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POLÍTICA

“Morreu esperando cuidado”: o triste caso de abandono de um idoso em Esperantina expõe a falência da proteção familiar e estatal

Cego, diabético, amputado e negligenciado pelos próprios filhos, Antônio Reis morreu no dia 21 de julho, em um bar aos 70 anos – e a única resposta do


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A morte silenciosa de Antônio dos Reis, de 70 anos, em Esperantina (PI), não é apenas mais um óbito. É a materialização cruel do abandono de um idoso frágil, doente, invisibilizado por quem mais deveria protegê-lo: a própria família. Pior: mesmo com a atuação inicial de órgãos públicos, o caso terminou arquivado, como tantos outros que se perdem nos trâmites da burocracia e da omissão coletiva.

Antônio era cego, diabético, hipertenso e havia perdido uma das pernas. Apesar disso, não contava com cuidados adequados dos filhos — e acabou morando nos fundos de um bar, no bairro Pedreira, sobrevivendo com ajuda de estranhos. A denúncia anônima que chegou ao Ministério Público relatava essa realidade cruel e apontava que, embora um acordo entre os filhos tenha sido firmado no CREAS de Esperantina, nenhum deles cumpriu o compromisso de cuidar do pai.

  
“Morreu esperando cuidado”: o triste caso de abandono de um idoso em Esperantina expõe a falência da proteção familiar e estatal
Imagem Ilustrativa
 
 
 

O Ministério Público abriu a Notícia de Fato nº 62/2025 para apurar os indícios de negligência, e solicitou visita técnica ao endereço oficial de Antônio. O CREAS respondeu que o caso já era acompanhado, mas informou que o idoso havia falecido em 21 de julho, devido ao agravamento do seu estado de saúde.

Com a morte de Antônio, o processo foi arquivado por “perda de objeto”, ou seja, como ele não está mais vivo, não haveria o que investigar ou resolver. O drama pessoal de um idoso invisível terminou com a frieza de um despacho eletrônico.

O que o caso escancara, no entanto, é muito maior do que uma decisão judicial: revela uma sociedade que vira o rosto diante da velhice e das responsabilidades familiares. A negligência dos filhos, a precariedade da rede de assistência e a falta de políticas públicas efetivas deixaram Antônio morrer isolado, longe do mínimo de dignidade que deveria ser garantido a todo ser humano.

Casos como esse não podem ser tratados como exceção. Eles são sintomas de um Brasil que está envelhecendo sem estrutura, sem consciência coletiva e, principalmente, sem respeito. Para se ter uma ideia, em 2023 dobraram em todo o Brasil o número de denúncias de abandono, sendo que o afetivo, quando a própria família descarta a pessoa à própria sorte, é o mais frequente. Foram 22.636 casos em 2023 e 11.359 em 2022, de acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos 

A morte de Antônio não deveria ser apenas mais um número ou um processo arquivado. Ela precisa servir como alerta. Porque a indiferença de hoje com os nossos idosos é o futuro que construímos para nós mesmos.

Fonte: Portal A10+


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Sobre a coluna

Wesslley Sales

Wesslley Sales

Jornalista, Especialista em Marketing Político, Mídias Sociais e Comunicação Produtor, Apresentador e Repórter na TV Antena10 Radialista e Redator

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