(Atualizada às 14h44)
O promotor João Mendes Benigno Filho, do Ministério Público do Estado do Piauí, revelou nesta sexta-feira (28) em entrevista à TV Antena 10, que após a publicação da sentença condenatória do ex-capitão da Polícia Militar, Allisson Wattson Silva Nascimento, de 17 anos de prisão pelo feminicídio da estudante Camilla Abreu, o MP-PI entrou com um recurso contra o cálculo da pena. Porém, até hoje não foi julgado.
Antes da prisão por estupro de vulnerável, Allisson Wattson estava sob regime semiaberto desde dezembro de 2022. Para o promotor, se o recurso do Ministério Público tivesse sido visto e a pena tivesse sido alterada, o crime cometido contra a própria sobrinha poderia não ter ocorrido, já que ele ainda estaria preso. Segundo ele, no entendimento do MP, a pena foi pouca e ainda contou com a detração penal, que foi o abatimento na sentença do período em que ele esteve preso, de 2017, época do crime, até o ano 2021, período em que foi julgado. Finalizando assim, 13 anos a serem cumpridos, de acordo com Benigno Filho.
“Ele foi julgado e condenado por homicídio qualificado por motivo fútil e pelo feminicídio. Ele foi condenado por ocultação de cadáver e foi condenado por fraude processual. E a juíza que presidiu o júri, eu fui o promotor, e quando a juíza concedeu a sentença condenatória, ela somou tudo isso aqui dando 17 anos. [...] Ainda teve que aplicar a detração, que é o período que ele passou preso da preventiva até a data de julgamento do processo. Então, com a detração, ele só vai cumprir 13 anos. Aí vem a lei e diz que ele é beneficiado com a progressão de regime fechado para semiaberto. Aí o semiaberto deu no que deu”, explicou o promotor.
De acordo com o superintendente de operações integradas da Secretaria de Segurança Pública do Piauí, delegado Matheus Zanatta, a própria mãe da vítima, que tinha 6 anos quando deram início os abusos, que levou o caso para as autoridades. Diante disso, a delegada Lucivânia Vidal, titular da DPCA, abriu um inquérito policial e todos os levantamentos necessários, que verificaram indícios de veracidade do crime. O mandado de prisão foi cumprido nesta quinta (27) na Penitenciária Irmão Guido em Teresina.
Para a TV Antena 10, o promotor destacou que soube da prisão do ex-capitão da PMPI pelo pai de Camila Abreu, que entrou em contato após a notícia. Benigno Filho disse que recebeu a informação com espanto e criticou a sentença de 17 anos, apesar da gravidade do crime contra a estudante.
“No caso do capitão, ontem a família me ligou, o pai da Camila, me mandando uma mensagem me dando notícia desse fato, desse crime cometido por esse assassino. Foi que eu me espantei. Ele já estava no benefício do regime semiaberto, tendo um prazo curto que ele recebeu de pena na condenação. Ele cometeu esse crime, ocultou esse cadáver por dois dias, negando que tenha sido ele o autor, trocou banco de carro, lavou carro, pegou o cadáver e escondeu dentro do mato perto de Altos, mas a Polícia Militar, a Delegacia de Homicídios muito bem coordenada na época pelo delegado Barêtta, tivemos e logramos êxito nas investigações. Foi preso desde 2017. Foi a julgamento no dia 24 de setembro de 2021. Quando sai a sentença, ele pega 17 anos”, frisou.
Pedido de aumento da pena
O promotor disse que o recurso do MP acerca do pedido de aumento da pena ocorreu no dia 3 de outubro de 2021, após a sentença condenatória de Allisson Wattson. Porém, até hoje, o parecer ainda não foi julgado. Benigno diz que agora espera que Tribunal de Justiça modifique o cálculo e ele permaneça preso para o cumprimento da pena em regime fechado.
“O Ministério Público, não se conformando com essa pena, no dia 3 de outubro de 2021, logo depois da publicação da sentença, nós entramos com um recurso contra a dosometria da pena, ou seja, a quantidade de anos foi pouca, no entendimento do Ministério Público. Se esse recurso já tivesse sido julgado e o TJ tivesse refeito esses cálculos aqui, esse homem não estava solto ainda. Ele não tinha cometido esse crime que ele cometeu agora. Esse moço é um psicopata. Vamos esperar que o tribunal agora modifique essa pena. E ele voltou agora para o presídio e pela lei das execuções penais, ele vai ter que regredir ao sistema prisional fechado”, pontua o promotor.
Benigno Filho fez um apelo ainda para que a justiça julgue o recurso do Ministério Público, em nome da família de Camila Abreu e toda sociedade piauiense. “Ele perdeu o benefício do semiaberto, mas ele pensar que vai ficar só com 13 anos? O senhor desembargador Pedro Macedo, com todo respeito que tenho a vossa excelência, o parecer do Ministério Público é pela mudança dessa pena, do cálculo dessa pena. Eu faço aqui o apelo em nome da sociedade. Em nome da família da Camila Abreu, em nome de toda a sociedade piauiense. Julgue esse processo, julgue essa apelação do Ministério Público e reformule, porque esse homem não merece benefício da nossa justiça do estado”, finaliza.
“A justiça é culpada”, diz pai de Camilla Abreu
Com sentimento de revolta, Jean Abreu, pai da estudante Camilla Abreu comentou o caso do ex-capitão da Polícia Militar do Piauí, Alisson Wattson que foi preso nesta semana sob suspeita de estuprar uma criança de apenas 7 anos. Em entrevista ao Balanço Geral Manhã, da TV Antena 10, ele comentou que a “justiça é culpada” pela liberdade do assassino de sua filha.
Ainda em entrevista, o pai de Camilla Abreu lamentou a decisão da justiça que, em dezembro de 2022, permitiu que Alisson Wattson cumprisse o restante da pena de 17 anos que foi condenado em regime semiaberto. A suspeita da polícia e que os abusos ocorreram justamente no período em que o ex-capitão da PM teve a oportunidade de sair do presídio para trabalhar.
“O juiz botou regime semiaberto e na primeira oportunidade que ele teve, estuprou uma criança de 6 anos. Fica aqui minha indignação… um bandido desse jamais deveria estar no quadro da Polícia Militar. Quantas famílias ele deixou sofrendo? É um bandido que era travestido de polícia”, completou o pai de Camilla Abreu.
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