📲 Siga o A10+ no Instagram, Facebook e Twitter.
O juiz José Maria de Araújo Costa, relator da sessão judiciária que, nesta segunda-feira (14), negou o pedido de Habeas Corpus e manteve a prisão da vereadora Tatiana Medeiros (PSB), detalhou a estrutura criminosa de compra de votos revelada na investigação. Durante a leitura do relatório, o magistrado apontou o uso da ONG ligada à parlamentar para cooptar eleitores, movimentações financeiras suspeitas entre os envolvidos e a designação de cargos na Câmara Municipal de Teresina a pessoas ligadas ao esquema. O A10+ elenca agora os principais pontos revelados ao público na videoconferência.
O magistrado iniciou destacando os crimes investigados, tais como captação ilícita de sufrágio, falsidade ideológica eleitoral e outros crimes conexos, tais como lavagem de dinheiro e suposto envolvimento com membros de facções criminosas, além de outros crimes que possam ser identificados ao longo da investigação.
TV Antena 10
“Utilizado de sua candidatura para favorecer interesses ilícitos, promovendo um esquema de compra de votos financiado pelo crime organizado. Além disso, sustentou a Polícia Federal que a vereadora manteve vínculos financeiros e estratégicos com membros de organizações criminosas. A investigação apontou a existência de um relacionamento afetivo entre Tatiana Teixeira Medeiros com Alandilson Cardoso Passos, o qual é investigado por integrar as organizações criminosas e que teria utilizado recursos ilícitos para financiar a campanha eleitoral da referida vereadora”, relembrou.
"Regente da rede criminosa"
Diante de todos os indícios e mensagens levantadas, Tatiana Medeiros seria regente da rede criminosa, além de beneficiada com a compra dos votos e financiamento de campanha. “Fundamentando-se da percuciente apuração realizada pela Polícia Federal, no bojo do Inquérito Policial acima sintetizado, o magistrado entendeu rastrear presente os delitos, sob o argumento informativos em especial a análise global das mensagens de texto e de áudios trocados entre os investigados, sugerem que Tatiana Medeiros não figuraria apenas como espectadora agraciada com as atuações dos demais, mas sim como regente da rede criminosa, além de beneficiada imediata com a compra de votos e financiamento de campanha”, disse.
Na leitura do relatório, o juiz José Maria de Araújo Costa mencionou que o suposto esquema de compra de votos teria sido feito por intermédio do Instituto ‘Vamos Juntos’, Organização Não Governamental que recebeu recursos públicos nos anos 2023 e 2024, um montante de R$ 550 mil.
“O mencionado instituto teria se utilizado para a realização de cadastro irregular de famílias para controle de votos. Além de Tatiana Medeiros e Alandilson Cardoso, O MPL aponta o envolvimento das seguintes pessoas nas práticas ilícitas: Maria Odélia Aguiar Medeiros, mãe de Tatiana e presidente do Instituto Vamos Juntos; Stênio Ferreira dos Santos, companheiro da mãe de Tatiana e que desempenhava papel de liderança, sendo responsável por intermediação e distribuição de valores. Emanuelle Pinho de Melo, integrante da diretoria do Instituto Vamos Juntos e que também desempenhava funções administrativas para Tatiana”, disse o juiz.
Segundo o relato, o papel de Emanuelle seria a transferência de valores a possíveis eleitores por meio do pix, no valor padronizado de R$ 100 por operação, que ocorreram inclusive no decorrer do dia do pleito. Outra envolvida seria Bianca Medeiros, irmã da parlamentar, que teria efetuado transferências bancárias possivelmente na compra de votos na véspera da eleição municipal.
TV Antena 10
Pessoas ligadas à vereadora Tatiana Medeiros são afastadas de cargos na Câmara Municipal de Teresina
Já Alandilson Passos, membro da facção Bonde dos 40, teria investido mais de R$ 1 milhão na campanha de Tatiana Medeiros, se valendo de recursos de origem duvidosa. “Tatiana enviou a Bianca uma relação de nomes acompanhados de chaves pix para a realização de transferências, sendo bonificados no valor de R$ 100. Além da prática da compra de votos, a polícia apontou que Alandilson Cardoso Passos teria investido montante superior a R$ 1 milhão na campanha de Tatiana, valendo-se de recursos de origem duvidosa e intermediando movimentações financeiras por meio de terceiros”, afirmou.
Nesse contexto ocorreu os mandados da Polícia Federal nos imóveis da mãe de Tatiana, no instituto e em um escritório de advogados. Foram encontrados R$ 87 mil na residência da parlamentar e R$ 10 mil ocultados no forro do teto do escritório de advocacia. Todos os valores sem comprovação de origem lícita. O relator pontua que o inquérito e todo o material apresentado demonstra a estreita ligação da vereadora com o crime organizado, bem como se dava na prática através de sua relação com Alandilson Passos.
“O qual demonstra, primeiro, a estreita ligação de Tatiana Medeiros com o crime organizado, notadamente por intermédio de Alandilson Cardoso Passos, apontados pela Polícia Federal como integrante da facção criminosa e pessoa com quem é representada, ora paciente, possui relacionamento afetivo, negócios envolvendo troca de favores eleitorais, consistentes da aplicação de cifras vultosas com o financiamento da campanha eleitoral da candidata, em contrapartida de favorecimento político”, explicou.
Movimentação financeira entre os investigados
Além do mais de R$ 1 milhão investidos na campanha pelo então companheiro da vereadora, consta no relatório ainda que padrasto de Tatiana teria movimentado mais de R$ 9 milhões entre julho de 2023 e dezembro de 2024.
“Foi apontado o envolvimento de 44 contas bancárias, com movimentações realizadas entre julho de 2023 e dezembro de 2024. No período foram registrados 17.823 lançamentos, totalizando R$ 9.741.285 apenas das contas de Stênio, namorado da mãe de Tatiana. Foram movimentados [...] justamente no ano eleitoral, que também coincide com o mesmo período que Alandilson passou a se relacionar com Tatiana, houve um aumento substancial de crédito na conta de Stênio. Aumento cerca de 230%”, pontuou o juiz em sua leitura.
Intensa atividade de cooptação de eleitores e compra de votos via pix
A mando e ciência da vereadora, a compra de votos ocorria através de operações via Pix, no valor de R$ 100. Citado anteriormente, a ONG, mantida em boa parte com recursos públicos, era o palco de captação ilícita de eleitores, seja com a compra direta de votos, seja a contraprestação por meio serviços desenvolvidos, principalmente a familiares de crianças assistidas pelo instituto.
Inconsistência nas despesas declaradas
Outro ponto levantado na investigação e pautado pelo magistrado, foi a inconsistência dos gastos na campanha eleitoral de Tatiana Medeiros. O juiz José Maria de Araújo Costa cita o exemplo dos gastos com a publicidade de materiais impressos. “Foi descortinado mais de 46 mil reais para tal finalidade, sendo a declaração de gastos de campanha consignado 4 mil reais”, cita.
Cargos na CMT a pessoas ligadas ao esquema
A Polícia Federal cumpriu, nesta segunda-feira (14), três mandados judiciais em Teresina, como parte da investigação que apura a atuação de facções criminosas no processo eleitoral das Eleições Municipais de 2024. Foram cumpridas medidas de afastamento e proibição de acesso ou frequência às dependências da Câmara Municipal de Teresina, além da proibição de contato com outros servidores do órgão.
Os cargos de Assessor Especial da Presidência e duas assessorias parlamentares eram ocupados por pessoas relacionadas à vereadora Tatiana Medeiros que foi presa. As pessoas afastadas dos cargos, segundo apurado pela TV Antena 10, foram: Stênio Ferreira Santos, Edilene Sane Pinho de Melo e Dariele de Melo Pedreiras. “Designação de cargos na câmara de vereadores de pessoas diretamente relacionadas no esquema de captação ilícita de votos durante a campanha, o que detona a intenção de perpetuação atos desvirtuados no âmbito do mandato”, completa o magistrado.
TRE-PI mantém prisão preventiva da vereadora Tatiana Medeiros
O Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI) manteve a prisão preventiva da vereadora Tatiana Medeiros (PSB). A decisão foi proferida na tarde desta segunda-feira (14), durante sessão judiciária ordinária por videoconferência que discutiu e formou maioria contra o pedido de Habeas Corpus da investigada.
A decisão argumentou e levantou a possibilidade de fatos novos e obstrução na investigação em andamento em virtude do papel desempenhado no interior da organização criminosa, bem como os indícios apontados de que a campanha eleitoral da parlamentar foi custeada com recursos ilícitos oriundos de facção. Os votos contra o pedido de Habeas Corpus foram de 5 a 2.
Reprodução/ Youtube
Fonte: Portal A10+