O prefeito Silvio Mendes (UB) foi o convidado do 19° episódio do A10Cast, podcast da TV Antena 10, exibido neste domingo (1°). O gestor fez um balanço da gestão e deu detalhes da crise financeira de Teresina, com o rombo nas contas públicas anunciado pela administração atual.
Silvio Mendes destacou que os débitos eram fatos desconhecidos até então no período da transição de gestões. A dívida ultrapassa os R$ 3 bilhões e pode aumentar. Ele classifica o cenário como ‘impagável’.
“Cada um diz o que acha, o que pensa e por isso é bom a gente estar esclarecendo. Quando passou a eleição, a primeira resposta sobre acordos que porventura tenham acontecido; não aconteceu nenhum acordo, nem antes e nem depois. Portanto, era um fato desconhecido essa questão da dívida e nós não tivemos acesso. Acho que nem a equipe da gestão passada sabia. Foi preciso que a gente fizesse duas ações a partir de janeiro: olhar para a cidade, cuidar da cidade, seja na educação, saúde e limpeza pública; e segundo, olhar para a dívida. Cuidar de uma cidade tem que ter dinheiro. Eu me sinto prefeito duas vezes. Prefeito de uma cidade e de uma dívida impagável e que pode piorar”, disse.
O prefeito destacou que quando saiu da gestão anos atrás, as finanças estavam equilibradas e foi avaliado com 92% de aprovação. No podcast, ele fez um comparativo com a realidade atual e revelou que levou ao Tribunal de Contas 3574 processos para serem analisados, a maioria irregulares. Ele cita superfaturamento em obras, obras não pagas e entre outros.
“A prefeitura está devendo e já levantado, em 3574 processos que foram encaminhados ao Tribunal de Contas, que não vamos esclarecer isso tanto o tribunal quanto à controladoria com a prefeitura, que processos estão regulares e que estão errados. A maioria que foi visto até agora é irregular. Em obras de superfaturamento, pagamentos de obras não feitas, antecipação de medições, pagamentos indevidos como por exemplo a desapropriação diárias de terrenos, de preservação ambiental. O que quer dizer isso? Por que fazer? Tem uma série de pagamentos que o tribunal de contas recomendou ao Banco do Brasil não repassar pagamentos indevidos, mantendo a folha de pagamentos por exemplo; mas a gestão correu ao judiciário e um desembargador autorizou que houvesse a movimentação bancária normal. A noite foi proibiram novamente - no dia 31 de dezembro de 2024 - mas o que tinha que fazer de acordo com as conveniências foi feito”, explicou.
A dívida pode piorar
O gestor foi franco e adiantou que em algumas ações judiciais é possível que a decisão seja contra a prefeitura. Com todo um cenário de débitos, ele ressaltou que a dívida local pode chegar a R$ 4 bilhões, o que seria um valor para ‘cuidar por todo um ano da cidade’, comprometendo a gestão em diversos aspectos.
TV Antena 10
“Em algumas ações judiciais e pelo andar da carruagem, é possível que a decisão seja contra a prefeitura. Dívida com a receita federal: de mais de R$ 100 milhões. As dívidas bancárias são em torno de R$ 1 milhão e 300 milhões de reais. Como a prefeitura não tem condições de pagar, é uma dívida que tem um maior índice de juros. 165% do CDI e não pode baixar porque a prefeitura não tem condições de pagamento e nem de investimento na cidade. Investir na cidade hoje não tem margem e nem pode antecipar essa liquidação de uma conta absurda. Isso causa um pagamento de juros de 32 milhões de reais por mês. Isso quer dizer que a prefeitura paga 1 milhão de reais de juros bancários só com empréstimos que foram tomados e que não tem como pagar. Se perdermos essas ações judiciais, que não é impossível, essa dívida vai subir para entorno de R$ 4 bilhões. Isso é quase todo o dinheiro total para cuidar da cidade por todo o ano”, lamenta.
O prefeito adiantou que há esforços com outros órgão, a busca por recursos em Brasília e entre outras medidas para remediar a grave situação. Quanto ao pagamento de servidores - prioridade inicial e básica da gestão - ele disse que está garantido, mas citou o risco de crise diante do atual cenário.
“A prefeitura está quebrada e se ela tiver que pagar essas ações judiciais, compromete a folha de pagamento dos servidores que é a principal despesa. A prefeitura que a população de Teresina me confiou cuidar, ela deve o que não pode pagar hoje. É uma situação muito mais grave e que naturalmente muitas empresas estão arriscadas a fechar e demitir seus funcionários e servidores e isso precisa fazer todo o esforço para poder ser evitado. É muito grave”, destaca.
Silvio descartou aumento de impostos, falou sobre extinção de secretarias e afirmou que seguirá indo atrás de recursos.
Relação com Jeová Alencar
Silvio Mendes também comentou sobre sua relação com o vice Jeová Alencar e a caracterizou como ‘harmoniosa’.
“Jeová eu conheço há muitos anos, ainda nas gestões passadas. Um ano antes das eleições, fiquei acompanhando que existia essa possibilidade e eu me ofereci para ser vice com a Bárbara ou o Luciano Nunes. Não deu certo e todo mundo sabe dessa história. Quando deu as voltas dadas e eu virei candidato, o próprio Jeová topou e a gente vinha conversando sempre conversamos muito. O Dr. Pessoa tem o estilo próprio, acho confuso e era uma equipe que não era uniforme e a nossa não. A nossa é uniforme e tem comando, tem hierarquia [...] a equipe é boa, nunca fiz barganha nem com partido nem com quem quer que seja”, disse.
Houve corrupção na prefeitura e personagens serão identificados
Silvio Mendes chamou atenção de que houve sim corrupção e desvio de dinheiro público na prefeitura de Teresina e que os responsáveis serão identificados.
“Os personagens responsáveis por esse descalabro que se encontra a prefeitura, serão identificados. Alguns já foram identificados. Não cabe a mim punir esse ou aquele. A prefeitura tem uma Controladoria que tem um mandato, uma pessoa séria e servidora do município. O que ela encontrar de errado ela tem a obrigação de passar para o Tribunal de Contas e mandar para o MP conforme a origem do dinheiro se é federal ou não. Os instrumentos existem. Essas pessoas desviaram milhões e não foi pouco dinheiro, normalmente eles conseguem contratar bons advogados. É de lamentar que você desviou dinheiro público quando faltou remédio, merenda escolar, transporte coletivo; quem pagou a conta está vendo seu dinheiro ser desviado para outra finalidade e geralmente para enriquecer esse ou aquele gestor que não cumpriu o seu dever”, disse.
Além disso, ele pontua que os processos levados ao Tribunal de Contas irão apontar e esclarecer quem seriam os envolvidos.
“Houve sim crimes cometidos, crimes de corrupção com o dinheiro público. Lhe garanto que teve e serão comprovados. Os processos vão servir para saber quais serão pagos e tem que se saber. Vai ser fácil esclarecer isso. Demora tempo. Se vai ter impunidade, não sei te responder. Eu gostaria que não tivesse”, completa.
Eleições de 2026
Mendes descarta candidatura, mas afirma que participará com sua opinião na escolha do nome para a oposição no pleito do ano que vem. Ele afirma que a gestão de Rafael Fonteles é jovem, de visibilidade, mas será questionada na campanha eleitoral.
“Quando você vê uma equipe maioria jovem, você vê um trabalho de muita visibilidade na mídia; tem uma visibilidade diferente. Mas a pergunta que está se aproximando na eleição e na eleição é hora de fazer a crítica - eu não tenho acompanhado por que tenho focado em Teresina - mas serão feitos vários questionamentos; têm questões básicas que precisam ser discutidas e o melhor tempo é durante uma campanha eleitoral. Naturalmente cada um faz o juízo de valor”, afirma.
O prefeito aprovou o nome da ex vice-governadora Margarete Coelho para a disputa e afirma que ela é uma boa alternativa. “Muito boa. Ela tem tudo para, caso eleita, ser uma boa governadora. Tem experiência, tem vivência. Acho que é uma alternativa muito boa para o estado e tem apoio político. Qualquer governador, por mais bom que seja, precisa entender que é preciso ter oposição, porque ele fica mais cuidadoso”, destaca.