Defesa de policial acusado de matar Débora Vitória apresenta errata de laudo, mas delegada afirma que documento não muda resultado

Advogado diz que errata aponta que projétil não saiu da arma do PM; delegada rebate e diz que resultados não foram alterados. Crime aconteceu em 2022

Atualizada às 15h48

O advogado Otoniel Bisneto, que representa o policial José da Cruz Bernardes Filho, apresentou à TV Antena 10 e ao A10+ nesta terça-feira (30), uma errata dos resultados do exame de microcomparação balística da arma de seu cliente e do assaltante preso envolvido no caso; o PM é acusado de ter disparado o tiro que matou a menina Débora Vitória, de 6 anos, em novembro de 2022, em Teresina. Em resposta às declarações da defesa, a delegada Nathália Figueiredo, responsável pelo caso, esclareceu ao A10+ que a errata mencionada pelo advogado não altera o conteúdo técnico do laudo que aponta o PM como autor do disparo contra a criança.


De acordo com o advogado, o novo documento apontaria falhas em exames anteriores e reforçaria que o projétil que atingiu a criança não teria sido disparado pela arma do militar. Ele ainda argumenta que há uma tentativa de difamar seu cliente nas redes sociais. Na segunda (29), o A10+ mostrou que a mãe da vítima avistou o acusado, por acaso, na sede do Detran. O encontro, inesperado, provocou um sentimento de impunidade na manicure que, até hoje, espera o julgamento acerca do caso. 

  

Defesa de policial acusado de atirar na menina Débora Vitória apresenta errata de laudo, mas delegada afirma que documento não muda resultado
TV Antena 10

   

“A mãe da vítima está ocupando lugar em rede social para denegrir a imagem do policial. De acordo com o Código Civil, no artigo 17, é bem claro que a imagem de ninguém pode ser usada para esse tipo de prática. Em tese, ela está incorrendo em crime de difamação. Vou conversar com o tenente se a gente adota ou não as medidas cabíveis para que ela seja também processada pelo crime de difamação e calúnia por imputar ao tenente o cometimento de um crime”, disse o advogado Otoniel Bisneto, que faz a defesa do tenente da Polícia Militar, José da Cruz Bernardes Filho, à TV Antena 10. 

Segundo Otoniel Bisneto, a errata traria novos elementos que inocentariam seu cliente. “Ele está sendo injustamente acusado. Durante mais de um ano procuramos o exame de micro comparação balística e, depois de um ano, por intercessão da juíza, obtivemos êxito e tiramos dos porões da delegacia o exame que comprova que o tenente não é o autor do disparo”, declarou.

  

Errata apresentada pela defesa do PM
TV Antena 10

   

Ele ainda reforça que a munição usada pelo policial tem características diferentes da que foi retirada do corpo da menina. “A mãe da vítima insiste em dizer que a morte é imputada ao acusado. Trouxemos o laudo de microcomparação balística e nele temos a figura da ogiva que foi do projétil que foi retirado do corpo da vítima. É um projétil de chumbo, mais enegrecido, com características próprias. Tem também o projétil do acusado, deflagrado pelo acusado em direção ao assaltante, e esse projétil nitidamente tem uma jaqueta de cor mais amarelada. A perícia foi muito clara: o projétil que foi encontrado no corpo da vítima não foi expelido pela arma do policial. É simples, difícil, mas ela tem que aceitar esse fato.”

Delegada rebate versão da defesa

Em resposta às declarações da defesa, a delegada Nathália Figueiredo, responsável pelo caso, esclareceu ao A10+ que a errata mencionada pelo advogado não altera em nada o conteúdo técnico do laudo. Segundo ela, a modificação diz respeito apenas à legenda de uma foto e à última frase do documento, sem impacto nas conclusões da perícia, que continua apontando que o disparo que matou a menina saiu da arma do tenente da PM.

  

O tenente da Polícia Militar, José da Cruz Bernardes Filho
Reprodução/ TV Antena 10

   

“Na verdade houve uma errata, que é só uma correção, mas essa correção só foi no que tange à legenda de foto e à frase que fechou o laudo; não teve alteração do resultado. O projétil que atingiu a vítima partiu da arma do PM. Eu não entendi por que o advogado está trazendo informação que não condiz com o laudo, porque a única coisa dessa errata, que foi juntada há anos atrás, salvo engano em 2023, foi só uma alteração, mas não alterou nada no resultado. Ele deve estar se confundindo, porque o perito fez um laudo bastante descritivo”, rebateu a delegada.

Conclusões periciais e indiciamento do policial

O inquérito conduzido pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu, ainda em 2022, que o tiro que matou Débora Vitória saiu da arma do tenente José da Cruz Bernardes Filho. O policial foi indiciado por homicídio doloso.

Novos laudos realizados em 2023, incluindo exames de microbalística, croqui 3D e reprodução simulada, confirmaram novamente a autoria do disparo como sendo do PM.

  

Caso Débora Vitória: mãe aguarda julgamento de ex-policial responsável pela morte da filha
TV Antena 10/A10+

   

Ainda segundo a delegada, tanto Dayane Gomes, mãe da criança, quanto o assaltante Clemilson da Conceição Rodrigues afirmaram, em depoimento, que o tenente estava alcoolizado no momento da ocorrência.

Encontro de mãe de vítima com autor

O caso voltou à tona nesta segunda-feira (29), depois que a mãe da criança, Dayane Gomes, encontrou o acusado na sede do Detran, em Teresina, e gravou um vídeo mostrando o policial andando livremente pelo local. Ela se disse revoltada e afirmou que o PM “está vivendo normalmente”.


Relembre o caso

Em novembro de 2022, Débora Vitória estava na companhia da mãe, a manicure Dayane Gomes, quando ambas foram surpreendidas por um criminoso em uma motocicleta que anunciou o assalto no bairro Ilhotas, em Teresina. Testemunhas relataram à polícia que o policial José da Cruz teria visto a situação e reagido com disparos, momento em que se iniciou uma troca de tiros e as vítimas foram atingidas. O caso ocorreu no dia 11 de novembro e um projétil disparado pelo PM atingiu a menina, que não resistiu aos ferimentos e faleceu.