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Em um gesto que mistura cálculo eleitoral com provocação geopolítica, o ex-presidente e agora candidato Donald Trump anunciou na quinta-feira (31) um tarifaço de 50% sobre uma ampla gama de produtos brasileiros. O decreto, que entra em vigor no dia 6 de janeiro de 2026 — já em seu possível segundo mandato, caso seja reeleito —, foi suavizado por uma lista de 700 produtos isentos da sobretaxa, entre eles:
Aeronaves civis e peças
Suco de laranja
Petróleo e derivados
Minério de ferro, ouro e alumínio
Fertilizantes
Eletrônicos, como celulares e computadores
Madeira e papel
Trump ataca, Brasil resiste: tarifaço e a sanção a Moraes nada devem impactar no julgamento de Bolsonaro no STF
Reprodução
Apesar do recuo parcial, a medida teve claro tom punitivo. O próprio Trump justificou as tarifas como resposta à “perseguição política” ao seu aliado Jair Bolsonaro no Brasil — numa alusão direta ao julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), presidido pelo ministro Alexandre de Moraes. No mesmo dia, o governo norte-americano impôs sanções a Moraes sob a Lei Magnitsky, usada tradicionalmente contra líderes acusados de corrupção ou violação dos direitos humanos.
Com a tarifa, produtos ficam mais caros ou baratos no Brasil?
O tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros não deve trazer alívio ao bolso do consumidor no Brasil. Pelo contrário: especialistas alertam que a carne bovina pode até subir de preço. A redução prevista nos abates no segundo semestre, motivada pela retenção de fêmeas para reprodução e pela queda nas exportações para os EUA — segundo maior comprador da carne brasileira — tende a encurtar a oferta. Embora possa haver um breve recuo nos preços por conta da pressão chinesa e da redução nos custos de ração, o cenário aponta para alta no médio prazo. O mesmo ocorre com a tilápia: 90% das exportações do peixe vão para os EUA, e a sobretaxa deve forçar o redirecionamento ao mercado interno, aumentando a oferta, mas com risco de quebrar a cadeia produtiva e gerar encarecimento posterior.
No caso do café, o impacto inicial também deve ser nulo ou de leve queda, já que parte da safra já está nos estoques e há previsão de boa colheita do tipo robusta, menos exportado aos americanos. Porém, se a tarifa for mantida por meses ou anos, o Brasil pode enfrentar perda de competitividade, redução de produção e, com isso, aumento nos preços futuros. Especialistas alertam que esse novo cenário de incertezas exige adaptação rápida do agronegócio brasileiro, que deverá buscar novos mercados enquanto lida com efeitos internos imprevisíveis.
Uma tentativa de intimidar o STF?
A sanção contra Alexandre de Moraes congela eventuais bens e proíbe sua entrada nos Estados Unidos, num gesto inédito de um governo americano contra um magistrado da Suprema Corte de um país democrático. A justificativa foi de que Moraes teria autorizado prisões arbitrárias e censuras indevidas, ao comandar processos ligados ao 8 de Janeiro e à tentativa de golpe articulada por militares e aliados de Bolsonaro.
Na prática, é um ataque à autonomia do Judiciário brasileiro — uma forma de pressionar o STF e constranger seus membros em plena condução do julgamento de Bolsonaro, que pode tornar o ex-presidente inelegível ou até levá-lo à prisão. A Suprema corte do Brasil emitiu nota em apoio a Moraes reafirmando que as decisões são referendadas pelo colegiado de ministros.
A resposta política no Brasil foi de unidade institucional. O presidente Lula repudiou publicamente a sanção e reafirmou sua confiança em Moraes. Ministros do STF e lideranças políticas, inclusive de centro e centro-direita, também defenderam a independência da Corte. Governadores como Eduardo Leite (RS) e Elmano de Freitas (CE), João Amoedo (ex-candidato a Presidência pelo NOVO), e o Presidente da Câmara, Hugo Motta (REP), entre outros congressistas, reforçaram que “nenhuma potência estrangeira tem o direito de julgar nossas instituições democráticas”.
O que pensa a população
A medida de Trump também revelou um país dividido. Segundo pesquisa da Quaest, divulgada em 16 de julho, os maiores apoiadores das tarifas são os bolsonaristas: 42% dos que se identificam com o ex-presidente defendem a atitude de Trump. Entre os que se dizem de direita (mas não bolsonaristas), o apoio é de 40%.
Já entre os que votaram em Bolsonaro no segundo turno de 2022, 41% acham que Trump está certo. Por outro lado, apenas 6% dos eleitores de Lula concordam com as tarifas, assim como 2% dos entrevistados que se dizem de esquerda, mas não lulistas.
A pesquisa também revela diferenças por gênero: 25% dos homens apoiam a medida americana, contra 14% das mulheres. E entre os que votaram nulo, branco ou se abstiveram, 15% acham que Trump está certo.
O apoio à ofensiva norte-americana é fortemente concentrado entre a base bolsonarista e setores da direita mais radicalizada. Na média geral, a desaprovação à intervenção externa prevalece. A maioria dos brasileiros — mesmo com críticas ao STF — não aceita que decisões sobre a democracia brasileira venham de Washington.
A diplomacia e o cenário eleitoral
Trump se coloca cada vez mais como o catalisador global da extrema-direita, mirando públicos como o bolsonarista no Brasil, o mileísta na Argentina ou o orbanista na Hungria. O tarifaço tem função interna (agradar seu eleitorado protecionista), mas também internacional: tentar desestabilizar governos progressistas ou instituições que investiguem aliados.
A retaliação contra Moraes, portanto, não é só contra o ministro — é contra o próprio modelo de justiça que impôs limites ao autoritarismo no Brasil.
Mesmo com a exclusão de produtos estratégicos da tarifa (como soja, ferro, petróleo), o gesto é visto como um ataque simbólico e uma ingerência perigosa. O Brasil, que já enfrenta desafios econômicos e políticos, agora lida com um alerta: a eleição americana pode ter impactos diretos na estabilidade democrática nacional.
Fonte: Portal A10+