Por que uma criança e um pitbull acabaram mortos em Teresina? - Bastidores
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OPINIÃO

Por que uma criança e um pitbull acabaram mortos em Teresina?

“Possivelmente aconteceu alguma coisa errada na criação do pitbull”, analisa especialista em comportamento animal


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Uma vida se perdeu e isso, claro, é muito grave. Era apenas uma criança de 8 anos que acabou morta após o ataque de um cão da raça pitbull na manhã de quarta-feira (20) na Vila Santa Bárbara, zona Leste de Teresina. O animal acabou sacrificado, segundo relatos, por vizinhos que tentavam salvar a menina.

Essa é uma tragédia que poderia ser evitada? Possivelmente. Algumas situações chamam atenção sobre o caso, segundo os relatos da família e policiais que atenderam a ocorrência. O animal, que tem como tutor um irmão da menina, ficava costumeiramente fora da residência. Ao entrar na casa, o pitbull foi ao quarto, viu a criança embrulhada com lençol e teria estranhado, passando ao ataque após ela gritar.

  

Por que uma criança e um pitbull acabaram mortos em Teresina? Foto ilustrativa / Pixabay

   

Estes são alguns aspectos que mostrariam que o animal era usado como um cão de guarda, ou seja, pronto para defender o seu território. É preciso, no entanto, compreender que essa raça necessariamente não tem comportamento violento. Ataques que levam a morte de pessoas são casos isolados. No geral, apesar da força e do jeitão zangado, são descritos como sociáveis, gostam de crianças e fiéis à família que o rodeia. Sua agressividade estaria mais voltada para outros cães.

Mas, o que teria acontecido para o ataque à criança em Teresina?

A resposta exata não é fácil. Mas, para o Capitão Azevedo, da Polícia Militar do Piauí, que por 18 anos foi o adestrador do canil do Batalhão de Choque, o problema comportamental está relacionado geralmente à forma como o cão é criado. Para ele, se for instigado à violência e ao ataque quando filhote se tornará um adulto com essas características.

Comportamento de um animal em uma casa quem vai dar, bom ou ruim, é a maneira como for criado. Conheço vários pitbulls que têm contato com crianças e não há o menor problema. Infelizmente alguns criadores de pitbull têm estímulo para que ele ataque, não estou dizendo que é este o caso do que aconteceu em Teresina. Há casos onde o animal, desde filhote, sofre maus-tratos físicos e por vezes são instigados ao ataque. Há casos onde desde filhote o animal demonstra não gostar de criança e isso pode ser corrigido logo, da forma correta, não com violência contra o cão porque só vai piorar e traumatizar o animal”, explica. 

  

Ataque de pitbull ocorreu dentro de residência na zona Leste de Teresina divulgação / PM-PI

   

Capitão Azevedo, que é adestrador formado pela Polícia Militar de São Paulo, lembra que o pitbull é de fato um animal de temperamento forte, assim como o pastor alemão e o pastor belga malinois, este último criado pelo adestrador em casa e sem incidentes. Porém, são raças que podem ter bom comportamento, livre de ataques a pessoas. Ele chama atenção que, no caso de Teresina, algo na criação do cão pode responder ao que aconteceu com a criança. 

Matar o animal não é a solução correta. Possivelmente aconteceu alguma coisa errada na criação deste animal. Apesar da natureza mais agressiva do cão, isso pode ser mudado ainda quando é filhote, suprimindo o instinto de ataques e manter obediência. Tudo depende do tutor”, analisa. 

A opinião do Capitão Azevedo é compartilhada por outros profissionais da área. O adestrador Zenildo Prazeres é especialista em comportamento animal e afirma que o pitbull só se torna violento se o tutor der este direcionamento, potencializando o instinto predatório do cão. Ao site Metrópoles afirmou: “Sendo bem treinado e socializado, o pitbull se torna um animal dócil e companheiro como qualquer outro”.

Essa linha de pensamento também é compartilhada pelo veterinário e especialista em comportamento animal que fez sucesso em programas de TV como Dr. Pet. Para Alexandre Rossi: “Quando a gente não socializa corretamente os cachorros e não apresenta todos os estímulos, como por exemplo crianças correndo e brincando, idosos com muleta, cães de raças diferentes, a gente pode facilitar esse ataque. Ele vai atacar por medo do desconhecido”, disse à revista Exame.

  

Franciele Vitória foi atacada por um pitbull e morreu após ataque Reprodução

   

O objetivo deste artigo é fazer com que as pessoas reflitam sobre a forma como se cria um animal e que isso pode ter graves repercussões para a família e qualquer outra pessoa na rua ou em casa. A personalidade do cão será um reflexo do próprio tutor e, portanto, apenas culpar a agressividade de um pitbull quando tragédias acontecem chega a ser irracional. 

A coluna Bastidores, do A10+, lamenta profundamente a perda de duas vidas e se solidariza à família da criança.

Fonte: Portal A10+


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Sobre a coluna

Wesslley Sales

Wesslley Sales

Jornalista, Especialista em Marketing Político, Mídias Sociais e Comunicação Produtor, Apresentador e Repórter na TV Antena10 Radialista e Redator

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