Atualizada às 12h57
"Estou alegre e satisfeita. Ainda hoje não durmo direito. Eu fui muito sofrida na cadeia, pensando que fizeram isso comigo e que eu ia provar minha inocência. Hoje eu estou livre e muito alegre". O desabafo emocionado é de Lucélia Maria, que foi declarada inocente pela Justiça do Piauí no caso em que foi presa injustamente sob a acusação de envenenar e matar os irmãos João Miguel, de 7 anos, e Ulisses Gabriel, de 8, em Parnaíba, litoral do estado.
Em entrevista exclusiva à TV Antena 10 e ao A10+, a idosa afirmou que segue com o psicológico abalado diante de toda a situação. Além de tudo que passou, ela teve sua casa destruída e, atualmente, mora de aluguel.
TV Antena 10/A10+
"Estou morando em casa alugada, morei com meus filhos e sai. Eu espero que eles vejam como está minha situação porque não tenho onde morar. Eu fiquei sem nada, destruíram tudo. Mas tenho fé em Deus que eu vou ter onde morar", afirmou.
O advogado de Lucélia, Sammai Cavalcante, explicou como serão os próximos passos. "Após a decisão, se abre prazo recursal tanto para o MP quanto para defesa. Vamos renunciar o prazo recursal e esse entendimento deve seguir com o promotor. Após isso, se formará a "coisa julgada material", que não cabe nenhuma espécie de recurso. Quando transitar em julgado, vamos entrar com ações indenizatórias contra o Estado por que é uma questão de direito da dona Lucélia, ela teve um dano material e o dano moral", disse.
A defesa não antecipou o valor que será solicitado ao Poder Judiciário para o reparo dos danos identificados. "Não é busca por enriquecimento indevido, muito menos ilícito, mas é dentro de um paradigma de uma pessoa que foi presa sendo inocente, ela tem direito a esse processo ser analisado com todo cuidado pelo Judiciário. O fato já está provado, ela é inocente em uma acusação, e o prejuízo material e moral que essa senhora teve? O Estado manteve sob acusação, sob pressão, e agora é hora do Estado dar uma resposta. Não é querendo colocar pressão em valores, vamos colocar valor X, o juízo quando analisar as provas vai determinar se ela tem ou não direito a indenização e esse valor é determinado pelo juiz", concluiu.
O caso
Lucélia chegou a passar quase cinco meses presa por um crime que comoveu o país, mas as investigações posteriores revelaram que as mortes foram planejadas pelo padrasto, Francisco de Assis. Ele e a companheira, Maria dos Aflitos, estão atualmente presos pelos assassinatos dos familiares.
A mulher, que teve a casa a incendiada pelos vizinhos que ficaram revoltados com o crime, à época do caso, só saiu da cadeia após um laudo apontar, em janeiro deste ano, que os cajus consumidos pelos irmãos não estavam envenenados. No documento, que o A10+ obteve acesso, à época, “não foram detectadas substâncias de interesse toxicológico” nas amostras analisadas pela equipe.
Em fevereiro deste ano, a defesa já havia relatado ao A10+ que iria solicitar até R$ 1 milhão em danos materiais e morais à Lucélia. Em setembro, durante audiência de instrução, Francisco de Assis declarou que tinha um forte vínculo afetivo com as crianças, chegando a apresentar João Miguel como filho dele. “Esse menino era muito querido por mim, levava ele na casa da minha mãe, dava comida na boca dele, deitava com ele. (…) Sofri muito com a morte dele”, declarou.