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Em comemoração ao Dia dos Pais, o A10+ apresenta, neste domingo (11), histórias de pais que superaram as barreiras biológicas e deram mais sentido à paternidade através da adoção no Piauí. O gastrônomo Fabrício Barbosa sempre sentiu vocação para paternidade e ao lado do filho João materializou esse chamado. Já o antropólogo Doté Thiago concilia a vida corrida com o cuidado dos 4 filhos, cuja companhia são as maiores alegrias. Ambos têm desafios distintos, mas concordam que o amor contínuo fortalece os laços familiares.
Fabrício tem 49 anos, é psicopedagogo e atualmente atua como gastrônomo. Antes da atuação como psicopedagogo, Fabrício formou-se em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí. Foi durante essa formação que ele começou a explorar o universo da adoção. Em uma disciplina sobre os direitos da criança e do adolescente, ele se deparou com a política nacional de adoção e se apaixonou ainda mais pelo tema. A ideia de ser pai era algo que ele já sonhava desde pequeno, e com essa possibilidade o desejo cresceu.
“A partir do primeiro momento que eu vi a foto dele eu tive certeza de que ele era meu filho, e a partir dali eu iria lutar, entrar com todos os processos possíveis para que ele tivesse o direito a uma família”, contou.
Fabrício explicou que o período entre os tramites legais até a chegada de João na nova casa durou cerca de 4 anos, mas o período de adaptação foi tranquilo. Inicialmente houve a necessidade de ajustes na rotina, mas com a rede de apoio familiar e escolar, a dinâmica foi bem mais simples.
“Então assim, minhas escolhas, meus horários, todos tinham que estar, logicamente, em harmonia também com o desenvolvimento dele. Ele foi extremamente bem acolhido, ele se sentiu bem acolhido. Tinha o espaço dele ali, ele fez morada, digamos assim”.
Ele também destacou que a sinceridade é um dos princípios buscados por ele, e por conta disso sempre deixou claro que João tinha outros pais. Ao A10+, ele relatou um evento de quando João, hoje um adolescente de 14 anos, tinha cerca de 5 anos de idade.
“No Dia das Mães, que chegou a tarefinha da escola, aí o Joãozinho chegou pra mim e disse assim, pai, eu tenho uma mãe? Eu disse, sim, meu filho, você tem uma mãe, inclusive você tem um outro pai que não sou eu. Então assim, ele sempre teve muita consciência... ele sabe de que ele é muito amado, de que ele é muito acolhido, de que ele é meu filho”, relatou.
Atualmente João Soares tem 14 anos e passa pelo intenso período de mudanças físicas e emocionais: a adolescência. Apesar dos desafios inerentes a esse período da vida, Fabrício explica que não romantizar a paternidade é crucial.
“Eu não sei se é porque eu não romantizei tanto essa questão. Então eu deixo as coisas acontecerem. Talvez agora, nessa etapa da adolescência, seja um pouco mais de surpresa, devido a alguns questionamentos. Quando toca nessa questão da afetividade, quando toca nessa questão da sexualidade. Mas assim, eu prefiro que as coisas aconteçam e na medida que as coisas vão acontecendo eu vou tentando dar um suporte, alguma resposta. Se eu não sei naquele momento, eu corro atrás para tentar viabilizar então a melhor possibilidade de resposta pra ele”, explicou.
Ele acredita que lugar de criança é dentro de uma família e manda um recado para quem deseja fazer da adoção um meio de construir uma família:
“A gente precisa romper as barreiras, a gente precisa romper os preconceitos e acreditar que o sonho, que a realidade, da construção de uma família através da adoção é também viável e necessário no mundo de hoje. Às vezes, os nossos filhos já existem, já estão vivos, estão só aguardando, então, a nossa iniciativa de chegar lá e tomar a decisão de fato de querer adotar, de querer acolher e, principalmente, de querer amar”, finalizou.
Amor multiplicado 4 vezes e o desafio de romper o preconceito
Dotté Thiago, de 47 anos, é antropólogo, e neste Dia dos Pais terá a alegria multiplicada por 4. Isso porque ele, já pai de três filhos - Gabriel, seu filho biológico, e João Pedro e Thalita, adotados - recentemente ampliou sua família, acolhendo temporariamente João Victor, que chegou há duas semanas como parte de um programa de acolhimento familiar. Mesmo com a vida corrida e muitas viagens, ele e o marido não perdem a oportunidade de criar memórias marcantes ao lado dos filhos.
Desde muito jovem, Doté sabia que ser pai era um de seus maiores desejos. Natural de Teresina, ele passou um tempo morando em Parnaíba, no litoral piauiense, onde enfrentou desafios, incluindo homofobia, para prosseguir com o processo de adoção, visto que sempre sentiu o desejo de ser pai.
Já em Teresina, desde o início na vara da infância e a habilitação na fila de adoção, o procedimento foi célere. Em cerca de sete meses, João Pedro e Thalita já estavam em casa. De acordo com Doté, a conexão com João Pedro, 13 anos, foi instantânea. O adolescente já havia passado por situações de homofobia e temia enfrentar acontecimentos semelhantes.
Quando ele me viu disse, ‘olha, eu sou um menino gay. Eu vou contar para o senhor, porque se não for interessante para o senhor, a gente termina por aqui’. Aí eu logo me emocionei e comecei a chorar, e disse “você tá sendo candidato à adoção de um casal LGBT’. Aí ele começou a chorar, nós nos abraçamos e foi identificação assim, logo de cara”, relembrou.
Thalita e João Pedro chegaram ao lar juntos, e com a chegada das crianças, Thiago descobriu que ser pai trazia não apenas a alegria de criar e orientar, mas também desafios inesperados, como o racismo.
"O que a gente mais sente, eu e os meninos, é o racismo. Porque eles são duas crianças retintas", relatou. Thiago percebeu que as pessoas frequentemente questionavam sua paternidade devido à diferença de cor de pele entre ele e seus filhos. "Toda vez que eu digo que são meus filhos, olham de cima a baixo e perguntam se são adotivos".
Mesmo com as dificuldades, a paternidade tem sido para Thiago uma fonte de realização. Ele equilibra sua vida profissional como funcionário público e conselheiro nacional de saúde, viajando com frequência, com as responsabilidades de ser pai.
Há aproximadamente duas semanas, João Vitor também entrou para a família, como parte do programa família acolhedora, que permite a convivência temporária de jovens em situação de abrigo com famílias interessadas em oferecer apoio afetivo e estrutural.
A transição ocorreu naturalmente, pois João Victor já era muito próximo de João Pedro. Doté explicou que neste caso não valeria a pena iniciar o procedimento de adoção, já que Victor está prestes a completar 18 anos e logo sairia do abrigo.
"Não compensava ele entrar no processo de adoção, porque ele tinha que ser desabilitado na família dele. E demoraria muito tempo. Como ele já vai fazer 18 anos, ele terá direito de escolha se quer ser adotado por mim", explicou.
Para isso, o antropólogo precisou cancelar um outro processo de adoção que possibilitaria acolher, além de Thalita e João Pedro, uma outra criança.
Fonte: Portal A10+