MP afasta promotor investigado por exigir propina de R$ 3 milhões para empresário no Piauí

Empresário afirma que foi abordado por promotor em restaurante no litoral do estado; com o suspeito, a PF apreendeu R$ 900 mil em espécie

(Atualizada às 13h45)

O Ministério Público do Piauí, por meio da Procuradoria-Geral de Justiça e da Corregedoria-Geral, anunciou nesta sexta-feira (09) que o promotor de justiça Mauricio Verdejo Goncalves Junior, alvo da “Operação Iscariotes”, foi afastado de suas funções por 90 dias, após a polêmica. O investigado é suspeito de exigir propina de R$ 3 milhões para arquivar processo contra o empresário Junno Pinheiro Campos de Sousa.

Em nota divulgada, o órgão informou que está atuando em conjunto com a Corregedoria Nacional do Ministério Público, para adoção de providências relativas à operação deflagrada pela Polícia Federal, em conjunto com a Procuradoria Geral do Ministério Público Estadual. 

  

Promotor Mauricio Verdejo e o empresário Junno Pinheiro Campos de Sousa
Reprodução

   

“O Conselho Nacional do Ministério Público instaurou reclamação disciplinar contra o promotor de Justiça. Em decisão proferida nessa quinta-feira, 08 de agosto, o corregedor nacional do Ministério Público, conselheiro Ângelo Fabiano Farias da Costa, determinou o afastamento do investigado das suas funções pelo prazo de 90 dias e a proibição de seu acesso, até outra deliberação, a qualquer dos prédios e instalações do MPPI, exceto para participação em atos instrutórios determinados pela PGJ ou pela Corregedoria-Geral”, diz o comunicado.

De acordo com as investigações, Junno Pinheiro Campos procurou o plantão da Polícia Federal e denunciou que havia sido abordado pelo promotor de justiça em um restaurante no litoral do Piauí, ocasião em que o Mauricio Verdejo teria dado o prazo de poucos dias para que a vítima pagasse a quantia expressiva para não ser mais investigada. 

  

Promotor é suspeito de exigir R$ 3 milhões para arquivar processo contra empresário no Piauí Reprodução

   

A equipe de investigação conseguiu confirmar o teor dos relatos da vítima, conseguindo, inclusive, registrar o recebimento de parte do montante pelo investigadoDiante da representação ministerial, o Tribunal de Justiça do Piauí expediu mandado de busca e apreensão contra o promotor. 

O A10+ obteve acesso ao vídeo que mostra um encontro entre o empresário e o promotor. Os dois conversam e em um determinado momento o empresário entrega uma sacola preta para o promotor Mauricio Verdejo. Momentos depois, ambos entram em uma residência. Durante o cumprimento dos mandados, as equipes apreenderam cerca de R$ 900 mil, documentos e aparelhos eletroeletrônicos.


Mauricio Verdejo é titular da 6ª Promotoria Criminal de Picos. Ele poderá responder pelo crime de concussão, que consiste na conduta de exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. Já o empresário era investigado acerca de supostas irregularidades em um processo licitatório para fornecimento de equipamentos da área da saúde, o qual uma empresa de Junno foi contratada.

O Ministério Público do Piauí informou ainda que a Corregedoria-Geral realizará correição extraordinária na Promotoria de Justiça titularizada pelo investigado e em outras Promotorias em que tenha oficiado nos últimos anos.

“Todas as medidas constantes na decisão do CNMP foram prontamente cumpridas pelo MPPI, sem prejuízo das investigações criminais já em curso no âmbito desta instituição. O MPPI reafirma o compromisso com a aplicação da lei, o esclarecimento dos fatos e a apuração de responsabilidades”, finaliza. 

Empresário se manifesta

O Grupo Imagem, uma das empresas de Junno Pinheiro, se manifestou através de nota nas redes sociais acerca da Operação Iscariotes. O comunicado destaca que o Diretor Geral do grupo, diante da extorsão, não teve outra alternativa senão denunciar o caso às autoridades competentes.

“Apesar do grupo ter absoluta convicção de não ter praticado qualquer ato ilícito, essas acusações e ameaças, sem qualquer fundamento ou base probatória, estão sendo questionadas legalmente perante o Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, onde, certamente, tudo virá à luz e as motivações não republicanas serão reveladas, como no caso da operação de ontem”, diz trecho da nota. 

Confira o comunicado na íntegra:

O Grupo Imagem, atendendo aos inúmeros pedidos de manifestação e esclarecimentos solicitados pela imprensa após a Operação "Iscariotes", deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com a Procuradoria Geral do Ministério Público Estadual, vem a público informar que estava sendo vítima de atos criminosos de concussão, extorsão e abuso de poder.

O Diretor Geral do grupo foi abordado por uma autoridade pública que ameaçou implicá-lo criminalmente em falsas denúncias e investigações fabricadas relacionadas a licitações, caso não pagasse valores indevidos. Apesar do grupo ter absoluta convicção de não ter praticado qualquer ato ilícito, essas acusações e ameaças, sem qualquer fundamento ou base probatória, estão sendo questionadas legalmente perante o Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, onde, certamente, tudo virá à luz e as motivações não republicanas serão reveladas, como no caso da operação de ontem.

Reiteramos que o acontecido foi um ato isolado, praticado por um membro do Ministério Público que agiu em desrespeito ao espírito republicano do órgão. Este membro exigiu dinheiro para não atacar a idoneidade do Grupo Imagem e de seus sócios, utilizando-se de investigações fabricadas e operações midiáticas destinadas a ferir a honra dos proprietários do Grupo. Diante dessa agressiva extorsão, o Diretor Geral do Grupo Imagem não teve outra alternativa senão denunciar o caso às autoridades competentes, incluindo a Polícia Federal e o Ministério Público.

Como resultado, foi deflagrada a operação conjunta "Operação Iscariotes". Em razão do segredo de justiça, no momento, não podemos fornecer maiores detalhes. Continuamos comprometidos em oferecer serviços de qualidade e manter a confiança de nossos clientes.

Agradecemos o apoio e a compreensão de todos durante este período difícil, especialmente o apoio institucional dos policiais federais, membros do Ministério Público e do Poder Judiciário do Estado do Piauí.

Outro lado 

O A10+ procurou a defesa do promotor de justiça, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria acerca do assunto. O espaço segue aberto para esclarecimentos através do e-mail: redacao@a10mais.com