Delegada analisa casos de feminicídio no Piauí e reforça importância de medidas protetivas - Polícia
ENTREVISTA

Delegada analisa casos de feminicídio no Piauí e reforça importância de medidas protetivas

Em entrevista ao Bom Demais, da TV Antena 10, Nathalia Figueiredo cita casos que repercutiram no Estado


📲 Siga o A10+ no Instagram, Facebook e Twitter.

Em 2023, cresceu o número de registros de casos de feminicídio no Piauí. Em entrevista à TV Antena 10, a delegada titular do núcleo de feminicídio do Piauí, Nathalia Figueiredo, comentou sobre o caso da estudante de jornalismo, Janaína Bezerra, e da blogueira Samynha Silva, morta a tiros no último sábado (30). Ela cita o caso de Janaína Bezerra como o mais marcante na sua atuação policial no Piauí. 

  

Delegada Nathália Figueiredo
Jade Araujo / Portal A10+
   

"Estava voltando com um preso na estrada quando eu fui informada do caso. Na hora ficou aquela preocupação, de querer agir, mas nós estávamos em deslocamento. Então foi um caso que realmente impactou o Brasil inteiro. A nossa equipe recebeu no sábado, iniciamos a investigação formal, porque já estava transcorrendo, e ele já tinha sido autuado em flagrante. Então eram oito dias para fechar o caso. Foi uma força tarefa da Polícia Civil como um todo, foi um caso que a gente conseguiu, no meu entender, solucionar a contento, tanto que produzimos provas irrefutáveis. Foi um caso que de fato marcou, acredito que o núcleo policial como um todo, na questão profissional", relata. 

No sábado (30) Thyago Mayson foi condenado a 18 anos de prisão. A delegada se mostrou surpresa com a pena aplicada ao acusado. Um dos pontos levantados foi a qualificadora de feminicídio não ter sido aceita pelo júri. Nathalia Figueiredo explicou que a qualificadora do feminicídio é prevista no Código Penal em duas situações: se for morte da mulher em decorrência de violência doméstica e familiar ou se for pelo menosprezo e discriminação pelo fato de ser mulher, fato identificado no caso de Janaína Bezerra.

  

Janaína Bezerra foi estuprada e morta após calourada dentro da UFPI
Reprodução
   

"O inquérito foi muito bem instruído, foi um trabalho conjunto da Polícia Civil com a parte da inteligência porque fizemos a extração do celular dele que tinham imagens, vídeos que mostravam que ele era indiferente a vida da vítima. O Instituto de criminalística fez um excelente local de crime através disso constatamos que houve fraude processual. E diante de tudo isso mostrou que Janaína passou por intenso sofrimento físico e psicológico. Então eu não admito entender que houve uma imprudência por parte de Thiago, para mim e para toda equipe que trabalhou não houve homicídio culposo. Ele assumiu sim o risco. A questão dele era satisfazer de forma brutal a violência sexual, o desejo sexual, e a vida da vítima era indiferente", reforça.  

Outro caso de repercussão foi a morte da blogueira Samynha Silva, assassinada a tiros no último final de semana na zona Leste de Teresina. O caso foi encaminhado à delegacia de feminicídio e as investigações estão em curso. 

"A Polícia Civil está trabalhando. Existe uma força tarefa para solucionar esse caos, mas não vamos entrar em detalhes. Se eu falar que acredito que ela foi morta pelo fato de ser mulher, estarei antecipando uma coisa que já foi trabalhada. A questão é que morte de mulheres é algo que tem de ser debatido. Então eu não vou antecipar, até porque estamos trabalhando no caso, mas é realmente preocupante o número de mulheres mortas", relata. 

Trajetória como delegada de feminicídio

Natural do Piauí, Nathalia Figueiredo conta que por quatro anos atuou como delegada no Ceará, até retornar ao Piauí em 2018 para assumir a delegacia da mulher em Campo Maior. 

"Quando eu assumi aqui como delegada primeiro fui para Campo Maior, fui delegada por pouco mais de um ano, como delegada da mulher, e foi quando eu comecei a abraçar a causa que muitas vezes é uma causa muito silenciosa. Muitas mulheres se calam ainda pelo receio, por retaliação do companheiro, por questões da família, quanto a mulher por ter denunciado porque o autor acaba sendo preso. Então em Campo Maior eu abracei a causa. Pouco mais de um ano eu assumi, como delegada aqui, assumi o núcleo policial investigativo de feminicídio e foi quando eu passei atuar mais diretamente na questão da morte de mulheres em decorrência do fato de serem mulheres", narra. 

  

Delegada Nathália Figueiredo em entrevista ao Bom Demais
Jade Araujo / Portal A10+
   

Com quase sete anos de atuação na área, a delegada destaca a importância das medidas protetivas. Ela analisa que com o tempo a lei Maria da Penha foi ganhando força e a medida protetiva somou agregadores de proteção a mulher, como a inclusão da Patrulha Maria da Penha e aparatos de segurança. 

"Antes não tínhamos um Ministério das Mulheres, hoje existe. Aqui no Piauí, seguindo a linha do Governo Federal, foi criada a Secretaria de Mulheres. Então a questão doméstica familiar, ela está ganhando a importância que realmente deve ter tanto no cenário legislativo quanto no cenário do poder judiciário. Em relação as medidas protetivas é porque ainda as mulheres não estão vendo a importância que são as medidas protetivas. As medidas protetivas são uma questão a mais na proteção da mulher. É através dela que o agressor é proibido de manter contato, de se aproximar, qualquer tipo de contato, e se houve haverá o crime de descumprimento de medida protetiva. Em 2016 dos casos de feminicídio, 97% as mulheres não tinham pedido medida protetiva. O problema não é a medida é justamente não pedir a medida e deixar de pedir mais um elemento, um elo na corrente contra a violência doméstica familiar", explica.

Fonte: Portal A10+


Dê sua opinião:

Fique conectado