É difícil compreender como um policial experiente, acostumado a lidar com o crime, pode acabar preso na armadilha de um furto tão banal quanto o de um perfume “Malbec”. Mas é justamente esse o caso do sargento Mota, figura polêmica dentro e fora da Polícia Militar do Piauí. Em fevereiro de 2023, no bairro Areias, zona Sul de Teresina, o militar foi flagrado por câmeras entrando em uma residência sem autorização, usando chave falsa e, ao sair, trancando a porta. As imagens mostram ainda sua tentativa de destruir o sistema de monitoramento ao perceber que estava sendo filmado. O objeto levado: um frasco de perfume.
O Ministério Público não teve dúvidas em pedir sua condenação por furto qualificado, sustentando que não havia justificativa plausível para a invasão. Mota, por sua vez, alegou estar em “estrito cumprimento do dever legal”, tentando justificar o ato como parte de uma ação contra o tráfico. A versão, no entanto, não encontrou respaldo nas provas, tampouco na lógica.
O contraste é evidente: enquanto a sociedade espera do policial o exemplo de retidão, vê-se um agente da lei envolvido em um episódio que beira o grotesco. E não é a primeira polêmica.
Abraçado com o Tigrinho
Mota também se agarrou às redes sociais, uma forma também de se viabilizar politicamente. Mas, colecionou polêmicas por palavras e atos muitas vezes criticados por colegas de farda. Tornou-se influencer digital. Mas, voltou a ter problemas na área criminal quando foi um dos alvos da operação Jogo Sujo II, deflagrada pela Polícia Civil do Piauí em outubro do ano passado, que também resultou na prisão de influenciadores digitais e do cabo Jairo, da PM.
A investigação apura crimes de estelionato, jogo de azar, indução do consumidor a erro, lavagem de dinheiro e associação criminosa através do chamado Jogo do Tigrinho. Na ação, foram cumpridos oito mandados de prisão temporária e 22 de busca e apreensão em Teresina, Timon e Caxias-MA, com apreensão de armas de fogo, joias e veículos de luxo. Como consequência, Mota teve suas redes sociais suspensas, foi afastado das funções na Polícia Militar e passou a responder a procedimento administrativo.
A soma desses episódios revela o retrato de um militar que, ao invés de representar a disciplina e a confiança da farda, coleciona desgastes públicos. A questão que fica é: como um homem treinado para combater o crime se perde por um frasco de perfume? A lição que fica é amarga, mas necessária: quem veste farda não pode se esquecer de que carrega também a confiança de toda a sociedade. E confiança, diferente de perfume, não se compra e quando se perde, dificilmente se recupera.