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A delegada Nathália Figueiredo foi a convidada da semana do A10Cast, podcast da TV Antena 10, exibido neste domingo (13). Durante a entrevista, ela abordou os dados da violência contra a mulher no Piauí e os casos que ganharam repercussão nacional.
A delegada explicou que, no contexto desse tipo de crime, as mulheres precisam ficar atentas a comportamentos agressivos e controladores.
“Eu sempre digo que a violência doméstica não começa com o feminicídio, é a ponta dela. A característica é a progressividade e intensidade das agressões. Começa com o controle excessivo, que muitas mulheres romantizam pensando que é cuidado, passa por outros tipos de agressões físicas, e que se a mulher continuar nesse ciclo a tendência é essa situação irreversível, que é o feminicídio. Daí a necessidade do rompimento dessa relação abusiva, e se atentar ao sinais”, detalhou.
Nathália destacou que a sociedade é ainda é muito machista, o que permite que o homem acredite que tenha um poder em relação à mulher. E que esse cenário acontece em todos os níveis e classes sociais.
“Não existe uma regra, não existe uma classe social. Lógico que quando fazemos uma analise do perfil das vítimas, a gente vê que encabeçam mulheres da periferia, negras ou pardas, mas já vimos situações de mulheres muito bem sucedidas que eram vítimas. Temos que tirar esse estigma. Todas nós mulheres estamos à mercê de sermos eventualmente vítima de algum tipo de violência”, pontuou.
Quando se fala de responsabilização dos agressores, há um sentimento de impunidade perante a pena aplicada em alguns casos.
“O papel para aumentar a pena cabe ao Poder Legislativo. Nós tivemos o aumento da pena no crime de feminicídio com pena máxima de 30 anos, mas quando analisamos uma vida que foi perdida a gente acha muito pouco, mas existe uma barreira constitucional. Embora, tenha havido alteração no Código Penal, a pena máxima que se pode chegar é até 40 anos. Eu acho muito pouco comparado a uma vida que se perdeu. Realmente, nos deixa triste ver que essa pessoa que praticou um crime tão bárbaro logo estará solta. Não responsabilizo o Poder Judiciário, responsabilizo o nosso Poder Legislativo, que ainda é muito permissivo no que tange à pena”, avaliou.
O Piauí lidera o aumento percentual de feminicídios no Brasil entre 2023 e 2024, segundo o Mapa da Segurança Pública. A delegada destacou a necessidade de efetivação de mais políticas públicas que possam reduzir esse dado.
“Esses dados chamam um alerta. Onde se está errando e onde se pode melhorar? Acredito que esses números vão servir para que haja a efetivação de políticas públicas e uma esperança para que nos próximos anos a gente veja que estão diminuindo, e que [as politicas públicas] então estão funcionando. Não desisto e acredito que futuramente a gente consiga”, afirmou.
A10+/TV Antena 10
Casos de repercussão
A delegada também comentou sobre o crime bárbaro contra a vida de Janaína Bezerra. Em maio desse ano, o Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI) anulou o julgamento de Thiago Mayson da Silva Barbosa, condenado a 18 anos e 6 meses de prisão pelo assassinato da estudante de jornalismo, em janeiro de 2023.O pedido de anulação foi motivado por questionamentos da defesa sobre possíveis equívocos cometidos pelos jurados. O júri, que durou cerca de 20 horas e passou por dois adiamentos, não reconheceu a qualificadora de feminicídio — fator que poderia ter elevado a pena do réu.
Reprodução
“Nesse caso, a anulação para mim é um caminho de justiça. Ficou clara uma situação de misoginia. Ou seja, a aversão da mulher por entendê-la como um objeto. Ele assumiu risco de produção de resultado. Tão tal que ele foi indiciado por feminicídio, não porque tinham uma relação de afeto, mas a própria Lei prevê o contexto de menosprezo e discriminação por ser mulher. Eu vejo de forma positiva essa anulação e que se faça Justiça à Janaína”, explicou.
Outro caso mencionado durante a entrevista foi o do jornalista Fernando Campos, da TV Rádio Rudia, indiciado pelos crimes de tentativa de feminicídio e dano qualificado em Teresina. Ele é acusado de agredir a ex-companheira e, posteriormente, incendiar o apartamento da vítima.
Reprodução
Nathália, que presidiu o inquérito, ressaltou a crueldade por parte do acusado. “Ele atentou de forma cruel contra a vítima. É um caso que nos traz espanto sobre como o ser humano pode ser cruel, daí a necessidade de responsabilizar qualquer tipo de pessoa. Seja jornalista, médico, advogado, profissional de segurança pública. No contexto de violência você deve responder criminalmente. A gente vê um contexto gritante de misoginia por parte do autor”, destacou.
Diante de investigações densas e sobre crimes brutais, a delegada revelou ter um cuidado prioritário com a sua saúde mental.
“Não é fácil. Apesar de ser a Nathália delegada, eu sou a Nathália humana. É difícil pegar esses casos sem que a gente acabe se afetando. Eu tento ser o mais objetiva possível, se eu deixo a emoção imperar, eu vou atrapalhar esse inquérito, e não vou trazer a justiça que a família e a sociedade espera. Cuido da minha saúde mental. É importantíssimo para nós que trabalhamos na segurança pública. Eu preciso estar emocionalmente bem para que eu possa acolher, e investigar da melhor forma possível”, afirmou.
Prevenção e canais de denúncia
Romper o ciclo de violência, é também um trabalho de prevenção. A vítima precisa compreender e identificar comportamentos violentos, apesar das dificuldades para se desvencilhar, por diversos fatores, a orientação é denunciar. Inclusive, isso pode partir de amigo e/ou familiares.
“A prevenção é importante através da conscientização, muitas mulheres não se entendem como vítimas. Só pensam que é violência física, não entendem que aquele relacionamento abusivo, é uma violência psicológica. É importante também a conscientização das pessoas em geral no que tange a importância da denúncia. Muitas pessoas não denunciam porque não querem se comprometer, mas temos diversos canais que o denunciante não será identificado, o 180, Disque 100, o Ei Mermã Não se Cale. E, claro, é essencial que a vítima não deixe de pedir a medida protetiva”, destacou.
Fonte: Portal A10+