Gleisi deve ser ‘negociadora’ com ‘poder de decisão’ à frente de ministério, dizem parlamentares

Congressistas preferiam nome ao centro, mas avaliam que Gleisi terá boa relação com o parlamento

Após o anúncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), será a nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais, pasta responsável pela articulação com o Congresso Nacional, parlamentares avaliaram que ela terá uma boa relação com o Legislativo.

Apesar disso, congressistas ouvidos pelo R7 ponderaram que o nome da deputada “não era o esperado” pelo centrão, que aguardava o anúncio de uma pessoa mais ligada ao bloco.

  
Gleisi deve ser ‘negociadora’ com ‘poder de decisão’ à frente de ministério, dizem parlamentares Joédson Alves/Agência Brasil
 
 
 

Gleisi, que deve assumir o posto em 10 de março, chega para ocupar o lugar de Alexandre Padilha, nomeado por Lula para comandar o Ministério da Saúde, após o presidente demitir Nísia Trindade. Padilha era alvo de críticas no Congresso, mas o centrão, ainda assim, o classifica como de “fino trato”.

A deputada volta ao posto de ministra no Palácio do Planalto 11 anos depois de comandar a Casa Civil, sob o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Ela é considerada uma aliada fiel de Lula, sendo de uma ala mais à esquerda do PT.

A petista já foi senadora e foi eleita presidente do PT em 2017, estando à frente da legenda nos períodos considerados mais difíceis, como na prisão de Lula no auge da Operação Lava Jato. No governo Lula três, Gleisi enfrentou desgastes com a bancada do PT em virtude de posições mais à esquerda, principalmente na ala econômica. Ela, contudo, é considerada um nome muito próximo de Lula, podendo, às vezes, externar o que o presidente pensa, mas não verbaliza.

Ao R7, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) disse esperar que Gleisi “venha para somar”, pois considera que ela tem capacidade para comandar o ministério. “Não será fácil substituir Padilha, uma pessoa de fino trato”, avalia.

Coronel opina que o comando da pasta tem que ser de alguém “da extrema confiança do presidente” e que, por isso, Lula teria escolhido um nome ligado ao PT.

Líder do Republicanos na Câmara dos Deputados, Gilberto Abramo (MG) destacou ao R7 que Gleisi “tem poder de decisão” e “autonomia” para firmar acordos que serão cumpridos com o Congresso.

Apesar de reconhecer o perfil mais combativo de Gleisi no comando do PT, ele considerou que a nova ministra deve ser mais negociadora e ter mais diálogo ao assumir o posto.

O deputado federal Isnaldo Bulhões (MDB-AL), líder do MDB na Câmara, relatou ao R7 que a nova ministra tem boa relação com ele e a considera uma “boa escolha”.

Centrão esperava comandar ministério

A dança nas cadeiras ministerial ocorre porque o governo deseja melhorar o trato com o Congresso. Assim, o centrão, que já faz parte do governo Lula, esperava mais espaço nas mudanças, principalmente porque os ministérios mais visados, considerados de primeiro escalão, estão sob gestão de pessoas do PT.

Mas a ação de Lula, por um lado, frustra as expectativas do bloco. “Todos os parlamentares esperavam que o governo conseguisse um deputado que não fosse do PT. Ou até se fosse do PT, um melhor articulador dentro do Congresso seria o [o líder do governo na Câmara, José] Guimarães”, disse um parlamentar ao R7 sob reserva.

Essa ala do centrão se vê preocupada com a coordenação de Gleisi na pauta econômica do governo. Eles consideram que ela sempre se mostrou “contra” a política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Apesar de ter criticado Padilha no comando das Relações Institucionais, o centrão considera o perfil dele mais negociador e receptivo do que o de Gleisi. “Às vezes, as coisas não fluíam, não andavam, mas o ministro sempre teve um bom relacionamento com o centrão”, afirmou um deputado.

A ala esperava que Lula colocasse uma pessoa de “mais articulação” e de mais “trânsito” com o parlamento para abrir mais espaço para os demais partidos.

Presidentes da Câmara e do Senado cumprimentam Gleisi, mas oposição critica

Poucos minutos após a confirmação da nova ministra, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), divulgaram mensagens com desejo de sucesso à nova ministra.

De outro lado, os líderes da oposição na Câmara e do Senado criticaram a decisão de Lula. O deputado Zucco (PL-RS), afirmou que a indicação é um “sinal preocupante” e indagou a trajetória política de Gleisi como um ponto que pode prejudicar as negociações no Congresso.

O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), por sua vez, limitou a classificar a escolha de Lula como um “erro”.