Lucélia Maria, vizinha acusada injustamente de matar crianças envenenadas, é declarada inocente pela justiça do Piauí, anuncia defesa

Ela chegou a ficar quase cinco meses presa por um crime que não cometeu; caso teve reviravolta e familiares foram os verdadeiros responsáveis

Doze meses após ter sido presa injustamente sob a acusação de envenenar e matar os irmãos João Miguel, de 7 anos, e Ulisses Gabriel, de 8, em Parnaíba, litoral do Piauí, Lucélia Maria foi declarada inocente pela Justiça do Piauí nesta terça-feira (14), conforme informou seu advogado, Sammai Cavalcante.

Lucélia chegou a passar quase cinco meses presa por um crime que comoveu o país, mas as investigações posteriores revelaram que as mortes foram planejadas pelo padrasto, Francisco de Assis. Ele e a companheira, Maria dos Aflitos, estão atualmente presos pelos assassinatos dos familiares.

  

Lucélia Maria da Conceição, de 52 anos
TV Antena 10

   

O advogado de Lucélia comemorou a decisão e afirmou que vai buscar reparação para Lucélia Maria, não por sensacionalismo, mas pelo “merecimento”. A mulher, que teve a casa a incendiada pelos vizinhos que ficaram revoltados com o crime, à época do caso, só saiu da cadeia após um laudo apontar, em janeiro deste ano, que os cajus consumidos pelos irmãos não estavam envenenados. No documento, que o A10+ obteve acesso, à época, “não foram detectadas substâncias de interesse toxicológico” nas amostras analisadas pela equipe.


“Um dia muito especial, finalmente foi publicada a decisão judicial do caso Lucélia. Declaração de inocência pelo juiz da 1ª Vara Criminal da Comarca. Venho dar essa notícia com alívio, satisfação e sentimento de dever cumprido. Acompanhei todo sofrimento da família. Iniciaremos um novo capítulo que tanto sofreu em busca das reparações, não em busca de sensacionalismo, mas merecimento”, destacou o advogado. 

Em fevereiro deste ano, a defesa já havia relatado ao A10+ que iria solicitar até R$ 1 milhão em danos materiais e morais à Lucélia. Em setembro, durante audiência de instrução, Francisco de Assis declarou que tinha um forte vínculo afetivo com as crianças, chegando a apresentar João Miguel como filho dele. “Esse menino era muito querido por mim, levava ele na casa da minha mãe, dava comida na boca dele, deitava com ele. (…) Sofri muito com a morte dele”, declarou. 

Emocionada, vizinha que foi acusada de envenenar crianças revela detalhes do cárcere e pede justiça no Piauí: "foi muito triste viver aquilo"

Lucélia Maria da Conceição, de 52 anos, que foi solta após quase cinco meses sob acusação de envenenar duas crianças em Parnaíba, concedeu entrevista à TV Antena 10 em janeiro deste ano e deu detalhes sobre o período em cárcere. Ela deixou a Penitenciária Feminina de Teresina na noite de ontem e está residindo na casa de parentes. A defesa busca agora uma declaração de inocência e indenização.


Para a reportagem, Lucélia Maria explicou que ao longo de todos esses meses detida buscou ficar mais reclusa e evitar maiores contatos com outras detentas. A justiça determinou a soltura após a divulgação de um laudo que mostrou que não foi encontrado veneno nos cajus que foram doados pela vizinha às vítimas. O caso ganhou uma grande reviravolta e a mulher, que estava presa desde agosto de 2024, pode ser inocentada.


“Eu ficava todo tempo na minha cama, sentada lendo a bíblia e orava. Evitada ficar no meio dos outros que ficavam me criticando. Ficava todo tempo no meu canto com medo delas fazerem alguma coisa comigo, pois não acreditavam na minha palavra. Eu não aguentava mais estar ali. Fiquei com muito medo. Ela ficavam dizendo que não gostavam de quem maltratava criança, que matava criança; que uma pessoa dessa merecia apanhar e até morrer. Isso eu ouvia muito", narrou. 

Lucélia Maria relatou que foi muito triste o que viveu e nunca passou por sua cabeça um cenário desses. Ela conta que chorou ao ver o registro de sua residência incendiada. Ela morava em uma área de risco em Parnaíba e ganhou o imóvel em 2015. 

  

Casa da Lucélia Maria chegou a ser destruída por populares A10+

   

“Foi muito triste viver aquilo ali e nunca tinha passado pela minha cabeça ser presa daquele jeito por injusta causa. Lembrava da minha família dia e noite chorando. Quando eu soube que minha casa foi destruída, eu chorei mesmo. Desde o começo quando fui presa eu disse que não era eu, mas ninguém acreditava. Eu ganhei (a casa) em 2015 e desde 2015 e morava naquela casa e foi destruído tudo, as minha coisas. Quando eu soube eu chorei muito, ainda hoje fico constrangida. Eu estou na casa dos meus parentes”, afirma.