Tarifaço de Trump pode tirar até 0,5% do PIB brasileiro e expõe fragilidades do comércio exterior - Política
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Tarifaço de Trump pode tirar até 0,5% do PIB brasileiro e expõe fragilidades do comércio exterior

Especialistas avaliam que saldo na balança comercial cairá US$ 9,4 bilhões; carne, café e aviação devem ser setores mais atingidos


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A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode provocar uma retração de até 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e uma perda de até US$ 9,4 bilhões na balança comercial, segundo projeções iniciais de economistas ouvidos pelo R7. A medida está prevista para entrar em vigor em 1º de agosto.

O impacto, embora ainda cercado de incertezas, seria resultado direto da perda de competitividade de setores estratégicos como carne, café, pescado, aviação e siderurgia — e escancara gargalos estruturais do comércio exterior brasileiro.

 
Tarifaço de Trump pode tirar até 0,5% do PIB brasileiro e expõe fragilidades do comércio exterior
Daniel Torok/ Official White House Photo
 

Além da desaceleração econômica, os analistas apontam efeitos negativos sobre a balança comercial, o investimento estrangeiro e o mercado de trabalho.

Doutor em economia e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Hugo Garbe calcula que o saldo comercial brasileiro pode encolher até US$ 9,4 bilhões, o equivalente a 0,44% do PIB atual, estimado em US$ 2,17 trilhões.

“É difícil estimar, ainda estamos fazendo diversas simulações porque são vários setores afetados, mas a gente já prevê que, mantendo a tarifa, pode impactar até 0,5% do PIB. É muita coisa”, afirmou.

Ele avalia que o tarifaço funciona como um “teste de estresse” para o modelo de comércio exterior brasileiro.

“Existem diversas barreiras regulatórias, culturais e principalmente sanitárias que condicionam a entrada de produtos brasileiros em destinos que a gente pode definir como alternativos ao mercado norte-americano”, explicou.

Café, suco de laranja e aviões na mira

Produtos tradicionais da pauta exportadora brasileira, como café e suco de laranja, estão entre os mais ameaçados. “Os Estados Unidos são um dos maiores consumidores do grão brasileiro, especialmente aquele café 100% arábico, que são os cafés especiais”, explicou Garbe.

Segundo ele, encontrar mercados alternativos não será simples. “O mercado europeu impõe padrões de rastreabilidade e sustentabilidade que ainda não são universalizados no Brasil. Você não tem como transferir de forma imediata volumes que a gente exporta hoje café para o mercado norte-americano para toda Europa ou Ásia, por exemplo.”

Assim como Garbe, o economista Newton Marques, membro do Corecon-DF (Conselho Regional de Economia do Distrito Federal), vê um possível impacto de até 0,5% no PIB. Segundo ele, o prejuízo tende a ser generalizado.

“Esse tarifaço tende a trazer um impacto muito negativo para nossas exportações. O comércio entre o Brasil e os Estados Unidos é muito forte”, disse. Ele lembra que São Paulo, estado com maior volume de exportações para os EUA, será um dos mais atingidos.

“Se você tem uma cadeia produtiva voltada para exportações e tem uma forte desaceleração, isso acaba impactando. A economia brasileira tende a sofrer esse tarifaço em relação a emprego e investimentos”, afirmou.

Marques também vê risco de fuga de capitais e de desvalorização cambial. “Se os investidores veem que não existem setores rentáveis aqui no Brasil, eles podem repatriar esses capitais e provocar essa desvalorização e uma fuga.”

Consequências internas e diplomacia limitada

Parte dos produtos poderá ser redirecionada ao mercado interno, o que, segundo Marques, tende a pressionar os preços para baixo. “A carne, se não for exportada, vem para o mercado interno e derruba o preço. Café também”, ressaltou o economista.

“Mas é uma soma de resultados que não é boa. A economia tem que se preocupar com o setor externo e com o setor doméstico. Não dá para cantar vitória só porque um produto ficou mais barato aqui dentro.”

O economista e professor de mercado financeiro da UnB (Universidade de Brasília) César Bergo avalia que a medida pode levar a uma redução de até 0,2 ponto percentual no crescimento da economia brasileira neste ano e de 0,6 ponto percentual em 2026, caso o “cenário mais grave” se confirme.

Na semana passada, o Ministério da Fazenda elevou a projeção de crescimento da economia brasileira de 2,4% para 2,5%. Já a projeção do mercado cita uma alta em torno de 2,2%.

“Num cenário mais pessimista, o impacto no PIB seria de 0,2 ponto percentual em 2025 e de 0,6 ponto percentual em 2026. Isso se zerarem as exportações, o que não acreditamos que vai acontecer. Então, se o pior cenário acontecer, o PIB vai crescer 2% neste ano e 1,3% ano que vem”, explicou.

Bergo também ressalta que os efeitos serão sentidos nos dois lados. “Quem vai pagar o imposto é o norte-americano. Vai subir o preço no mercado americano. O preço brasileiro vai ser o que está cotado no mercado internacional”, disse.

Ele também lembrou que parte das exportações previstas para este ano já está contratada, o que tende a minimizar os efeitos da tarifa no curto prazo.

“Nesse primeiro momento, os contratos já estão assinados, muitos produtos já estão embarcados. Então, nós acreditamos que esse ano vai ser residual o impacto no PIB”, disse.

O economista avalia que o dólar pode até subir no curto prazo, mas não vê risco de fuga generalizada. “O Brasil ainda é uma grande oportunidade no mundo inteiro. Tem risco relativo, mas tem um retorno muito positivo.”

Fonte: R7


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