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O delegado Hugo Alcântara, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), participou do A10Cast, podcast da TV Antena 10, deste sábado (08). Durante a entrevista, ele explicou quais os principais tipos de crime a delegacia combate, diariamente.
“Temos muitas denúncias de estupro de vulnerável, que é praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso com a vítima menor de 14 anos, independentemente de consentimento, nós temos casos de pornografia infantil, de armazenamento desse tipo de conteúdo , e nós investigamos todos os crimes do ECA. Tudo com criança acaba sendo relevante, mas nós temos os de maus-tratos, calúnia, injúria, difamação, muitos conflitos familiares, alienação parental, não que seja um crime, mas acaba refletindo no trabalho da polícia”, explicou.
Hugo revelou que existe uma dificuldade na análise dos dados de crimes contra crianças e adolescentes. Isso ocorre por diversos fatores, dentre esses a periodicidade de quando ocorreu o fato até o momento da denúncia.
“A análise dos dados é feita a partir dos bancos de dados, que geralmente são os boletins de ocorrência registrados. Então, é muito difícil você imaginar que um BO registrado, em 2025, vai ser catalogado e gerado com base em 2025. Geralmente, a vítima, por exemplo, está com 21 anos e ela denuncia um abuso que aconteceu quando ela tinha 10 anos. Então, é muito difícil você qualificar a análise dos dados em relação aos crimes sexuais, por exemplo. Quando aumenta o número de denúncias, não necessariamente aumentou o número de casos. É difícil você quantificar. Por mais que seja necessário, todo dado estatístico ele precisa ser analisado também do ponto de vista qualitativo”, detalhou.
Ainda sobre esse assunto, o delegado ressaltou alguns dos motivos os quais as vítimas demoram para relatar o caso à polícia. “Quando o abuso acontece com uma idade mais nova, muitas vezes a criança não tem um discernimento nem de que aquilo é um abuso. A maioria dos abusos sexuais ocorre no seio familiar, por pessoas próximas, que têm uma confiança da família, ele começa com carícias, vai evoluindo até que consuma um abuso. Depois que a criança percebe que aquilo é um abuso, algumas denunciam e outras guardam para si, e começam a somatizar no corpo, mudar um comportamento, se tornar mais retraída, mais agressiva, buscar afastamento do agressor, até confrontá-lo. Mas também acontece da pessoa guardar aquele trauma por ser extremamente doloroso para a vítima reviver aquela situação de abuso”, disse.
Outro aspecto a ser melhor abordado é o fato de que, na maioria das vezes, os agressores são pessoas da própria família.
“Tem a questão da facilidade e confiança. Dentro do seio familiar você vai ter também outra questão, que é o temor reverencial, que é a autoridade que aqueles adultos têm sobre aquelas crianças. Um padrasto, uma madrasta, um pai, uma mãe, um tio, eles não precisam estar ameaçando para que a criança se sinta coagida. Você não precisa de muita coisa para causar um temor numa criança”, acrescentou.

Pedófilos observam o perfil dos pais
O delegado destacou que criminosos buscam por facilidade antes de agir. Ele abordou também, que esses tipos de crimes geram tanta comoção social, que em alguns casos, a polícia, antes de prender, precisa salvar o indivíduo de linchamento.
“Os abusadores geralmente são indivíduos extremamente covardes, até pelo crime que fazem, pela forma como fazem. Eles vão buscar o caminho mais fácil. Se eles veem uma família forte, estruturada, atenciosa com a criança, ele vai procurar outro caminho, porque ali é fácil ele se dar mal. E quando o abusador se dá mal, publicamente, muitas vezes, a polícia não vai nem para prender, vai salvar. É um crime que gera muita repulsa na sociedade, é um crime que quando é revelado, dificilmente o abusador, é posto em liberdade, quando é posto, ele não é bem aceito, bem recebido na sociedade depois que está com aquele estigma”, afirmou.
Falsas denúncias
Um fato apontado pelo delegado que chama a atenção é o registro de falsas denúncias. Alguns desses relatos ocorrem em um contexto de alienação parental, onde um dos genitores acusa o outro de crimes e solicita medida protetiva, apenas para afastar o filho e se beneficiar em uma ação de guarda.
“Adultos imaturos que não sabem lidar com o fim do relacionamento e usam a criança para prejudicar o outro, procuram a delegacia denunciando alguma situação de injúria, ofensas verbais, ameaça, eventual maus- tratos e já pedem uma medida protetiva. Crianças que estão sofrendo alienação parental vão falar o que o alienante quer que seja dito. A pressão na cabeça da criança para que agrade o alienante ela é muito forte, às vezes a gente tem que ter a sensibilidade de que quem
está comunicando um fato criminoso pode ser o agressor verdadeiro daquela criança”, afirmou.
“O mal entra na minha sala diariamente”, diz
Hugo Alcântara afirmou que lidar com esses casos potencializou ainda mais sua religiosidade para se proteger emocionalmente. “Tenho 9 anos de polícia e já investiguei vários tipos de crimes com vários graus de perversidade, mas na DPCA é algo muito maior pela fragilidade da vítima. Lá a gente vê que o mal existe e vê de uma forma extremamente clara. Você não consegue ler a mente de um pedófilo, não faz sentido para uma pessoa normal, você começa a ver o nível de perversidade revelado numa promiscuidade e uma covardia, que, para mim, como cristão não dá pra negar que o demônio existe ali, dentro da minha opinião pessoal. Isso aumentou um pouco mais minha fé para que eu consiga me blindar. O mal entra todo dia pela porta da minha sala, através de dissimulação, egoísmo, vontade de causar o mal, promiscuidade absurda, covardia, violência, e das piores formas: contra um inocente”, desabafou.
A Importância da denúncia
Para finalizar, o delegado enfatizou a importância da denúncia e encorajou que as vítimas procurem a polícia para que os casos sejam investigados e não fiquem impunes.

“Se eu venho num podcast como esse e amanhã uma vítima que teve contato com esse tipo de informação cria coragem e vai denunciar e consegue fazer com que aquele abusador pague pelos crimes que ele cometeu, para mim, já valeu. A gente precisa da denúncia, a gente precisa que a vítima crie coragem e fale. Revele aos professores, o conselho tutelar, delegacia, conte aos seus pais, avós, alguém que confie. Dificilmente, um abusador, ele para o abuso, espontaneamente, ele vai continuar. A mente do abusador é uma coisa muito distorcida. Você não precisa passar por isso só, você não precisa sofrer e guardar esse sofrimento com você. Quem lhe causou mal precisa ser responsabilizado e tem que parar de causar mal às pessoas”, concluiu.
Fonte: Portal A10*