A Polícia Civil concedeu uma coletiva na manhã desta terça-feira (11) sobre a Operação Macondo, que teve como foco um grupo de agiotas atuante no Piauí. Segundo as autoridades, todos os presos são estrangeiros, e o grupo criminoso é apontado como responsável por desaparecimentos, pelo menos dois homicídios e um caso de extorsão que resultou em suicídio em Teresina.
Durante a coletiva, os delegados detalharam que as investigações identificaram vários casos de ameaças. As vítimas, em sua maioria, eram pequenos comerciantes e feirantes que, por não terem acesso a crédito em grandes instituições financeiras, acabavam recorrendo aos agiotas devido à facilidade oferecida por eles.
"Então a gente tem muita ameaça, mas em destaque a gente tem um caso de homicídio em Oeiras, um caso de homicídio em Parnaíba, e esse indivíduo que se suicidou em razão de estar sendo extorquido por esses indivíduos de nacionalidade estrangeira. A gente apura o envolvimento de nacionais da Colômbia nesse desaparecimento", detalhou o delegado Yan Brayner à TV Antena 10.
A polícia investiga a origem dos recursos utilizados pelo grupo, mas não descarta a possibilidade de que parte desse dinheiro provenha do narcotráfico, já que a Colômbia é um dos principais produtores de entorpecentes destinados ao comércio na América do Sul e entre os investigados há diversos colombianos.
"A gente precisa aprofundar um pouco mais de onde está vindo esse dinheiro, sendo conhecedor da possibilidade de ser dinheiro oriundo do narcotráfico, uma vez que esses países, principalmente a Colômbia, é um grande produtor de cocaína aqui na América do Sul. Então, é bem possível que esse dinheiro tenha essa origem ilícita. Na verdade, só nas apreensões a gente tem um fato material probatório que já comprova tudo o que a gente já produziu em série inquisitorial", disse.
De acordo com os delegados, os serviços de empréstimo eram divulgados principalmente através de cartazes afixados em paredes e postes espalhados pelas cidades, anunciando a aquisição de valores com pagamento parcelado e fácil.
O presidente do inquérito, delegado Roni Silveira, também falou durante coletiva e destacou que foram identificadas transações que começavam em R$ 200,00. Em alguns dos casos, os investigados cobravam juros diários às vítimas, deixando o valor do pagamento abusivo.
"A gente tem, por exemplo, nos cartões apreendidos, valores que começavam ali em 200 reais, e esses pagamentos eram diários. Então o indivíduo calculava ali num prazo de 20 dias, ele distribuía 1% ao dia, portanto 20% em 20 dias, e o pagamento era diário. Então eram pequenas frações pagas diariamente. Se o indivíduo quisesse pegar ali mais, um valor maior, era possível. Os cartões que foram apreendidos na casa de um dos alvos, só a título de exemplo, os valores começavam em 200 e iam até 1.500 reais para pagamentos diários. Só que a gente tem anotações em cadernos que foram apreendidos com valores maiores, prazos diferenciados, uma prática de juros também diferenciada, então a gente tem uma variedade de valores, prazos e taxas de juros", disse.
O delegado Leonardo Alexandre contou que o inquérito apura um caso de extorsão que culminou em um suicídio e afirmou que um dos investigados na situação já está preso por uma outra operação deflagrada pelo Denarc.
"Essa vítima veio a cometer suicídio por conta das pressões que sofreu em razão desse grupo criminoso. Um dos investigados, o principal investigado é brasileiro, se encontra preso por outra investigação desencadeada pelo DNARC. No entanto, durante a investigação foi perceptível a presença de pessoas estrangeiras, notadamente colombianos, que faziam parte desse grupo e estariam também atuando com a ação contra essa pessoa. O que está sendo investigado é a extorsão praticada contra essa pessoa. A vítima veio a óbito, mas não apaga o crime anterior. A pressão era direcionada especificamente para o responsável pela aquisição da dívida. No ent
anto, os familiares têm plena consciência do fato. Inclusive foi apreendida o celular da vítima. E a partir de agora nós vamos fazer esse aprofundamento na investigação para poder compartilhar com a equipe da S.O.I.", concluiu o delegado.
Operação Macondo
A Secretaria de Segurança Pública deflagrou, na manhã desta terça-feira (11), a operação Macondo e cumpriu medidas judiciais contra investigados por integrarem um esquema de concessão de crédito regular (agiotagem), associado a lavagem de dinheiro e outros crimes. A Operação aconteceu nas cidades de Teresina, Parnaíba, Oeiras, Barras, Picos e Água Branca.
De acordo com a polícia, foram cumpridos 15 mandados de prisão e 18 mandados de busca e apreensão. Além disso, foi determinado bloqueio judicial de R$ 5 milhões em contas vinculadas aos investigados.
Ainda segundo a polícia, o grupo era formado, em sua maioria, por estrangeiros vindos da Colômbia e Venezuela, e atuava oferecendo empréstimos informais a comerciantes, vendedores ambulantes e trabalhadores autônomos. Esses empréstimos eram feitos de forma imediata, sem contrato formal e com juros abusivos que ultrapassavam os 30% ao mês.