📲 Siga o A10+ no Instagram, Facebook e Twitter.
No intervalo de sete anos, o Brasil assistiu a duas grandes mobilizações populares em defesa de seus líderes políticos mais emblemáticos: Lula e Bolsonaro. Em abril de 2018, a icônica cena de um Lula cercado por militantes no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP), marcou a resistência à sua prisão na Operação Lava Jato. Neste domingo (16/03), foi a vez de Jair Bolsonaro reunir multidões em Copacabana para pressionar o STF e o Congresso a concederem anistia a ele próprio e aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Ambos os eventos representam momentos de forte polarização política e demonstram a capacidade de mobilização de seus respectivos campos ideológicos. Mas, apesar das semelhanças, há diferenças fundamentais no contexto e nas consequências de cada um desses episódios.
As semelhanças
Apoio popular massivo – Tanto Lula quanto Bolsonaro mobilizaram milhares de apoiadores em atos que transcendiam a figura dos líderes e se tornaram bandeiras de luta para seus grupos políticos. O petista foi alçado por seus seguidores ao status de perseguido político e pelo então juiz Sérgio Moro, enquanto o ex-presidente tenta se colocar como vítima de uma suposta perseguição do Judiciário.
Narrativa de injustiça – Em ambos os casos, os políticos e seus aliados sustentam discursos de que as ações do Judiciário são movidas por interesses políticos. Lula e o PT argumentavam que a Lava Jato tinha um viés parcial para impedir a candidatura do ex-presidente em 2018. Já Bolsonaro e seus aliados alegam que o STF e o TSE atuam para criminalizar a direita e afastá-lo da cena política.
Vitimização estratégica – Na prática, ambos tentam ganhar apoio popular para se vitimizar perante o eleitorado e o mundo. Lula transformou sua prisão em um símbolo de resistência, enquanto Bolsonaro usa o risco de inelegibilidade e a ameaça de investigações como forma de mobilizar sua base. O objetivo é o mesmo: manter-se relevante no cenário político e garantir influência para as próximas eleições.
Impacto eleitoral – Os dois momentos tiveram desdobramentos cruciais para a disputa eleitoral subsequente. Em 2018, a prisão de Lula abriu caminho para a ascensão de Bolsonaro ao Planalto. Agora, as investigações contra Bolsonaro podem influenciar sua elegibilidade para 2026.
Frases de efeito e mobilização – Em 2018, petistas popularizaram o slogan "Eleição sem Lula é fraude", sustentando que o pleito presidencial não seria legítimo sem a presença do ex-presidente. Agora, bolsonaristas adotam um discurso semelhante ao afirmar, apesar de inelegível, "Sem Bolsonaro, a eleição é antidemocrática" e "STF não é dono do Brasil", em clara tentativa de pressionar as instituições e reforçar a narrativa de que a inelegibilidade do ex-presidente representa uma injustiça política.
As diferenças
Natureza dos processos – Lula foi preso após condenação em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, decisão posteriormente anulada pelo STF. Já Bolsonaro é alvo de investigações por suposta tentativa de golpe de Estado e por incitação aos atos de 8 de janeiro. Enquanto Lula foi julgado por corrupção, Bolsonaro enfrenta acusações ligadas à democracia e ao Estado de Direito.
Postura diante da Justiça – Em 2018, Lula se entregou à Polícia Federal após resistência simbólica no ABC paulista. Já Bolsonaro adota uma postura mais confrontadora, incentivando atos contra as instituições e pressionando o Congresso a aprovar uma anistia ampla.
Efeito na política nacional – A prisão de Lula resultou na reorganização da esquerda e, posteriormente, em sua volta ao poder. Já Bolsonaro enfrenta um cenário mais incerto, com o avanço das investigações podendo enfraquecer sua liderança na direita e abrir espaço para novos nomes.
A disputa global entre esquerda e direita e seu impacto no Brasil
Os episódios que envolvem Lula e Bolsonaro não são isolados, mas parte de uma disputa ideológica mundial entre esquerda e direita, que tem se acirrado nas últimas décadas. Desde 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, essa polarização se intensificou no Brasil, refletindo a ascensão de governos conservadores em diversas partes do mundo e a reação das forças progressistas para conter essa onda.
Reprodução
A eleição de Bolsonaro em 2018 foi impulsionada por essa guinada à direita, enquanto a volta de Lula ao poder em 2022 seguiu um movimento global de retomada da esquerda, visto também em países como Chile e Colômbia. Essa guerra ideológica ultrapassa as fronteiras nacionais, sendo alimentada por interesses econômicos, geopolíticos e pelo papel das redes sociais na disseminação de discursos polarizados.
No fim das contas, tudo isso não passa de uma disputa pelo poder. Seja em São Bernardo ou em Copacabana, Lula e Bolsonaro sabem que a política é movida por narrativas, e ambas as manifestações serviram como palanques para seus projetos políticos. A história brasileira se repete em ciclos de polarização e mobilização popular, e o desfecho dessas narrativas ainda está em aberto. O destino político de Bolsonaro dependerá do que as instituições e a sociedade decidirão nos próximos capítulos.
Fonte: Portal A10+