Processos por erro médico crescem 506% em um ano e já são 203 por dia no Brasil - Política
ERRO MÉDICO

Processos por erro médico crescem 506% em um ano e já são 203 por dia no Brasil

Apenas em 2024, país registrou 74.358 ações relacionadas a danos morais ou materiais, frente a 12.268 do ano anterior


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Em um ano, o número de processos judiciais por “erro médico” em sistemas públicos e particulares de saúde aumentou 506% no Brasil. Os dados são do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e se referem a 2023 e 2024, período que o país registrou 12.268 e 74.358 ações sobre o tema, respectivamente. Os processos são relacionados a danos morais ou materiais, termos que passaram a ser usados pelo sistema judiciário em problemas decorrentes da prestação de serviços de saúde.

Em 2024, apenas no sistema público, as ações por danos morais chegaram a 10.881, e por questões materiais, a 5.854. No serviço particular, os números quase triplicam, com 40.851 e 16.772, respectivamente. Comparado ao ano anterior, os valores cresceram pelo menos seis vezes. Em média, no ano passado foram ao menos 203 processos registrados por dia.

  
Processos são por danos morais ou materiais
Tony Winston/Agência Saúde-DF
 
 
 

Globalmente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que um a cada dez pacientes sofra danos em cuidados de saúde e 3 milhões de pessoas morram anualmente devido a cuidados inseguros. Entre fatores, estão erros de medicamentos, cirúrgicos e de diagnóstico, além de infecções associadas a cuidados de saúde e outros. Mais de 50% dos danos são evitáveis, e metade deles é atribuído aos medicamentos, informou a organização.

No Brasil, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar estima que seis mortes foram registradas a cada hora em hospitais públicos e particulares do país por erros em 2017, último ano que uma pesquisa do gênero foi realizada. Em números absolutos, naquele ano foram 235.127 mortes associadas a eventos adversos de qualquer natureza, ocasionados por erros, falhas assistenciais, processuais, ou infecções, entre outros fatores.

“Aproximadamente 30 a 36% dos óbitos determinados por eventos adversos graves podem ser prevenidos. Estabelecer políticas e programas de segurança do paciente com direcionamento para as populações de maior risco e eventos adversos graves mais prevalentes contribui para a maior efetividade destes programas, redução do sofrimento das pessoas, redução dos custos assistenciais e aumento na disponibilidade de leitos hospitalares”, diz o estudo.

Para o especialista em direito do consumidor e saúde Stefano Ribeiro Ferri, o aumento nas ações judiciais por erro médico pode ser explicado por uma combinação de fatores, e não necessariamente pelo crescimento proporcional de erros na prática médica. Entre os motivos, Ferri cita maior acesso à informação e conscientização dos pacientes, judicialização da saúde, piora nas condições de trabalho dos profissionais de saúde e aumento expressivo no número de faculdades de medicina no Brasil.

“Nos últimos anos, houve uma grande expansão desses cursos [de medicina], muitas vezes sem a infraestrutura adequada para a formação de profissionais qualificados. A falta de hospitais-escola estruturados, a deficiência na formação prática e a ausência de um acompanhamento rigoroso na qualidade do ensino podem resultar na formação de médicos menos preparados para lidar com casos complexos, aumentando o risco de falhas no atendimento e, consequentemente, a judicialização por erro médico”, completou.

Casos no Brasil

Em Minas Gerais, um idoso de 69 anos morreu em agosto do ano passado após receber a dosagem errada de um medicamento para quimioterapia em um hospital particular. Segundo a família da vítima, Nilton Carlos Araújo recebeu, em uma única sessão, a dose que deveria ser aplicado ao longo de um mês.

Em dezembro, o enfermeiro e a médica responsável pelo tratamento do idoso foram indiciados pela Polícia Civil. De acordo com as investigações, “foram aplicadas quatro injeções, totalizando 8,78 mg do remédio, enquanto a prescrição médica indicava apenas 2,29 mg”. A corporação disse que “o profissional ignorou as identificações individuais das seringas, que estavam destinadas a outros pacientes”.Na época, os policiais concluíram que o enfermeiro e a médica agiram com dolo eventual. Ambos assumiram o risco de causar a morte ao optar por não agir, mesmo tendo plenas condições de tentar evitar a morte do paciente.

Em outra situação, após uma reportagem do Domingo Espetacular, o cirurgião plástico Marcelo Evandro dos Santos foi indiciado por lesão corporal ao ser acusado de mutilar e deformar uma paciente. O médico, famoso nas redes socais, é denunciado por erros cometidos em procedimentos conhecidos como “x-tudo”, em que várias cirurgias são feitas ao mesmo tempo.

Fonte: Agência Brasil


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