O que mudou do lobo solitário, Adélio, que atacou Bolsonaro com uma facada, para o Tiu que se explodiu no STF?

Enquanto o ex-presidente prega “pacificação” de olho na anistia, Moraes rebate duro: “Não existe a possibilidade de pacificação"

O caso da noite desta quarta-feira (13) ainda está sob investigação. Mas, a princípio já se fala que o ataque a bomba contra o Supremo Tribunal Federal, feito pelo catarinense Francisco Wanderley Luiz, 59, teria agido sozinho após premeditar o crime. Conhecido como Tiu França, foi candidato a vereador pelo PL em 2020. 

Em setembro de 2018, um atentado a faca contra o então candidato a Presidente pelo PSL, Jair Bolsonaro, teve Adélio Bispo, que foi filiado a ao PSTU, como autor do crime. Para a Polícia Federal, ele agiu sozinho, um lobo solitário, considerado ainda portador de doença mental, mas que também planejou ato ataque.

  
O que mudou do lobo solitário, Adélio, que atacou Bolsonaro com uma facada, para o Tiu que se explodiu no STF? Reprodução
 
 
 

A princípio são dois casos de extremistas político-partidários. Mas, por que Jair Bolsonaro teve reações diferentes? Quando foi ele o alvo não aceitou a conclusão da Polícia Federal: “A conclusão que chegou lá é que é um lobo solitário. Eu acho que não era um lobo solitário. Eu não quero forçar a barra nem descobrir, inventar um responsável”. Agora, no caso do Tiu França, filiado em seu partido, a reação do ex-Presidente foi outra. Em nota, afirmou que o caso é “um triste episódio” e um “fato isolado”.

O problema é que o Brasil de hoje, durante e após o mandato de Bolsonaro, viveu uma intensa guerra ideológica de polarização e ataques a instituições, que reagiram fortemente contra o ato antidemocrático do 8 de janeiro, onde militantes bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos três poderes, em Brasília. O STF já condenou mais de 250 pessoas e, neste ataque de ontem, havia possibilidade do Ministro Alexandre de Moraes ser o alvo do homem bomba. Um e-mail foi enviado para a Supremo Tribunal Federal com ameaças, onde o autor afirma que não haverá descanso até que a Suprema Corte brasileira seja eliminada.

Para a Polícia Federal, apesar de Tiu França ter agido sozinho, o que foi apurado até agora revela não foi um ato isolado. Para o Diretor Geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que: "Quero fazer um registro da gravidade dessa situação que nós enfrentamos ontem. Que apontam que esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica. Não só a Polícia Federal, mas todo o sistema da Justiça Federal. Entendemos que o episódio de ontem não é um fato isolado, mas conectado com várias outras ações".


Enquanto isso, no campo político, o Congresso Nacional, em sua maioria do campo da direita, planeja por em votação um projeto amplo de anistia que beneficiaria não apenas os presos e condenados pela tentativa de golpe do 8 de janeiro. Um dos maiores beneficiados seria exatamente Jair Bolsonaro que, atualmente inelegível por oito anos, teria salvo conduto para disputar a Presidência da República em 2026. Talvez por isso o tom pacificador: “Apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional. Quem vai ganhar com isso não será um ou outro partido, líder ou facção política. Vai ser o Brasil”.

Como se vê, o Bolsonaro deste ataque a bomba reage bem diferente do pós facada e do mandato na Presidência que, na verdade, em muitos momentos inflamava seus apoiadores contra instituições, entre elas o próprio STF. Para o Ministro Alexandre de Moraes deu um recado duro às pretensões do ex-Presidente e para os militantes das extremistas.

“Não existe a possibilidade de pacificação com anistia a criminosos. Queira Deus que seja um ato isolado, este ato. Mas o contexto é um contexto que se iniciou lá atrás, quando o famoso gabinete do ódio começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o Supremo Tribunal Federal, principalmente. Não podemos compactuar com a impunidade de ninguém que atente contra a democracia, contra os poderes de Estado, contra as instituições. Todos nós, independentemente do posicionamento político e ideológico, temos que nos unir sempre na defesa da democracia”, afirmou o Ministro que é relator do caso do homem bomba.

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