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As mudanças urbanísticas aprovadas em Teresina entre 201 e 2022 — do PDOT à revisão de 2021 e ao novo Código de Zoneamento, na gestão do ex-Prefeito Dr. Pessoa (PRD) — não apenas alteraram a forma de construir na cidade: elas redesenharam silenciosamente o equilíbrio social, psicológico e ambiental da Zona Leste, região mais valorizada da capital.
O que poderia ter sido um avanço planejado transformou-se, para muitos moradores, em um processo de apagamento: apagamento da luz natural, do vento, da privacidade, do silêncio e, principalmente, da possibilidade de viver sem a sombra constante de torres erguidas sem diálogo com quem já estava ali. Exemplo disso é o empreendimento milionário de uma construtora com mais de 40 anos de “boas amizades” na capital que tem soterrado em concreto a paz e o sossego de moradores próximos ao condomínio em construção. O lixo produzido na obra em grande parte vai parar nos quintais. Só para citar alguns: paus com pregos, sacos plásticos, arames, pedaços de tijolos, pedras de concreto grandes e uma fina camada, mas um pó pesado, deste mesmo concreto se espalha por dentro e fora das residências causando diversas formas de transtornos.

Os dados técnicos não deixam dúvidas. Antes dessas mudanças, a legislação urbanística de Teresina exigia recuos laterais e de fundos relativamente amplos, que chegavam a 3, 4 e até 8 metros dependendo da altura do prédio, preservando a ventilação cruzada e evitando que edifícios muito altos “encostassem” em imóveis mais baixos. Depois das alterações promovidas na gestão do Dr. Pessoa, esses recuos foram reduzidos a 1,5 metro, 2 metros ou até menos zerando — na prática, eliminando quase por completo o distanciamento entre torres e os muros de casas vizinhas. A consequência física é imediata: um prédio de 20 ou 26 andares pode hoje ser construído praticamente “colado” ao muro de uma casa térrea, algo impensável sob regras anteriores.
A cidade verticalizou, mas não dialogou. E, embora não exista prova direta de lobby político de empresários do setor com o Palácio da Cidade e/ou Câmara de Vereadores, há um fato impossível de ignorar: quem mais se beneficiou dessas alterações foram grandes construtoras e imobiliárias, que passaram a lançar, em intervalos curtíssimos, condomínios de valores milionários, muitos deles vendidos como “oásis urbanos”, “refúgios suspensos” e “janelas para o futuro”. Esse futuro, no entanto, não inclui todos. Para os moradores antigos, o que chega junto com essas torres não é apenas sombra — é pressão. Pressão para conviver com ruídos constantes, com a circulação diária de centenas de veículos, com a perda da privacidade e, sobretudo, com a sensação de estar sendo empurrado para fora do próprio bairro.
Várias famílias relatam que já não suportam viver em casas que, antes luminosas e arejadas, tornaram-se ambientes escuros, abafados e expostos a janelas que miram diretamente seus quintais. Alguns moradores, especialmente idosos e pessoas sensíveis a mudanças ambientais bruscas, relatam episódios de ansiedade, crises de pânico e desconforto emocional profundo. A casa — historicamente um espaço de proteção — transformou-se para muitos em um local de tensão constante. Como seguir a vida normalmente quando uma torre inteira observa seus movimentos cotidianos de cima?
Não por acaso, vários residentes afirmam ter cedido à pressão invisível que vem do alto. Venderam suas casas não porque queriam mudar, mas porque não suportaram a mudança imposta ao seu entorno. O som das obras, a perda do sol, o vento que não circula, as noites iluminadas por fachadas e garagens, a privacidade violada sem que ninguém toque a campainha — tudo isso cria um desgaste lento, contínuo e psicológico. Um desgaste que os anúncios imobiliários não mostram.
Esses lançamentos são apresentados como a venda de sonhos: vista panorâmica, lazer completo, conforto e exclusividade. No entanto, transformam vidas em um inferno na terra. Raramente perguntam que tipo de pesadelo fica para quem permanece no chão enquanto o mercado imobiliário sobe. A promessa de um “novo jeito de viver Teresina” não menciona que, para muita gente, esse novo jeito significa abrir a janela e dar de cara com uma parede de concreto onde antes havia céu. Não menciona que muitos perderam a paz que tinham simplesmente porque o lucro pediu mais um pavimento.
Quando a legislação afrouxa recuos, quando elimina distâncias mínimas entre torres e casas, quando privilegia quem constrói em detrimento de quem vive, a cidade deixa de ser um espaço coletivo e se transforma em mercadoria. Não se trata apenas de urbanismo: trata‑se de ética. De escolha política. De para quem a cidade está sendo feita — e para quem ela está sendo desfeita. Se a gestão Pessoa favoreceu empresariado, teria agora o Prefeito Sílvio Mendes (UB) como reverter o negócio e favorecer as pessoas em uma cidade mais cinzenta e menos “verdecap”.
PREFEITURA DE TERESINA
As alterações urbanísticas nasceram dentro de um eixo técnico composto por SEMPLAN, SEMDUH e SEMAM, as três secretarias responsáveis por planejamento urbano, política habitacional, fiscalização e análise ambiental. Esses órgãos possuem competência formal para elaborar minutas e revisar parâmetros de uso do solo, mas a documentação disponível não indica participação ativa de entidades externas como CREA-PI, CAU-PI, Corpo de Bombeiros ou SEMARH-PI, que deveriam ter contribuído com pareceres sobre segurança, impacto ambiental e viabilidade urbanística.
A ausência desses pareceres chama atenção porque as mudanças aprovadas afrouxaram regras sensíveis, reduzindo recuos laterais mínimos em trechos da Zona Leste — onde, antes, edificações altas precisavam respeitar afastamentos que podiam ultrapassar 6 ou 8 metros conforme a altura da torre. Essa flexibilização permitiu que prédios de 20 a 26 andares fossem erguidos praticamente colados aos muros de residências térreas, alterando ventilação, iluminação e o conforto térmico de bairros que historicamente dependem do vento para equilibrar o calor intenso da capital.
Com isso, a Prefeitura acabou favorecendo grandes empreendimentos verticais, sobretudo condomínios de alto padrão lançados em sequência por incorporadoras que atuam nos bairros mais valorizados da cidade. A combinação de recuos menores, aumento no coeficiente de aproveitamento e permissões ampliadas de altura reduziu custos de construção e ampliou a área comercializável, tornando esses projetos mais lucrativos. Para os moradores de casas antigas ao lado das novas torres, porém, o cenário se inverteu: surgiram sombras permanentes, perda de privacidade e alterações bruscas no microclima, que resultam em abafamento e sensação de confinamento.
A falta de consulta a órgãos ambientais e urbanísticos externos, se realmente não existiu, reforça a percepção de que o processo não priorizou o interesse coletivo. As leis avançaram sem demonstrar que os impactos sobre iluminação natural, circulação de ar, dinâmica das vizinhanças e saúde emocional dos moradores foram avaliados de forma técnica. Consequentemente, surgiram relatos de desconforto psicológico, ansiedade e estresse entre pessoas que passaram a conviver com torres próximas demais de suas janelas e quintais. Para algumas famílias, a mudança se tornou insustentável a ponto de gerar a decisão de vender suas casas, não por vontade, mas pela pressão imposta pelo ambiente ao redor.