Caso Marielle: júri de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz será finalizado nesta quinta

Nove testemunhas, além dos dois réus, foram ouvidos no primeiro dia de julgamento

O júri popular dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, réus pela morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, vai para o segundo dia nesta quinta-feira (31), faltando o pronunciamento da defesa e acusação e, por fim, o veredito.

A sessão está marcada para começar às 8h. O julgamento começou na quarta-feira (30), e nove testemunhas foram ouvidas durante o dia, seguidas pelo interrogatório de Lessa e Élcio, que finalizou às 23h55. Eles confessaram serem o atirador e o motorista, respectivamente.

  

Marielle Franco divulgação
   

Os dois são julgados por um júri de sete pessoas, todos homens. O julgamento é presidido pela juíza Lúcia Glioche. O Ministério Público do Rio informou que vai pedir a condenação máxima para os réus. Os dois foram denunciados por duplo homicídio triplamente qualificado, um homicídio tentado e receptação do carro utilizado no crime. A pena pode chegar a 84 anos de prisão.

Lessa e Élcio estão presos, por isso, participam do julgamento por videoconferência diretamente das unidades onde estão. Lessa cumpre pena por outro crime na penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. Já Queiroz está no Complexo da Papuda, em Brasília.

Os dois estão detidos desde 2019. Nesse período, eles firmaram acordo de delação premiada com a Justiça. Em depoimento, Lessa confessou ser o autor dos disparos que atingiram a parlamentar e o motorista, enquanto Élcio admitiu ser o condutor do carro usado no crime.

A primeira testemunha ouvida foi a assessora Fernanda Chaves, que estava no carro com Marielle no dia do crime, em 14 de março de 2018. Em depoimento, ela afirmou que o corpo da vereadora serviu de escudo para que conseguisse sobreviver, e disse que só está viva porque não estava usando cinto de segurança na ocasião e conseguiu se abaixar quando ouviu os tiros.

Marinete da Silva, a mãe de Marielle, e a companheira da vereadora, Mônica Benício, foram ouvidas em seguida. A viúva de Anderson, Agatha Reis, também deu depoimento.

Durante a interrogação, Lessa confirmou as informações dadas durante delação premiada e esclareceu detalhes sobre o crime. Ele disse que se a arma utilizada tivesse sido um revólver, Marielle teria sido a única vítima. “Infelizmente, aconteceu a questão do Anderson. Não era a finalidade, não era finalidade a dona Fernanda. Eu acertei na vereadora Marielle, porém sabendo do risco que eu corria, sabendo que podia atingir outra pessoa", completa.

Ronnie Lessa, mais uma vez, disse que Marielle foi morta porque era “uma pedra no caminho”. O motivo seriam dois loteamentos que valiam R$ 50 milhões cada. De acordo com ele, a parte dele seria de R$ 25 milhões. “Eu fiquei cego”, disse Lessa.

O assassino confesso, em certo momento, também pediu perdão pelo crime. “Queria pedir perdão às famílias do Anderson, Marielle, a minha própria, a dona Fernanda, e a sociedade. Infelizmente não podemos voltar no tempo", afirmou.

Élcio de Queiroz foi ouvido em seguida. No depoimento, ele disse que até o dia do crime não sabia dos planos de matar Marielle e nem quem era a vereadora. Segundo ele, Lessa o chamou para ajudar no dia e só então disse que a vereadora era um alvo. Élcio afirma que questionou se o motivo seria dinheiro e que Lessa teria respondido que o motivo “era pessoal”.

O ex-policial também afirmou que se surpreendeu com a notícia de que Anderson também tinha sido morto. “Como o Ronnie era um exímio atirador, eu não acreditava que teria acontecido algo com alguém. Eu acreditava que só a Marielle teria morrido", disse.

De acordo com Élcio, ele torceu que algo acontecesse no caminho para evitar que o assassinato fosse feito, mas que efetivamente não fez nada, pois sabia que podia se tornar um alvo. “Eu não tinha como refugar, a não ser que alguma coisa anormal acontecesse no trajeto", afirmou.

Quem prestou depoimento

Quem mandou matar Marielle?

Em outro processo, o deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro Domingos Brazão são julgados como mandantes do assassinato. A ação deles corre no STF (Supremo Tribunal Federal), já que Chiquinho Brazão é parlamentar e tem foro privilegiado. Os dois negam envolvimento com a morte da vereadora.

Em depoimento ao STF, na semana passada, Domingos Brazão chegou a dizer que ‘preferia ter morrido no lugar da Marielle’.

Ainda respondem pelo crime o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa — acusado de atrapalhar as investigações, o ex-policial Ronald Paulo de Alves e o ex-assessor de Domingos, Robson Calixto Fonseca.