O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar nesta quinta-feira (17) o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O petista pediu novamente respeito ao norte-americano, afirmou que a carta de Trump (leia mais abaixo) foi “desrespeitosa” e declarou que não aceitará ordens de “um gringo”.
“Quando o cara truca [jogo de baralho], a gente tem que escolher, eu corro ou eu grito seis na orelha dele”, comparou.
“Eu estou jogando. O Brasil gosta de negociação, respeita negociação, dialogo, não tem contencioso com nenhum país do mundo, mas um cara, que nasceu em Caetés (PE), chegou em São Paulo com 7 anos, comeu pão pela primeira vez com 7 anos, sobreviveu criado por uma mãe com 8 filhos e chegou à presidência da República, não é um gringo que vai dar ordem a este presidente”, declarou Lula, em evento da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Goiânia (GO).
Na semana passada, o presidente dos EUA informou que vai taxar em 50% todos os produtos brasileiros comprados pelo país.
A medida, segundo Trump, é em resposta a uma suposta “censura” praticada pelo Brasil contra empresas norte-americanas e em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — que é, nas palavras do republicano, vítima de uma “caça às bruxas”.
Após o anúncio de Trump, Lula determinou a criação de um comitê interministerial para discutir a tarifa.
O grupo de trabalho é chefiado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, também reúne empresários e o setor produtivo.
O trabalho do governo federal busca reverter a taxação de Trump — desde a última terça (15), Alckmin tem se reunido com os setores produtivos impactados, além de representantes do agronegócio e empresas norte-americanas.
“Eu nasci aprendendo a fazer negociação. Tenho certeza que o presidente americano jamais negociou 10% do que eu negociei na minha vida, jamais. Então, se tem uma coisa que eu sei na vida é negociar. E é por isso que Brasil é defensor do multilateralismo”, destacou, ao afirmar que a carta de Trump foi “desrespeitosa”.
“E nos intimando. A carta não fala em negociação. A carta é ‘ou dá ou desce’”, criticou Lula.
Apesar do esforço, a gestão do petista não descarta aplicar a Lei da Reciprocidade, recém-aprovada pelo Congresso Nacional e regulamentada por decreto de Lula nesta semana.
O Executivo também cogita acionar a OMC (Organização Mundia do Comércio), da qual Brasil e EUA fazem parte.
“Estamos com muita tranquilidade. Meu vice e o ministro das Relações Exteriores [Mauro Vieira] estão negociando há mais de dois meses. Nada é conseguido na marra, mas tudo é conseguido numa boa conversa, numa boa disputa de conhecimento. Vamos responder da forma mais civilizada possível e da forma que um democrata responde”, acrescentou.
Tarifa de Trump
Em carta, enviada nominalmente a Lula na semana passada, Trump anunciou que, a partir de 1º de agosto, vai taxar em 50% todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos.
O texto foi publicado no portal do presidente norte-americano.
Segundo o republicano, a medida é uma resposta direta a supostos ataques do Brasil à liberdade de expressão de empresas norte-americanas e à forma como o país tem tratado Bolsonaro.
Além de inelegível até 2030, o ex-presidente é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.
Para o líder norte-americano, o julgamento e as investigações que envolvem o ex-presidente brasileiro configurariam uma “caça às bruxas” que deveria “terminar imediatamente”.