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O debate sobre a volta do horário de verão voltou à pauta. Na última terça-feira (8), o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) divulgou o Plano da Operação Energética 2025–2029 e indicou que, em cenários específicos, a retomada da iniciativa pode ser uma medida recomendada.
A medida viria para garantir o fornecimento de energia no país, especialmente no período entre 18h e 21h, conhecido como horário de pico.
A proposta integra um pacote de ações para suprir um déficit estimado de 2 GW no sistema elétrico, ao lado da conclusão de novas linhas de transmissão e do uso de mecanismos como a resposta da demanda.
Segundo o ONS, o horário de verão poderia evitar o acionamento de até 2,5 GW em usinas térmicas, reduzindo custos e pressões sobre os reservatórios hidrelétricos.
Mas, afinal, a medida ainda é eficaz no Brasil de hoje? Para responder, o R7 ouviu especialistas em energia.
Eles analisam os impactos técnicos e econômicos da possível volta do horário de verão, considerando mudanças no consumo, avanço da energia solar e estrutura atual do sistema elétrico.
Visão técnica
Segundo o ONS, a volta do horário de verão poderia aliviar o sistema em um momento delicado: o início da noite, quando o sol se põe e a geração solar distribuída (residencial e comercial) sai de cena, ao mesmo tempo em que cresce o uso de energia em residências — especialmente com ar-condicionado e iluminação.
Luciano Duque, engenheiro eletricista e professor de engenharia na Universidade Católica de Brasília e do UniCeub, avalia que, diante do atual cenário de geração e consumo, a medida não contribuiria para diminuir o risco de sobrecarga do sistema, sobretudo em períodos de alta demanda e baixa disponibilidade hídrica.
“A economia de energia com o horário de verão não compensa o desgaste que ele causa na rotina da população. Acredito que existem alternativas mais eficazes, como campanhas de conscientização para o uso racional da energia, incentivando hábitos como desligar luzes desnecessárias, tomar banhos mais curtos e usar ar-condicionado e aquecedores apenas quando necessário.”
Ele também aponta desafios para a reimplantação da medida no curto prazo, especialmente do ponto de vista logístico, regulatório e de adaptação de sistemas e operações.
“Hoje, o horário de verão já não faz mais sentido como fazia antigamente. As cargas elétricas mudaram com o tempo e o horário de pico não é mais no começo da noite, mas sim por volta das 15h, quando o calor é mais intenso. Em vez de trazer benefícios, o horário de verão pode gerar transtornos, como a dificuldade de adaptação e aumento no risco de acidentes”, analisa.
Economia
Do ponto de vista econômico, a proposta também divide opiniões. O economista e consultor financeiro Gustavo Faria avalia os possíveis efeitos da medida sobre os custos de geração, a conta de luz e setores como comércio e indústria.
“A volta pode gerar um retorno benéfico, porém, os ganhos efetivos em termos de redução do uso de usinas térmicas são limitados. O Brasil possui um sistema predominantemente hidrelétrico, que é mais barato e limpo, e as usinas térmicas geralmente entram em operação para atender picos extremos ou em períodos de seca. A economia promovida pelo horário de verão pode ser insuficiente para evitar ou reduzir significativamente a operação das térmicas, já que outros fatores, como condições hidrológicas e demanda total, são mais determinantes.”
Portanto, a economia real existe, mas tende a ser modesta em escala nacional e pode não se traduzir em uma redução expressiva dos custos com usinas térmicas.
Ele também comenta os impactos indiretos do horário de verão na produtividade e no comportamento dos consumidores, pontos que foram determinantes para o fim da medida em 2019, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“A medida pode gerar benefícios econômicos indiretos relevantes para comércio e lazer, além de pequenas melhorias no custo e eficiência do consumo de energia, mas seus impactos variam conforme a região e o perfil socioeconômico da população”, finaliza Faria.
A volta do horário de verão, segundo o ONS, não é tratada como uma solução definitiva, mas como uma possível medida emergencial dentro de um conjunto de ações mais amplo.
A entidade também reforçou a necessidade de leilões para contratar fontes que entreguem potência com mais agilidade, como pequenas térmicas, baterias e usinas reversíveis.
Fonte: R7