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O editorial publicado pela revista The Economist no final de dezembro de 2025 provocou forte repercussão no cenário político brasileiro ao recomendar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não dispute a reeleição em 2026, com base principalmente em sua idade avançada e num paralelo com a experiência dos Estados Unidos. A publicação também usou termos como “impopular” e “ineficaz” para descrever o senador Flávio Bolsonaro, pré-candidato do PL, ao passo que sugeriu a figura de Tarcísio de Freitas como alternativa à direita. Essas caracterizações — que rapidamente viralizaram no debate público — merecem análise crítica à luz dos novos desafios da política, das dinâmicas eleitorais e dos critérios que verdadeiramente informam a eficácia ou popularidade de um agente político.

Do ponto de vista editorial, a revista britânica adota uma perspectiva externa ao Brasil, geralmente associada a uma visão liberal de mercados e instituições. Ao apontar a idade de Lula como um “risco elevado” para quatro anos adicionais de mandato, a análise se apoia numa preocupação que, embora legítima em alguns contextos — como no debate americano sobre Joe Biden — não incorpora plenamente as especificidades do contexto brasileiro, onde a longevidade política e a experiência têm papel tradicional na preferência de parcelas expressivas do eleitorado. Ao colocar ênfase na idade, o editorial ignora que capacidade cognitiva, vigor político e desempenho de líderes não se reduzem a um número cronológico, como também reforçam especialistas em medicina do envelhecimento ao destacar que avaliações de capacidade não podem ser feitas apenas por idade (compare com discussões médicas recentes sobre envelhecimento saudável).
No caso de Flávio Bolsonaro, o uso dos adjetivos “impopular” e “ineficaz” tem fundamentos tanto no conteúdo do editorial quanto no contexto político brasileiro. O periódico argumenta que, atualmente, o senador não aparece como figura competitiva ou consolidada para enfrentar Lula em um cenário nacional, o que corresponde a algumas pesquisas de opinião que mostram Flávio Bolsonaro com índice de intenções de voto consideravelmente inferior ao do atual presidente — por exemplo, levantamentos demonstram Lula acima de 38% enquanto Flávio aparece com cerca de 19% em cenários testados para 2026.
Na análise da Economist, esses termos não são meramente adjetivos agressivos, mas expressam uma avaliação comparativa: impopular significa que o peso eleitoral do pré-candidato é fraco perante possíveis concorrentes; ineficaz remete à percepção de que o senador não tem um histórico consolidado de liderar iniciativas políticas ou de governo que atraiam apoio além da base bolsonarista tradicional (apesar de ainda contar com apoio em segmentos como o evangélico e parte da direita). CNN Brasil Essa avaliação editorial não é unânime nem absoluta, e críticos argumentam que qualificar um político como “ineficaz” pode simplificar realidades complexas — especialmente quando muitos fatores (como polarização, legado político familiar e estrutura organizacional de partidos) influenciam a percepção pública.
É fundamental distinguir entre rótulos jornalísticos e diagnósticos políticos ou científicos rigorosos. A escolha editorial da The Economist reflete uma leitura externa e orientada por mercados e estabilidade institucional, mas ela não substitui a análise de campo, as pesquisas de opinião detalhadas ou a compreensão das dinâmicas eleitorais brasileiras. Em medicina, por exemplo, avaliações de desempenho cognitivo, aptidão e funcionalidade não se baseiam unicamente na idade cronológica, e a simples associação de idade com declínio é hoje reconhecida como reducionista pela geriatria moderna — um paralelo útil para refletir sobre rótulos aplicados a lideranças políticas.
Por fim, o uso de termos como “impopular” e “ineficaz” para Flávio Bolsonaro demonstra como narrativas externas podem influenciar o debate doméstico, mas também reforça a importância de questionar se tais adjetivos traduzem evidências consistentes ou projeções normativas de analistas que podem ter vieses próprios. No Brasil, a polarização e a forte divisão entre campos ideológicos complicam ainda mais qualquer avaliação taxativa, pois a “popularidade” e a “eficácia” de um político dependem tanto de fatores objetivos (pesquisa, desempenho administrativo) quanto de percepções subjetivas moldadas por identidades partidárias, mídia e experiências vividas pelos cidadãos.
Em suma, embora a análise de The Economist traga um importante elemento de debate internacional sobre a sucessão política no Brasil, uma leitura crítica exige que consideremos não apenas os adjetivos utilizados, mas os critérios, evidências e contextos que os sustentam — tanto na política quanto em comparação com áreas como a medicina moderna que também rejeita generalizações simplistas com base em números isolados como a idade.
Fonte: Portal A10+