Pai de Vanessa Carvalho critica pena aplicada a Pablo Campos e desabafa: "Julgamento foi um circo"

No caso da enfermeira, empresário foi condenado a 11 anos de prisão

“Aquele julgamento pra mim foi um circo”, esse é o desabafo do pai de Vanessa Carvalho, enfermeira morta atropelada por Pablo Henrique Campos Santos, acusado e réu confesso do crime acontecido há cerca de três anos, em Teresina, e condenado nesta terça-feira (30) a pena de 11 anos de reclusão. O crime ocorreu em setembro de 2019.

Em entrevista ao A10+, Edson Carvalho revelou que desde o atropelamento de Vanessa luta pelo julgamento justo para o assassino de sua filha, e afirmou que o resultado de ontem é uma tristeza não só para a família, mas também para toda a sociedade.

  

Pai de Vanessa Carvalho critica sentença dada a Pablo Campos
Arquivo pessoal

  

“A gente sabe que as nossas leis são muito frágeis, muitas brechas. Daqui pouco tempo ele vai estar solto, agora veja outro ponto, doutor Noleto falou em humanidade, aí o que aconteceu com a minha filha. Ela não volta mais, foi brutalmente assassinada, porque só quem viu as fotos depois do acontecido e qualquer pessoa que vê aquilo ali já sabe o que a pessoa fez né? Inclusive todas as provas, todas as provas de todas as pessoas que estavam sendo testemunhas disseram que ele fez de propósito, dirigiu em direção a elas. E foi pra casa dormir, a verdade é essa”, desabafou.

O júri entendeu que o crime contra Vanessa não possuía o atenuante de feminicídio. Pablo também teve a pena atenuada por estar “perturbado mentalmente devido a ingestão de bebida alcoólica”, o que para a família de Vanessa, passa o recado para toda a sociedade.

“Ele sabia o que estava fazendo sim! Ele tanto sabia o que estava fazendo que ele não atropelou ninguém, ele não bateu em muro, eu até digo hoje que é bom até sair bêbado e pegar o volante e sair matando as pessoas porque não dá em nada, quando se sabe que a pessoa que sai no veículo bebe e dirige, está botando a vida das pessoas em perigo”, comentou.

  

Vanessa Carvalho era amiga de Anuxa Kelly, na época, namorada de Pablo Campos
Reprodução

  

Apesar de Pablo ser considerado até então réu primário, por não ter outra condenação, ele já se envolveu em dois acidentes de trânsito e ainda possui medida protetiva por agredir uma ex-companheira, o que para a família de Vanessa demonstra a periculosidade dele, que com uma pena tão pequena, podendo ser solto em pouco tempo põe em risco a vida de Anuxa, sua ex-namorada.

“Ele tem antecedentes de trânsito, ele tinha a Lei Maria da Penha por agredir uma mulher, então isso tudo é um absurdo, pra mim aquilo ali não foi um julgamento, ali uma pessoa faleceu não volta mais, outra está aí e outra é um risco para própria Anuxa, tendo em vista que ela contou de como ele era, ela sozinha corre perigo de vida, porque com progressão de pena, daqui a pouco ele está em liberdade e ninguém sabe o que se passa na cabeça dele”, revelou.

Falhas no julgamento

A família de Vanessa considerou que houve falhas no julgamento, a partir do momento que a mãe da vítima foi impedida de entrar em plenário e ao tempo que os pais de Pablo foram ouvidos como informantes. Edson Carvalho citou que teve que recorrer à Corregedoria para poder entrar.

  

A enfermeira Vanessa Carvalho foi morta após ter sido atropelada por Pablo Campos em 2019
Reprodução

  

“O juiz pra mim não explicou aos jurados, ele sabe que tem jurado ali de primeira viagem, tem regras, inclusive o Dr. Leonardo que ainda tentou explicar e foi interrompido. Então isso tudo é um absurdo e olha só quem vive é quem sabe ainda tem que passar por esse tipo de coisa que pra mim aquilo ali não foi um julgamento", comentou.

Justiça

“Eu vou ser sincero, eu já disse em várias reportagens, se tudo isso que acontece a lei não for aplicada de forma correta, nós vamos estar aqui simplesmente fazendo papel de palhaços. E é isso que a justiça faz. Ninguém sabe o que é que passa dentro da cabeça de um pai, de uma mãe. Que perde um filho da forma que foi perdida. O advogado falou em recorrer, mas você sabe que eu não acredito, eu seu que eu perdi minha filha, que eu nunca mais vou ver. Eu lhe digo uma coisa, um juiz ou um advogado, ele não tem poder para decidir o futuro de uma família. Deus não deu esse poder para ninguém", finalizou.

Pablo é condenado a mais de 21 anos de prisão

O empresário Pablo Henrique Campos Santos foi condenado a 21 anos e 8 meses de prisão por atropelar e matar a enfermeira Vanessa Carvalho e ferir a então namorada, Anuxa Kelly. A sentença foi proferida na madrugada desta quarta-feira (31) pelo juiz Antonio Reis de Jesus Noleto, no Fórum Cível e Criminal Desembargador Joaquim de Souza Neto, em Teresina.

  

Durante julgamento, Pablo Campos confessou crime e disse que estava embriagado e fora de si
Reprodução

  

O juiz fixou a pena base com relação à Vanessa Carvalho em 11 anos de reclusão e em relação à Anuxa Kelly em 12 anos de reclusão. Foram considerados a qualificadora fútil, nesta segunda fase, não há nenhum atenuante em relação às duas vítimas, mas há agravante em relação à Anuxa Kelly, pelo crime ter impossibilitado a defesa da vítima em condição de sexo feminino, assim, a pena em relação à vítima Vanessa Carvalho fica em 11 anos de reclusão e em relação à vítima Anuxa Kelly em 16 anos de reclusão.

O conselho de sentença reconheceu ainda que o réu agiu em relação à vítima Anuxa Kelly perturbado mentalmente devido a ingestão de bebida alcoólica, assim tendo a pena reduzida a pena em 10 anos e 8 meses de reclusão pelo crime de tentativa de feminícidio.

Pablo confessa crime durante julgamento

Mais cedo, durante depoimento, Pablo Campos Santos disse que as afirmações feitas sobre o acidente eram verdadeiras, mas que não tinha nenhuma lembrança do que tinha acontecido na madrugada do dia 29 de setembro. Ele é acusado de atropelar e matar a enfermeira Vanessa Carvalho e deixar ferida a ex-namorada, Anuxa Kelly. O caso ocorreu em 2019. 

Pablo relatou aos magistrados que era viciado em bebida alcoólica e que na grande maioria das vezes bebia em excesso. Ele relatou que Anuxa também bebia com ele durante saídas e que os dois sempre acabavam discutindo. Ele afirmou que, nessas discussões, ele se evadia do local e deixava Anuxa com amigos para que não houvesse algum tipo de agressão. Segundo Campos, quando o casal não ingeria álcool, viviam em harmonia e bem.

  

Pablo Campos vai cumprir a pena em regime fechado
Reprodução YouTube

  

Mesmo relatando não lembrar de nada e que tomou consciência da história através de seu advogado e de familiares, Pablo confessou que jogou o carro em alta velocidade contra as vítimas.

De acordo com Pablo, durante todo o relacionamento não houveram agressões físicas por parte dele nem de Anuxa. Segundo ele, após ingestão de bebidas alcoólicas, o casal discutia verbalmente, se agredindo com palavras e xingamentos.