Liderança política e Governo do Ceará: entenda o conflito entre Michelle e os filhos de Bolsonaro

Segundo aliados, embate impacta no papel a ser desempenhado pela ex-primeira dama em 2026

Uma fala de Michelle Bolsonaro estremeceu a relação entre a ex-primeira dama, seus enteados e lideranças do PL (Partido Liberal). No último domingo (30), durante um evento em Fortaleza, a presidente do PL Mulher criticou a aproximação da sigla com o tucano Ciro Gomes para as eleições de 2026.

Desde a condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e três meses em regime fechado por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes, há uma lacuna dentro da família quanto à figura que buscará herdar o legado do ex-presidente.

  
Liderança política e Governo do Ceará: entenda o conflito entre Michelle e os filhos de Bolsonaro Divulgação/PL
 
 
 

Apesar de os filhos de Bolsonaro já terem pedido desculpas à madrasta, o recente desentendimento se soma a uma série de conflitos que escancararam uma disputa nos bastidores pelo capital político do ex-presidente.

Confira abaixo a linha do tempo que culminou no novo conflito:

Aliança com Ciro

Em maio de 2025, Ciro Gomes (PSDB) se reuniu na Assembleia Legislativa do Ceará com lideranças bolsonaristas do PL, do União Brasil e do Progressistas para firmar uma aliança contra o atual governador cearense, Elmano de Freitas (PT), nas eleições que se aproximam.

Na ocasião, Ciro declarou voto em Alcides Fernandes (PL) para senador. O deputado estadual é pai do deputado federal André Fernandes (PL), presidente da sigla no Ceará e um dos principais locutores de Bolsonaro na Câmara.

Em retorno, André Fernandes afirmou ter o aval de Jair Bolsonaro para fazer com que o PL apoie a candidatura de Ciro ao Governo do Ceará, em oposição tanto ao petista quanto ao ex-governador Roberto Cláudio (PDT).

Divergência de Michelle

No último domingo, Michelle viajou a Fortaleza para participar do evento de lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) ao Governo do Ceará.

Já divergindo do partido em razão do apoio, a ex-primeira dama criticou as articulações de seus companheiros do PL para montar a chapa unificada com Ciro Gomes.

Segundo ela, o tucano possui “uma essência de esquerda”. Michelle o acusou de ser opositor Bolsonaro, citando os casos em que Ciro se posicionou contra o ex-presidente e a família dele.

Reações de aliados

Membros do PL, incluindo os próprios enteados de Michelle, avaliaram a fala como um confronto direto às decisões de Bolsonaro, que já havia dado carta branca para uma aproximação com Ciro Gomes, de acordo com André Fernandes.

Fernandes, que foi responsável pela articulação, respondeu à fala de Michelle ainda no domingo:

“A esposa do ex-presidente Bolsonaro vem e tenta chegar aqui e dizer que a gente fez uma movimentação errada, sendo que o próprio presidente Bolsonaro, no dia 29 de maio, com parlamentares, pediu para a gente ligar para Ciro Gomes no viva-voz. Ficou acertado que nós apoiaríamos Ciro Gomes”, afirmou à imprensa.

Filho mais velho e o primeiro do clã Bolsonaro a se pronunciar, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse em entrevista que Michelle, na situação, agiu de forma “autoritária e constrangedora” para com Fernandes, e que ela teria “atropelado” o próprio marido.

Fortalecendo o coro, os irmãos reafirmaram o que foi dito por Flávio. O vereador Carlos Bolsonaro escreveu em sua conta no X: “Meu irmão Flávio Bolsonaro está certo e temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças!”.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) repostou a publicação de Carlos e acrescentou: “Meu irmão Flávio Bolsonaro está correto. Foi injusto e desrespeitoso com o André Fernandes o que foi feito no evento. Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo, foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer o líder”, afirmou.

Jair Renan, o filho mais novo de Bolsonaro, não se manifestou, mas republicou o texto escrito por Carlos.

Repercussões internas

Flávio Bolsonaro mudou o tom após visitar o pai na superintendência da Polícia Federal, em Brasília, nessa terça-feira (2). Garantindo que a situação “não vai se repetir”, o senador contou ter pedido desculpas à madrasta e que ela teria retornado o gesto.

“Falei pra ele [Jair Bolsonaro] que já me resolvi com a Michelle, pedi desculpas a ela, ela também. A gente vai ter uma reunião hoje [terça] no PL pra gente criar, na verdade, uma rotina de tomar as decisões em conjunto.”

Michelle não tardou a responder os comentários em sua própria rede social. Em nota, afirmou respeitar a opinião dos enteados, mas que “pensa diferente” e deve ter o direito de expressar suas divergências, indicando que não mudará sua posição quanto à disputa pelo governo cearense.

Depois da reunião mencionada por Flávio, o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), afirmou que o PL decidiu “dar uma pausa” nas tratativas de apoio a Ciro Gomes no Ceará.

“Temporariamente nós vamos paralisar um pouco essas negociações, e o deputado André tem a nossa confiança para buscar um projeto dentro do Ceará que permita que nós possamos tirar o PT do poder”, disse Marinho.