialista explicou que é necessário que o estado atue de forma preventiva, com políticas públicas, para que cada vez menos jovens ingressem em organizações como essas. Ele lembrou ainda que existem diversas camadas em relação às facções e que ela também é composta por pessoas com alto poder aquisitivo e não só de pessoas negligenciadas e à margem da lei, como acredita a maioria das pessoas.
“Onde a ação do Estado deve ser intersetorizada, por um lado com investigação e repressão e, por outro lado, construir e implementar políticas públicas de prevenção, principalmente nas áreas com pessoas mais vulneráveis. Porém, ressalte-se que, as facções não são organizações criminosas formadas, exclusivamente, de pobres. E cada uma tem a sua lógica própria de se organizar e de ação no mercado do crime”, finalizou.