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A resposta é: talvez — mas com muitas ressalvas. Um dos motivos é que o Presidente Lula já deixou claro: "Temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro".
Durante encontro com representantes do setor privado, o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, voltou a manifestar o interesse direto do governo norte-americano nos chamados minerais críticos e estratégicos (MCEs), como nióbio, lítio, grafite, urânio e terras raras, presentes em abundância no solo brasileiro. O recado não é novo, mas carrega peso simbólico: os EUA já firmaram acordos semelhantes com a Ucrânia — inclusive em meio à pressão política entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky, onde um acordo foi assinado para ajuda militar ao país em troca de acesso a exploração de terras raras — minerais essenciais para a indústria bélica e de tecnologia.

Montagem - Reprodução/Instagram/@realdonaldtrump - 28.12.2024 e Ricardo Stuckert/PR
Além da Ucrânia, os EUA vêm negociando acordos estratégicos com Canadá, Austrália e países africanos. A ideia é clara: reduzir a dependência da China, que controla cerca de 80% da produção global de terras raras e há anos utiliza essa vantagem como arma diplomática e comercial. Recentemente, Pequim e Washington chegaram a um acordo para cooperação nesse setor, mas a desconfiança mútua persiste.
O Brasil, dono da segunda maior reserva de terras raras do mundo, surge como um ator com potencial de protagonismo nesse cenário. A recente identificação de novas jazidas na Bacia do Parnaíba, no Piauí, reforça ainda mais essa posição.
Mas aí está o problema: ter o minério não basta. O país ainda exporta grande parte de suas riquezas minerais em estado bruto, sem domínio das etapas de refino, industrialização e desenvolvimento tecnológico que realmente geram valor. Enquanto China, EUA e União Europeia controlam cadeias completas, o Brasil segue preso à lógica de colônia mineral do século 19 — rica no subsolo, pobre em soberania tecnológica.
O que está em jogo, portanto, vai muito além de compensar um tarifaço com um contrato de fornecimento. O desafio brasileiro é estratégico: ou usamos esse patrimônio para construir uma política industrial robusta, soberana e integrada ao século 21, ou seguiremos como fornecedores baratos de insumos para os gigantes que ditam as regras do jogo global.
Negociar os minérios como moeda geopolítica pode até ser um movimento inteligente — desde que o Brasil defenda sua autonomia, imponha regras claras, garanta investimentos em refino e industrialização, e preserve seu controle sobre esses recursos. Se não fizer isso, a tarifa de Trump será apenas o aperitivo de uma série de imposições que o país ainda terá de engolir.
Fonte: Portal A10+