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A maternidade é, na maioria das vezes, retratada como um período de plenitude, amor incondicional e realização pessoal... mas, na verdade, essa visão romantizada contrasta com a difícil realidade enfrentada por inúmeras mulheres diariamente. As transformações físicas, emocionais, sociais e psicológicas que acompanham a gestação e o pós-parto podem ter um impacto profundo na saúde mental das mães, especialmente quando somadas às pressões sociais, falta de apoio e expectativas irreais.
Entre as principais dificuldades do processo de maternidade estão a exaustão física e mental, a privação de sono, o sentimento de inadequação, o isolamento social e a sobrecarga de responsabilidades. Em casos mais graves, a depressão pós-parto, que compromete seriamente o bem-estar da mulher e o vínculo com o bebê, também pode ser observada.
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Além de declarações e presentes, celebrar o Dia das Mães é também lembrar e dar voz àquelas que também passaram por um dos momentos mais difíceis e desafiadores de suas vidas e, mesmo assim, resistiram a tudo e a todos. Gerar uma vida é uma enorme responsabilidade e que, por mais que seja transformadora e engrandecedora, é também um momento delicado onde tudo muda.
Entre o ideal e a realidade
Thais é psicóloga e mãe da pequena Ísis. Mesmo com formação na área da saúde mental, ela contou ao A10+ que viver o puerpério foi uma experiência profunda e desafiadora, marcada por sentimentos que contrastavam com o que esperava.
"A maternidade é, sim, transformadora. Minha filha é o amor da minha vida. Mas, mesmo sendo psicóloga, vivi um puerpério muito intenso. Senti na pele a diferença entre a maternidade idealizada e a realidade. A sociedade vende uma imagem linda, mágica, plena… e quando a realidade chega, com exaustão, dor, insegurança e solidão, a gente se sente perdida. Eu mesma me olhava no espelho e pensava: 'quem sou eu agora, além de mãe?'. A perda de identidade foi muito real pra mim", disse.
Da UTI neonatal ao amor pleno: uma maternidade fora do script
Priscila é mãe da pequena Elis e viu sua jornada começar de maneira inesperada. Logo após o parto, a bebê precisou ser internada em uma UTI neonatal, o que transformou o início da maternidade em um verdadeiro teste de resiliência.
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“Minha experiência pós-parto foi um caso à parte. Tivemos vivência em UTI neonatal e já foi um início completamente fora da rota. Daí aprendi que a maternidade exige que a gente se desprenda das expectativas e planejamentos. Na UTI neo a gente encontra com todos os tipos de dores e aprende muito com a resiliência e a fé das mães e dos pais que vivem naquele ambiente. Nos primeiros dias, tive a sorte de contar com o total e integral apoio do meu marido e isso fez total diferença como suporte emocional durante nossa internação. Ficamos 10 dias no hospital, a Elis foi pra casa com 10 dias de vida. O dia daquela alta tá no Top 3 de melhores dias da minha vida.”
O retorno para casa marcou o início de uma nova fase, igualmente intensa.
“Ninguém te prepara pra passar pelo puerpério, é exaustivo fisicamente e psicologicamente. Hoje lembro desse período como se fosse uma lembrança bem distante, mas lembro que me senti sozinha durante muitas madrugadas, muito embora meu marido estivesse comigo em todas elas. Com o tempo não fica mais fácil, mas você se torna especialista em ser mãe kkkkkk então de certa maneira parece mais leve. Nesse tempo como mãe, o maior desafio mental que precisei enfrentar foi de internalizar que tudo é passageiro e que as dificuldades não deveriam atrapalhar ou impedir de ver e viver cada etapa do desenvolvimento da minha filha. O cansaço e a exaustão às vezes consomem a gente, passar por isso de maneira mais leve foi minha maior dificuldade e meu maior aprendizado.”
A importância da rede de apoio
Para ambas as mães, contar com apoio emocional e prático foi essencial. Thais destaca o papel crucial da corresponsabilidade na criação dos filhos: "A maternidade não pode ser vivida sozinha. Sozinha, a mulher adoece. A rede de apoio não é um 'extra', é essencial. E o parceiro ou parceira não tem que 'ajudar', mas sim dividir responsabilidades. Isso é corresponsabilidade. A criação de um filho é coletiva."
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"A verdade é que não sei como conseguiria se não fosse a rede de apoio que tivemos. Na verdade ainda hoje me pergunto como as mães que não têm rede de apoio conseguem. Minha família foi essencial no meu puerpério, nos cuidados comigo e com minha filha", contou Priscila.
A culpa que insiste em ficar
Um dos sentimentos mais recorrentes na maternidade real é a culpa. Para Thais, ela está diretamente ligada às expectativas inalcançáveis que são impostas às mães.
"A cobrança para dar conta de tudo e ser a mãe perfeita, presente, paciente, amorosa 24h por dia, adoece. A culpa aparece mesmo quando a gente só quer um banho tranquila ou cinco minutos de silêncio. E nas pacientes que atendo, vejo isso com muita frequência: mulheres incríveis que se sentem insuficientes por não estarem sempre felizes ou por precisarem de tempo pra si. A culpa materna nasce dessa expectativa irreal que nos é imposta."
Priscila também reconhece esse sentimento e tem buscado formas de lidar com ele. "A culpa é um sentimento constante da maternidade. A gente sempre acha que poderia ter feito melhor, se esforçado mais, previsto alguma coisa, imaginado outra. Como sou mãe de primeira viagem, isso é ainda mais presente, mas tenho tentado levar pra terapia. Acho que tenho me saído bem até agora."
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Quando é hora de pedir ajuda
Para Thais, reconhecer os sinais de sofrimento emocional é essencial para que as mães não carreguem tudo sozinhas.
"Quando a mulher percebe que não está mais conseguindo funcionar como antes, que está triste constantemente, exausta, sem vontade de nada, se sentindo sobrecarregada emocionalmente, já é hora de buscar ajuda. O sofrimento não precisa se arrastar pra ser validado. O autocuidado precisa ser acessível e realista. Não é sobre luxo, é sobre sobrevivência. Às vezes, é tomar um banho em paz, comer com calma, sair pra caminhar, conversar com uma amiga, fazer terapia. Pequenas pausas que ajudam a mulher a se reconectar consigo mesma e por muitas vezes, com o parceiro ou parceira."
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O tempo, a força e o recomeço
Ao longo da experiência com a maternidade, Priscila conta que aprendeu a enxergar o tempo de outra maneira.
"O maior aprendizado que tive até agora é sobre a urgência das coisas. Será mesmo que é urgente? Será que o tempo precisa mesmo da pressa que dou a ele? Acho que aprendi a desacelerar e a observar as pequenas coisas. Também aprendi que sou mais forte do que imaginei ser."
Para Thais, a caminhada da maternidade é contínua, cheia de altos e baixos, mas não precisa ser solitária. "Não existe um fim definitivo, porque a maternidade segue nos desafiando. Mas se tem algo que aprendi, é que você não está sozinha. A maternidade é linda, mas também é dura, exaustiva. E tudo bem sentir isso. Amar seu filho não anula seu cansaço. Por isso, em breve vou iniciar grupos terapêuticos voltados para mães, justamente pra criar espaços de acolhimento, escuta e fortalecimento. Porque juntas, a gente se sente menos só e mais viva".
E Priscila encerra com um conselho cheio de carinho e esperança.
"Acho que o principal conselho que posso dar é: ‘vai passar’. Parece clichê e uma resposta vazia, mas é exatamente isso. Quando a gente vive parece que o tempo não passa, que as respostas precisam ser imediatas, mas isso também é um dos aprendizados. No meio de tanta demanda, sempre que acho que não vou conseguir dar conta, basta só a Elis sorrir ou fazer algo novo que esqueço tudo. É inexplicavelmente a maior e melhor coisa que já senti na vida", finalizou.
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Fonte: Portal A10+