"João de Deus do futebol": como líder religioso e treinador de futebol usou da sua influência para abusar sexualmente de jovens no Piauí

As vítimas passavam por um momento a sós com o indivíduo, onde aconteciam os atos libidinosos sob a justificativa de encontrar purificação

“Manipulador e muito bem articulado”, destacou a delegada Rafaela Bezerra sobre a personalidade de Nathan Ribeiro, de 30 anos, preso durante a Operação Jogo Profano. Segundo a polícia, o homem é suspeito de cometer crimes sexuais contra jovens no litoral do Piauí. Até o momento, foram identificadas 12 vítimas, sendo três delas menores de idade. Segundo a delegada, o indivíduo tinha uma forte influência entre os jovens que o viam como uma figura paterna. 

As investigações iniciaram após uma denúncia anônima e apontaram que o treinador e agenciador de jogadores de futebol teria praticado de forma reiterada e premeditada atos libidinosos e relações sexuais com meninos que tinham sonho de ser jogadores. Os crimes teriam iniciado há quase 10 anos, quando ele atuava como líder religioso. 

 

Saiba quem é o líder religioso e treinador de futebol preso por suspeita de crimes sexuais contra jovens no litoral do Piauí Reprodução

   

A delegada detalhou que antes de migrar para o futebol, Nathan fazia parte de uma célula de jovens em uma igreja evangélica e usava sua posição para manipular os jovens. Lá, os jovens passavam por um momento a sós com o indivíduo, onde aconteciam os atos libidinosos sob a justificativa de encontrar purificação. Bezerra destacou que ele era uma espécie de 'João de Deus do Futebol'.

“Ele é uma pessoa extremamente manipuladora, foi uma coisa que escutou de 12 das 12 vítimas. Ele se apresentava para os meninos como pai espiritual. Um João de Deus do futebol. Porque as coisas que ele dizia fazia os meninos acreditar que aquilo era normal, que era daquela forma que eles iam encontrar purificação, quando era pra igreja, quando era pro outro lado ele dizia: que ele iria melhorar no futebol, pra destravar o futebol. Para melhorar no futebol eles tinham que ter esse tipo de intimidade com ele”, destacou. 

Ela ainda aponta que ele se aproximava de jovens disfuncionais e ganhava a confiança deles. Chegando a ser visto como ‘pai’. “O modus Operandi dele era se utilizar de todas as vítimas. Uma coisa muito interessante porque todas as vítimas tinham três coisas em comum: a paternidade, a maioria deles ou o pai nunca foi presente na vida deles ou são pais omissos. Entre 12 vítimas, pelo menos nove tinham esse fator. Inclusive, os meninos chamavam ele de pai e pediam a benção pra ele, mesmo após tudo isso”, contou. 


Após abandonar a igreja, o indivíduo passou a ter presença maior no esporte, onde atuava como agenciador e treinador de futebol e alimentava os sonhos dos adolescentes de se tornarem jogadores de futebol profissional. Alguns teriam, inclusive, conseguido vagas para jogar em times fora do estado, o que contribuiu para que o investigado ganhasse a confiança dos pais e dos próprios jovens. A delegada disse que mesmo os jovens que atuavam fora do estado eram abusados por Nathan, que pedia chamadas de vídeo e fotos. 

“Ele mandava os meninos pra fora e fazia vídeo chamada com eles para que eles se mostrassem. A gente está falando de uma pessoa que entrou na cabeça de um adolescentes e fizeram eles acreditar que isso era uma conduta normal. O fato dele ser muito ligado à igreja, encontramos até uma bíblia do lado da cama dele, era uma pessoa que tinha um vasto conhecimento. Ele era pastor, tinha uma licença de pastor e sabia muito bem e articular”, finalizou. 

A prisão foi realizada nesta segunda-feira (12), na cidade de Parnaíba. Ele deve responder por crimes de violação sexual mediante fraude (art. 215 do Código Penal) e importunação sexual (art. 215-A do Código Penal)