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(Atualizada às 11h45)
A arqueóloga Niède Guidon, uma das mais importantes pesquisadoras da história brasileira, faleceu, aos 92 anos, na madrugada desta quarta-feira (04) em São Raimundo Nonato, interior do Piauí. A causa da morte não foi divulgada.
Em nota, o Museu da Natureza destacou a grandiosa trajetória de Niède por dedicar sua vida ao estudo da região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde liderou escavações que mudaram o entendimento sobre a presença humana nas Américas.
Léo Ramos Chaves/ Revista Pesquisa Fapesp
“Niéde foi pioneira ao defender, com base em evidências arqueológicas, que o povoamento do continente americano teria ocorrido há mais de 50 mil anos — muito antes do que se acreditava até então. Suas descobertas causaram debates acalorados na comunidade científica e colocaram o Brasil no centro das discussões sobre a pré-história das Américas”, escreveu.
O velório será realizado no auditório do Museu do Homem Americano, localizado em São Raimundo Nonato, no Sul do Piauí. A homenagem de despedida a Niède terá início às 15h desta quarta-feira e se estenderá até a meia-noite de quinta-feira (5).
O sepultamento está previsto para ocorrer na quinta-feira, no quintal de sua residência, situada nos fundos do museu. Essa etapa será reservada exclusivamente para familiares e amigos próximos.
A trajetória de uma mulher que marcou a história do Piauí
Niède Guidon nasceu em 12 de março de 1933, no município de Jaú, interior do estado de São Paulo. Filha de pai francês e mãe brasileira, a arqueóloga tinha dupla nacionalidade, tanto a francesa quanto brasileira.
Tinha formação em História pela Universidade de São Paulo (1959), com especialização em Arqueologia Pré-histórica e ênfase em arte rupestre, na Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne (1961-1962). Ela obteve o seu doutorado em Pré-história, no ano de 1975, com a tese intitulada Les peintures rupestres de Varzea Grande, Piauí, Brésil, sob a orientação de André Leroi-Gourhan.
Reprodução/ Gov.BR
Veja a nota na íntegra
Faleceu na madrugada desta quarta-feira (4), aos 92 anos, a arqueóloga Niéde Guidon, uma das mais importantes pesquisadoras da história brasileira.
Reconhecida internacionalmente, ela dedicou sua vida ao estudo da região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde liderou escavações que mudaram o entendimento sobre a presença humana nas Américas.
Niéde foi pioneira ao defender, com base em evidências arqueológicas, que o povoamento do continente americano teria ocorrido há mais de 50 mil anos — muito antes do que se acreditava até então. Suas descobertas causaram debates acalorados na comunidade científica e colocaram o Brasil no centro das discussões sobre a pré-história das Américas.
Mais do que uma cientista, Niéde foi uma incansável defensora da preservação do patrimônio cultural e natural do país. Fundou o Museu do Homem Americano e foi responsável por transformar a região da Serra da Capivara de São Raimundo Nonato em um dos mais relevantes sítios arqueológicos do mundo. Lutou, por décadas junto a sua equipe, para garantir investimentos e infraestrutura para o parque. enfrentando com firmeza o abandono do Estado.
Sua trajetória é marcada pela paixão, pela persistência e por uma visão generosa da ciência como instrumento de transformação social. Graças ao seu trabalho, milhares de estudantes, pesquisadores e moradores da região foram impactados, e a Serra da Capivara se tornou um símbolo do nosso passado mais remoto.
Niéde Guidon deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a história do Brasil. Seu nome estará para sempre gravado nas pedras que ajudou a revelar — e nos corações de todos que sonham com um país que valorize seu patrimônio e seus cientistas.
Título de Doutora Honoris Causa
Em 10 de julho do ano passado, Niède Guidon recebeu o título de Doutora Honoris Causa, a maior honraria dos segmentos honoríficos da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
A concessão do título foi aprovada pela resolução Nº 138, de 21 de agosto de 2023, do Conselho Universitário (CONSUN), sendo uma proposição do reitor e presidente do Conselho, Gildásio Guedes.
Divulgação
Niède Guidon foi homenageada em decorrência de suas pesquisas arqueológicas no Piauí, sendo responsável pela descoberta de mais de 800 sítios pré-históricos na área e vestígios dos primeiros habitantes humanos da Terra. Os vestígios de presença humana foram descobertos em escavações arqueológicas realizadas principalmente em abrigos rochosos naturais com muitas pinturas rupestres, no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, que foi declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1991.
A partir da exploração de sítios arqueológicos no Piauí e das datações realizadas na Serra da Capivara, Guidon deu forma à hipótese de que os humanos teriam chegado ao continente americano pela África. Segundo Niede Guidon, conforme artigo publicado em 2008, na revista Fapesp, o material arqueológico resgatado no Piauí até o início dos anos 2000 indica que o homem chegou à região há cerca de 100 mil anos.
A teoria de Guidon sobre a chegada do homem às Américas causou ruptura com o consenso científico tradicional da arqueologia, cristalizado pela dominância da visão norte-americana, que posiciona a chegada do homem nas Américas há cerca de 13 mil anos, vindo da Ásia, com passagem pelo Estreito de Bering, localizado entre a Sibéria e o Alasca, e que de lá, teriam migrado para o sul.
Nova espécie de ave descoberta na Caatinga recebe nome da arqueóloga
Egressos do curso de Ciências Biológicas do Campus Ministro Petrônio Portella, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), desempenharam papéis cruciais na recente descoberta de uma nova espécie de ave na região da Caatinga. O estudo, publicado na revista científica internacional "Zoologica Scripta" em 17 de junho do ano passado, revela que alterações históricas no curso do rio São Francisco e oscilações climáticas ao longo de aproximadamente um milhão de anos foram responsáveis pela divisão de um grupo de aves conhecidas como choca-do-nordeste em duas espécies distintas.
Os indivíduos da nova espécie, denominada Sakesphoroides niedeguidonae, até então eram considerados parte da espécie Sakesphoroides cristatus. Contudo, o estudo descobriu diferenças genéticas, de plumagem e de canto entre os grupos. Vale ainda ressaltar que o nome atribuído à espécie é uma homenagem à renomada cientista e arqueóloga Niède Guidon.
Reprodução
Ao receber a homenagem, à época, ela agradeceu: “Me sinto lisonjeada ao atribuir o nome para uma nova espécie de ave. Ele, assim como eu, gostou da região da Caatinga e se instalou por aqui”, finalizou.
Manifestação de Pesar
O governador do Piauí, Rafael Fonteles, publicou que a contribuição de Niéde seguirá inspirando gerações e decretou luto oficial de 3 dias.
"Recebemos com tristeza a notícia do falecimento da professora, pesquisadora e arqueóloga Niède Guidon. Referência mundial na arqueologia, Niède dedicou sua vida à ciência e à preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, transformando o Piauí em protagonista global na conservação da natureza e do patrimônio cultural da humanidade. Sua contribuição seguirá inspirando gerações. Que Deus a receba e conforte familiares, amigos e admiradores. Decretamos luto oficial de 3 dias", escreveu.
Fonte: Portal A10+